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Protecção das crianças nas redes sociais

Por admin

O jornal domingo traz como artigo de fundo nesta edição, nas suas páginas 19 a 23, uma reportagem sobre crianças e adolescentes que estão expostos às redes sociais no país. Assunto polémico de abordar tendo em conta a diversidade de opiniões que existem à sua volta. Falámos com pais e encarregados de educação, com as próprias crianças que usam essas tecnologias, com os professores e outros usuários e encontramos uma total divergência de opiniões.

A nossa perspectiva é de que as crianças devem ser protegidas de toda e qualquer exposição que lhes coloquem em perigo nas redes sociais, sobretudo em segmentos que exploram relacionamentos e conteúdos para adultos.

Três direitos fundamentais da Declaração dos Direitos da Criança corroboram a nossa perspectiva, nomeadamente: (1) todas as crianças têm o direito à vida e à liberdade; (2) todas as crianças devem ser protegidas da violência doméstica; (3) todas as crianças devem ser protegidas pela família e pela sociedade; (4) todas as crianças têm direito ao amor e à compreensão dos pais e da sociedade.

Como referimos no nosso artigo de fundo do jornal, hoje em dia, todos têm acesso a tudo praticamente em tempo real, o mesmo acontece com conversas on-line. Na internet, temos acesso a praticamente tudo: informação imediata, cultura, entretenimento diversificado, conteúdos destinados ao público adulto, enfim, inúmeros segmentos. E como é óbvio, as redes sociais também reinam em Moçambique nestes vários segmentos.

Mas, há que referir que nem sempre a liberdade de percorrer caminhos diferenciados na internet, com segurança, realizando pesquisas, explorando conteúdos, acedendo a sites de relacionamentos, trabalhando na rede, entre outras tantas actividades que a internet oferece, é usada para melhores fins.

Existe gente má que anda por ali com intenções predadoras. Como as redes sociais são também usadas por crianças, há “lobos maus” caçando-as por todo o lado. Esses “lobos maus” são os pedófilos.

No nosso país, o problema se agudiza pelo facto de, muitas vezes, as crianças serem entregues, à sua sorte, pois os pais andam ocupados com “outras coisas da vida”. Aí, as crianças, na sua ingenuidade, própria da idade, podem cair nas mãos destes predadores e tudo terminar mal.

Por isso, defendemos que as crianças e adolescentes precisam de ser ensinadas formas seguras de uso da internet e serem orientadas a evitar meter-se em situações de violência on-line como humilhações, intimidações, chantagem, tentativa de violência sexual ou exposição forçada a fotos ou a filmes sensuais.

É que a internet é um mundo de bons e maus. Sabe-se que os sites de relacionamentos, sobretudo entre adultos, estão entre os grandes vilões. E há crianças e adolescentes que acedem ou podem aceder a esses sites. Aqui, muitos perfis falsos são criados com uma única finalidade: enganar. Muitas pessoas estão especializadas em aplicar golpes através da internet, e muitos destes golpes ocorrem pela ingenuidade da vítima.

Os farsantes acabam criando vínculo com a suposta vítima e assim, conseguem além de roubar, muitas vezes até cometer crimes sexuais, e pior do que isso, assassinatos. Aqui citamos um caso que se deu na zona do Grande Maputo, nos meados do ano passado, em que uma adolescente conheceu um “namorado” via Facebook. Marcaram um encontro e ela foi ter com ele.

No dia seguinte, apareceu morta próxima da sua casa, com fortes indícios de antes de matá-la terem-na violado. Na altura, a Polícia chamou atenção para a necessidade de os pais estarem atentos a essas situações, pois muitas vezes as vítimas agem ingenuamente sem conhecer os perigos que correm.

Se para os adultos, a internet pode oferecer vários riscos, pensando, então, nas crianças, o risco aumenta ainda mais. Já faz tempo que as reportagens comentam sobre os crimes da internet, muitos deles ligados à pedofilia. Os pedófilos costumam usar sites de relacionamento para procurar as suas novas vítimas. Muitos deles se passam por crianças da mesma idade até chegar onde eles pretendem. Sites de pedofilia também são rotineiros, cada dia mais são descobertas novas páginas desse tipo de conteúdo.

É por isso que nos países mais desenvolvidos, o tema sobre segurança no mundo virtual começa desde pequeno, como matéria de sala de aula ou mesmo em forma de palestras e grupos de discussão. Temos que lembrar que se hoje a internet já é fundamental na nossa vida, daqui alguns anos ela será indispensável e todos estarão nela ligados.

Assim, pensamos que ensinar a lidar com a internet e seus males precisa de começar na infância, seja na escola ou em casa mesmo. Nós, adultos, precisamos de nos reeducar nesta matéria. Precisamos de estar sempre atentos aos acontecimentos e às pessoas que nos rodeiam na rede. As crianças precisam de ser educadas a saber lidar com essa tão preciosa arma. É nosso dever defendê-las e protegê-las como indicam os direitos da criança que acima citamos.

Nestes casos, os pais são aconselhados a manterem o computador num lugar em que possam ver o que as crianças estão a ver e/ou a fazer. São aconselhados a conversar bastante com os seus filhos, explicando às crianças os assuntos que lhes despertam interesse. Assim, elas não terão curiosidade em procurar na internet esse tipo de assuntos.

Pensamos que os pais devem também limitar os horários de acesso à internet às crianças e incentivar o uso da internet para pesquisas, estudo e aprendizagem de matérias escolares.

Como referia um encarregado de educação por nós contactado para nos falar sobre o assunto, “é preciso haver coragem de inspeccionar a forma como os nossos filhos usam os telefones. Pessoalmente, faço isso, e já mandei o meu filho apagar uma imagem despudorada do telemóvel”.

Na mesma reportagem, um professor disse o seguinte: “…a melhor saída por enquanto é essa, vigiar o que as crianças e adolescentes estão a fazer na internet, pois, na menor distracção por parte do educador, os alunos passam grande parte do tempo pesquisando para além de imagens sensuais, vida dos artistas e estão quase sempre de auriculares”.

E, por isso, avisa: “estamos a formar uma geração de surdos; em casa escuta música em som alto, no chapa a caminho da escola, também; nos intervalos estão sempre de auriculares. É preocupante”.

Reconhece a necessidade de fortificar o pulso para fazer com que os filhos tenham um bom aproveitamento escolar. “Tenho um filho de 15 anos. Tem conta no Facebook, o seu rendimento na escola caiu. Chego a pensar que seja por causa dessa rede social”. Por esse motivo, não apoia a adesão do seu educando. “Esse campo de amizade devia ser utilizado somente por pessoas maduras”, defende.

Durante a reportagem, domingo soube de casos de pais que surpreendem os seus filhos menores a altas horas da noite “teclando” nas redes sociais ou através do celular ou via computador. Não se dorme porque estas ligações são fascinantes para as crianças. Passam horas e horas no olho mágico, “chatando” com amigos virtuais e perdem horas para actividades mais úteis, como rever as matérias e estudar. Muitas vezes utilizam telefones celulares dos próprios pais sem qualquer consentimento destes, que só se espantam quando olham para a alta conta do celular por pagar ou para o crédito do celular esvaziado.

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