Início » PERCA DAS EXPECTATIVAS DE CHEGAR AO PODER EXPLICA A MUSCULAÇÃO BELICISTA DA RENAMO

PERCA DAS EXPECTATIVAS DE CHEGAR AO PODER EXPLICA A MUSCULAÇÃO BELICISTA DA RENAMO

Por admin

À medida que se aproximava o dia 4 de Outubro em que os moçambicanos assinalaram o 21º aniversário do Acordo de Roma, que determinou o fim da guerra que devastou Moçambique durante 16 anos até 1992, muitos deles multiplicaram as suas interrogações sobre o que terá acontecido de errado para que a Renamo voltasse a ensaiar a sua musculatura belicista como o tem feito nos últimos meses.       

             Neste artigo, irei tentar dar uma resposta, baseando-me mais na ciência política, mormente na conceptualização analítica de Hans Morganthau, um grande cientista político alemão-americano, mais em torno do que ele chama de impacto ou efeito do fracasso das expectativas, em que vinca que quando as expectativas de alguém não são correspondidas, ocorre logo uma frustração, e que, caso a não realização dessas suas expectativas dure por muito tempo, o frustrado passa ao estado da ira ou odeio contra a pessoa ou entidade que encara como responsável por essa não concretização das suas expectativas, e que no caso dessa não correspondência dar sinais de se tornar irreversível, aí já o frustrado desemboca na violência.

           Esta fase de odeio como catalisadora da violência é, a meu ver, a que está a Renamo neste momento, pelo menos no que tange a alguns dos seus dirigentes, como o próprio Afonso Dhlakama, e vários outros que gravitam à sua volta, como Fernando Mazanga, só para citar os que mais se evidenciam. É claro que há muitos mais que detestam todos os que possam se apresentar como frelimistas, porque já não os encaram como rivais políticos, mas como inimigos.

            Para se ver que estão fortemente assanhados, ou repossuídos pela ira e odeio, basta ver o semblante das suas faces nos ecrãs dos televisores quando fazem intervenções, principalmente quando estão em debates políticos. As últimas vezes que vi Mazanga em alguns debates, cheguei a pensar que iria explodir. Quem esteja em dúvida do que aqui digo, que peça a TOP TV, por exemplo, as cópias de alguns desses debates que verá que não estou a exagerar.

          Nesses debates, fica mais do que claro que estão mais do que zangados. A prova de que perderam a esperança está na sua opção de não mais participar nas eleições, disfarçada, como sempre, com a sua desculpa tradicional de maus pagadores, de que não há condições políticas e de exigirem uma paridade na CNE que a ser aceite lhes daria um poder de vetar todas as deliberações que lhes fossem desfavoráveis.

AS VITÓRIAS ESMAGADORAS DA FRELIMO ESFUMARAM AS EXPECTATIVAS DA RENAMO

                A perca dessas expectativas ou esperança de dias melhores começou a ocorrer ou, a ganhar mais corpo e intensidade, a partir do momento em que a Frelimo passou a ter vitórias eleitorais mais expressivas ou esmagadoras, principalmente nas gerais de 2004, que resultaram na eleição folgada, mas surpreendente para a Renamo, de Armando Guebuza, como terceiro Presidente de Moçambique, em que a Perdiz viu a sua bancada parlamentar que formou em coligação com vários partidos, reduzida de 117 deputados que haviam sido eleitos em 1999, para apenas 90, contra 160 da Frelimo.

             Há que notar que nas primeiras de 1994, a Renamo teve 112 deputados contra 129 da Frelimo, o que, obviamente, teria alimentado muitas expectativas aos renamistas e à sua liderança.   

                Mas o que veio matar de vez as expectativas da Renamo e todos os que gravitavam à sua volta, e induzir neles o tal odeio pela Frelimo que agora está degenerando na violência, foi nas gerais da 2009, em que a Frelimo elegeu 191 deputados, contra apenas 51 da Renamo e 8 do MDM. Nestas mesmas eleições Armando Guebuza conseguiu uma reeleição ainda mais folgada que a de 2004. Esta perca em massa de assentos foi tão chocante que levou Dhlakama a ordenar aos seus 51 deputados a não tomarem posse, alegando que tinha havido fraude. Só que, eles desobedeceram-no e foram tomando posse um atrás do outro.

