O repúdio aos últimos acontecimentos protagonizados por homens armados da Renamo esta semana no distrito de Chibabava e na região de Savane, no distrito de Dondo (neste último que se
traduziram no assalto a um paiol das Forças Armadas de Defesa de Moçambique –FADM e roubo de armas) marcou os diferentes momentos de interacção entre o Presidente da República (PR), Armando Guebuza, e a população dos cinco distritos da província do Niassa por si visitados no âmbito da Presidência Aberta e Inclusiva que hoje termina.
Visivelmente indignada, a população dos diferentes pontos escalados pelo Presidente Guebuza expressou por via de cânticos e mensagens, apelos reiterados do “não ao retorno à guerra”, sublinhando a necessidade de se continuar permanentemente a cultivar o espírito de unidade nacional, paz e o recurso ao diálogo para resolver as diferenças entre os diferentes actores na sociedade moçambicana.
O povo não esconde que se sente assustado com o espectro de insegurança que, de algum tempo a esta parte, paira no país, sobretudo depois das ameaças veladas pela liderança da Renamo e dos actos de violência que têm sido protagonizados pelos homens armados ligados a esta formação política, curiosamente com assento Parlamentar.
Na consciência da população está mais do que presente a ideia de que a guerra ou qualquer outra forma de violência, numa altura destas, pode contribuir negativamente para, a curto e médio prazos, o retrocesso socio-económico do país e retracção significativa dos investimentos, num período em que Moçambique vai de vento em pompa nesta matéria.
É assim que alguns elementos da população não hesitaram em classificar os actos perpetrados pelos “homens armados da Renamo” de autênticas acções de “banditismo armado” e que os envolvidos deveriam ser responsabilizados criminalmente. Tanto aqueles que os perpetram, bem como aos que “os incitam publicamente”, tal como foi o caso do secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, e mais recentemente do deputado da Renamo, Jerónimo Malagueta, que chegou a ser detido para averiguações pelas autoridades policiais.
VIOLÊNCIA NÃO AJUDA A CONSTRUIR O PAÍS
Reagindo ao clamor da população, o Presidente Armando Guebuza disse que todo o esforço que o Governo e a própria população moçambicana devem fazer todos os dias deve ser no sentido de valorizar as várias conquistas até aqui alcançadas com destaque para três fundamentais: a unidade nacional, a independência e a paz.
Dirigindo-se à parte da população da cidade de Lichinga que se concentrou no bairro Inzinge, o Chefe do Estado, Armando Guebuza, chamou atenção para o facto de que o continuo desenvolvimento do país passa necessariamente pelo reforço da unidade entre os moçambicanos do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Indico.
Segundo Guebuza, a diversidade cultural e linguística que caracteriza Moçambique não deve ser vista como um elemento pernicioso à consolidação da unidade e da identidade nacional mas, pelo contrário, como um factor aglutinador dos moçambicanos e sobretudo percebida como uma riqueza que precisa de ser bem explorada e “formar uma força maior que irá permitir criar as condições para o bem-estar de todos moçambicanos”.
Reagindo explicitamente aos últimos acontecimentos perpetrados pelos homens da Renamo em Savane e Chibabva, na província de Sofala, Guebuza disse que estes actos de violência são contrários ao desejo e espírito de paz e unidade prevalecentes no país porque os moçambicanos já não querem a guerra.
“Os moçambicanos não querem ver sangue dos seus compatriotas a ser derramado aqui no país. Por isso, não aceitamos que hajam pessoas que gostem de ver os moçambicanos a morrerem ou a derramarem o seu sangue na sequência deste tipo de actos dos homens da Renamo”, disse Guebuza .
O Chefe do Estado fez questão de dizer naquele mesmo comício que aqueles actos foram perpetrados por homens da Renamo e que são a todos títulos condenáveis, porque “se há diferenças, e é natural que hajam, temos que continuar a dialogar na nossa sociedade para que cada um de nós apresente o seu ponto de vista para continuarmos a construir este nosso país sem derramamento de sangue dos nossos compatriotas”.
“Por isso, nós condenamos este tipo de ataques contra cidadãos e mesmo quando estes sejam militares, tal como aconteceu em Muxungué e Savane, porque este país em que vivemos e herdamos dos nossos antepassados é um destino comum dos moçambicanos. Todos somos chamados a participar na construção do nosso país”, disse Guebuza.
No entanto, o Chefe do Estado acrescentou que o Governo moçambicano procurará mostrar, sempre através do diálogo, a necessidade dos moçambicanos continuarem a trabalhar juntos para a construção e desenvolvimento do seu país “e não pela via do derramamento de sangue que não sabemos para a satisfação de quem”.
“Nós estamos a assistir agora que às vezes a Renamo vai a um sítio e dispara para matar as pessoas e até propriedades. Aconteceu isso em Muxungwé e em Dondo (o comício foi antes dos ataques de Chibabava). Mas ao conquistarmos a independência e a paz foi para vivermos em harmonia”, disse Guebuza perante a população de Iataria, no distrito de Mecanhelas.
Entre fortes e enérgicos apelos de “abaixo à violência”, o Presidente comprometeu-se a continuar a promover o diálogo como veículo fundamental para o estabelecimento da concórdia e, por via disso, ambiente propício para a construção e desenvolvimento de Moçambique, embora isso deva ser reforçado “por mais vigilância para que se mantenha o clima de paz, tranquilidade e ordem pública e prosseguirmos com a nossa luta contra a pobreza”.
Aliás, em Nungo, distrito de Marrupa, o Presidente da República voltou a colocar acento tónico na necessidade de se valorizar a paz e lembrou aos mais velhos a importância desta conquista, porque sem ela “seria impossível deslocarmo-nos para este local sem necessitar de uma coluna militar. Não seria possível sair de Nungo para a vila sede de Marrupa sem companhia das forças de defesa e segurança, estávamos sempre inseguros se chegaríamos ao destino em segurança ou não, não seria possível ir à escola, mesmo doentes não podíamos ir ao hospital”, afirmou.