Seu pai foi jornalista. Seu irmão também. Até que ponto seu pai e irmão o influenciaram?
Achava que o jornalismo era uma escrita e desde cedo tive paixão pelas letras. Desde sempre quis escrever.
Fui uma criança muito tímida, que não sabia como viver, como existir. E a escrita era como uma transferência de vida. No papel eu metia o meu mundo…
Quantos anos tinha?
Era menor. Tinha 18 anos. Cresci como pessoa. Descobri a vida e gostei muito de ser jornalista. Infelizmente fiquei logo diretor. Queria ser repórter, andar na rua…
Que leitura faz do jornalismo feito actualmente em Moçambique?
Corro o risco de não estar a ser simpático. Acho que a qualidade do jornalismo decaiu muito em Moçambique e no mundo, em geral.
Para falar no caso de Moçambique, primeiro de uma maneira sumária, existem órgãos de informação que não deviam ser chamados de jornais, mas deviam assumir uma condição de panfleto.
E os chamados analistas ocupam páginas inteiras de jornais. Foi roubada a grande vocação do jornalismo que é: produzir informação, notícias de maneira que se forneça ao leitor a possibilidade de ele fazer o seu próprio juízo.
Neste processo há muita infestação …
Entrega-se ao leitor aquilo que já foi pensado, moralizado, classificado. E o leitor é tratado como se fosse uma entidade pouco inteligente porque alguém já pensou por ele. Faz falta a grande reportagem. Vocês sabem isso e devem sofrer como eu. Não há dinheiro, espaço para acarinhar aquilo que são os grandes géneros de jornalismo que são a investigação, a pesquisa.
Indo directo ao assunto:Mia Couto acha que a qualidade do nosso jornalismo deixa muito a desejar?
Sem dúvidas. É isso é um fenómeno universal. Vejo a informação produzida pelo mundo. Quer seja imprensa escrita, quer televisão, rádio, há uma enorme redução da qualidade, um certo desvio para uma coisa que é mais expressamente política, ideológica…