            Na verdade, os resultados das últimas duas últimas eleições, especialmente as de 2009, atiraram num ápice para o desespero de muitos dos deputados da Renamo que não conseguiram a reeleição, pior para aqueles que tinham esta função parlamentar, como sendo o seu único ganha-pão, do mesmo modo que matou as expectativas dos que estavam a concorrer pela primeira vez, e que viram as suas expectativas de ter também terem um bom ganha-pão esfumadas. É preciso notar que os salários na AR não são nada irrisórios, para não falar de um rol de outras regalias que concorrem para que ser deputado seja uma das ambições de alguns políticos.  

              Ora, não terem conseguido renovar ou a eleição é muito frustrante para qualquer ser humano e, para quem se acha munido de outros meios para conseguir o que pela via legal não está a conseguir, pode ser tentado a optar pelo seu uso, porque o que conta são os fins. É o que, a meu ver, a Renamo está a ensaiar a partir do momento que o seu líder voltou a se instalar nas matas de Santunjira.

           É preciso notar ainda que a redução drástica dos seus deputados, reduziu drasticamente também o valor monetário que agora é canalizado à Renamo pelo Tesouro moçambicano, porque é proporcional ao número de deputados que cada partido tem no Parlamento.

          Os que estão dentro do esquema dizem que neste momento, a Renamo recebe do Tesouro, pouco mais de três milhões de meticais pelos 51 deputados que tem agora. Este valor é dado a Renamo directamente, para além dos salários que são pagos directamente a eles como tal. Como se pode ver, este valor pode ser muito pouco para uma formação política que já teve 117 deputados. Tudo isto mostra claramente que estes resultados eleitorais de 2004 e 2009, causaram choques eléctricos nas hostes da Perdiz e em todos aqueles que ainda perfilhavam em torno desta ave indomesticável como é indomesticável é esta mesma Renamo criada pelos então regimes racistas de Ian Smith, na então Rodésia do Sul e do apartheid na Africa do Sul.

A RENAMO TEM ESTADO A TENTAR FORÇAR O GOVERNO A DAR-LHE MAIS DINHEIRO

                O que me leva a concluir que o único problema que leva a Renamo agora a sacudir de novo o seu machado de guerra, é que na carta que endereçou ao Governo em Abril deste ano, solicitava uma audiência que agora se transformou num Dialogo prolongado, contém um capítulo designado Questões Económicas, em que está tão claro mesmo para os leigos, que o que nela se exige é que Guebuza dê mais dinheiro à Renamo.

                Nela queixa-se em como o que lhe tem sido dado não lhe permite que se transforme dum movimento militar para partido político. Nesse parágrafo, não se faz menção dos milhões que a Renamo recebeu e esbanjou, como os 300 mil dólares mensais que as Nações Unidas deram a Dhlakama entre 1992 a 1994, nem mesmo os centos de milhões que recebeu do Tesouro moçambicano quando tinha mais de 120 deputados. Fazer tudo para que volte a receber mais dinheiro, é a questão central que impera o Diálogo entre as duas partes.

               O que mostra que a Renano não queria sequer que perdesse tempo em reuniões do tipo das que tem tido lugar agora é o facto de se ter recusado que a audiência fosse no luxuoso Hotel Indy Village, alegando ser um restaurante indecente, ao mesmo tempo que recusou que fosse no Ministério da Agricultura, dizendo que era ninho do chefe da Delegação do Governo, José Pacheco, para depois aceitar o Centro de Conferencias Joaquim Chissano, que é uma instituição tão do governo como aquele ministério.

           Na verdade, a Renano está neste diálogo a queimar tempo para ver se o Governo acabará cedendo, e dar-lhes o que de facto quer, dai que alega agora que os seus peritos militares não vêm a Maputo por razões logísticas, quando há uns dois meses levou para a mesma Santunjira mais de 300 delegados que foram lá se reunir com o seu líder.

          Tudo isto que acabo de resumir mostra e prova que todas estas alegações são para ganhar tempo, até que o Governo moçambicano assuma a mesma lógica ou algo parecido que o MPLA adoptou para Angola, em que para ganhar o apego eterno à paz dos dirigentes da UNITA, teve que lhes dar alguns cargos governamentais, ao mesmo tempo que se passou a se pagar salários chorudos para os que integraram o Parlamento, a tal ponto que já eram os próprios unitas que tanto se diziam amantes da democracia, que já nem queriam sequer ouvir mais falar-se de mais nova eleições no País, porque temiam que fossem perder os seus assentos.

 

Você pode também gostar de:

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana