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Já temos um grupo muito competitivo

Por admin

– Abel Xavier, analisando o momento da Selecção Nacional de Futebol

O Seleccionador Nacional de Futebol, Abel Xavier, traça um cenário promissor dos “Mambas” nas eliminatórias que se avizinham para o CAN Camarões 2019 e CHAN Quénia 2018. Depois dos jogos amigáveis com Angola e Lesotho, o técnico assume que já logrou construir um grupo competitivo com cerca de 60 jogadores seleccionáveis.

Em entrevista ao domingo, Abel Xavier falou sem tabus do momento dos “Mambas”, do recrutamento de novos jogadores e desparecimento doutros na equipa nacional, bem como das possibilidades de renovação do seu contrato com a Federação Moçambicana de Futebol.

Que avaliação faz da prestação da selecção nacional nos jogos com Angola e Lesotho?

Foram dois jogos disputados dentro da continuidade que nós pretendemos com objectivo de aumentar os índices competitivos da nossa equipa, penso que os resultados de duas vitórias conseguidos são consequência do trabalho que temos estado a fazer. Num passado recente é factual que não nos preparávamos convenientemente por força de várias limitações, ou talvez dum pensamento diferente. O que é marcante é haver um investimento em relação ao presente para podermos ter uma equipa mais competitiva nas competições especificas para o apuramento. Penso que a equipa tem dado indicadores crescentes. Temos na nossa base de dados cerca de 65 jogadores seleccionáveis, e desses cerca de 40 porcento tem uma idade entre 19 e 23 anos, o que é muito importante para o futuro. Temos recebido, de vários jogadores moçambicanos no estrangeiro, manifestação de interesse de estarem presentes na selecção, e quando alguns jogos de preparação nos dão oportunidade, trazemo-los para aferir presencialmente o que nos podem acrescentar.

Gostou do nível de exibição dos jogadores?

Posso assumidamente dizer que temos um grupo extremamente competitivo, considerando outras opções de alguns jogadores, porque não há lugar para todos. Alguns jogadores tem continuidade e estiveram lesionados, estes é que me preocupam. Dentro desses problemas talvez ainda não tenha tido a convocatória ideal, mas por outro lado, houve abertura para puder descobrir outros mais. Prefiro dizer que os indicadores continuam a ser positivos, penso que aquela pedra que muitas vezes materializa as coisas obviamente são os resultados, mas são consequência. Dentro do próprio jogo, pode-se ganhar trabalhando mal, mas acredito que trabalhando bem e em continuidade, com uma direcção em que os jogadores entendem perfeitamente dos seus deveres e obrigações dentro dum grupo de trabalho, a equipa só pode crescer no nível competitivo e ter a coragem de jogar com qualquer adversário, que é também um aspecto que tem sido marcante. Temos jogado dentro do mesmo modelo de jogo, pretendendo ter domínio do jogo, ter posicionamento mais subido territorialmente em campo, penso que esse estigma talvez que existia no passado de uma equipa mais passiva do que activa, temos conseguido alterar, o que dá um grau de confiança de a equipa poder competir, dá garantias, apesar de termos adversários também de elevada qualidade.

Esse processo de scouting é para continuar? Está satisfeito com as soluções que tem encontrado?

O tempo é de facto um problema a nível de selecções porque o que ambiciono era poder ter estágios pré-competitivos, porque há problemas que identifico nos jogadores e que muitas vezes não são possíveis também solucionar nos clubes porque também tem seus problemas, por causa das questões estruturais, ambientais, relvas sintéticas. Todos internacionais que trabalham em condições melhores saem mais valorizados, porque possivelmente atingem índices físicos, tácticos, de inteligência vantajosos, o que não significa que os que trabalham internamente pelo seu lado competitivo, não possamos fazer os equilíbrios, e é propriamente isso que temos vindo a fazer. O estigma de défice competitivo que existia no jogador moçambicano está a ser drasticamente atenuado pela implementação das nossas metodologias, conceitos, do nosso modelo de jogo. Em muitos sectores questionava-se a idoneidade de saber estar e ser no espaço da selecção nacional, onde a liderança e as responsabilidades estavam comprometidas, penso que neste momento, com a estrutura e espaços bem demarcados, só podemos cuidar do jogador para pudermos exigir. O espaço da selecção nacional é de identidade própria em que o jogador tem de ser espelho da sociedade, e nesse aspecto não falamos só de futebol. No fim sabemos que o que vai contar são os resultados. Tenho clara a relação entre tempo, espaço, processos, materialização e resultado.

Se dividirmos a equipa em sectores, há aqueles que lhe deixam mais tranquilo?

Prefiro falar de forma genérica. Sabemos em que posições temos que formar, daí dizer que não podemos projectar o pensamento pelo tecto da casa, mas pelas bases, pelas fundações, há determinados jogadores que temos de ir buscar com certa idade. É um processo normal, não é cortar, não excluo ninguém. Algumas equipas vão buscar estrangeiros para certas posições e isso afecta a selecção nacional. Olhamos para o espaço internacional e buscamos alternativas para aumentar o índice competitivo interno dos jogadores, há posições que temos garantias em quantidade e qualidade e outras não. Temos que buscar o equilíbrio.LESÕES PREOCUPAM

 

Concorda com aqueles que pensam que a equipa não concretiza ao nível das oportunidades que cria?

O trabalho de selecção são oito, nove dias, data-FIFA.  Se gostaria de ter mais tempo para trabalhar determinadas áreas que identifico como problema, eu gostaria de ter esse tempo. Se estamos fora percebemos que as equipas tem volume de jogo, criam oportunidades, e no último terço não concretizam, é porque existe um problema. Mas pode ser um problema do espaço de treino que pode provocar desequilíbrios na tomada de decisão. Há também um espaço que pode ter passado despercebido. O jogador moçambicano, muitas vezes, desconcentra-se com o aspecto fonético dos adeptos. Distrai-se do foco, então temos que direccionar o trabalho para que ele supere isso. É um facto que o ultimo terço está identificado, penso que melhoramos muito a percentagem da relação entre as oportunidades criadas e as concretizadas. Prefiro ter três grandes ocasiões e marcar dois golos do que dez oportunidades e marcar um. Há equipas com menos percentagem de bola e ganham o jogo por sua eficácia. Estamos atentos a movimentação dos jogadores no último terço e no período de decisão. Estamos a fazer esse trabalho

O que se passa com jogadores como Simão Mathe Jr., Mexer, Ricardo Campos…

Ainda não tive oportunidade de convocar os jogadores que tenho na cabeça por vários motivos. Se um jogador não tem clube, está na condição de inactivo. Simão Mathe é um jogador importante, é moçambicano, manifestou vontade de regressar a selecção nacional e regressou, e ficou numa posição de não inclusão. Mexer é um dos jogadores pilares da nossa selecção e tem tido uma sequência de lesões. Entre os problemas há oportunidades para outros. Temos Gildo, Geraldo, Witness que estão lesionados.

Vejo que tem ideias da convocatória que vai fazer para os jogos oficiais com Madagáscar e Zâmbia, em Junho.

São competições distintas. A eliminatória contra Madagascar queremos passar e a nossa base de dados de jogadores nacionais é mais alargada que a internacional e dá-nos garantias de trabalhar uma equipa no mesmo processo de continuidade. Em relação ao jogo da Zâmbia, conta por ser o primeiro. Queremos competir pelo primeiro lugar no grupo num cenário de grande adversidade e existe a carga do passado. A responsabilidade intrínseca é lutar pelo primeiro lugar com os outros dois integrantes, Guiné-Bissau e Namíbia. Espero não termos as lesões que temos tido. Neste momento o grupo é extremamente competitivo e antevejo que a relação factor casa e fora, que marcava os jogadores pela forma que se viajava, como éramos recebidos, estamos a trabalhar esse processo, sabendo cuidar dos jogadores para um serviço de interesse nacional. Existem situações que temos que melhorar.

Jogaram com Angola na Beira. Podemos ter um jogo de apuramento ao CAN 2019 em Sofala?

Quando cheguei e vi uma centralização de domínio, da clubite, face a selecção, em lideranças e relações comprometidas, conclui que obviamente não podíamos estar a falar de selecções nacionais. Não é uma crítica ao passado, é uma constatação, entendo que o facto de alargarmos, e valorizar o trabalho que se faz nas províncias, saímos todos valorizados. O simbolismo de termos ido a Sofala, ao campo do Ferroviário da Beira, valorizou-nos a todos. Todos ficamos contentes pelo que recebemos lá. Os clubes têm de fazer mais investimentos para nos receberem. Há requisitos, pedir sem meios é difícil. Outras selecções fizeram estas etapas com muito sucesso, é um momento de aglutinar, estamos a fazer a nossa parte.

Contrato termina em Outubro

Antes destes jogos falou-se da sua renovação. É altura de tomar-se uma decisão ou julga que haverá outra oportunidade?

Quando assumi este projecto de voltar à terra que me viu nascer como seleccionador nacional, depois dum estudo, entre oportunidade e vontade, através da pessoa Simango Jr., presidente da federação, eu disse o que me propunha a fazer e estou a fazer, estou a implantar, portanto não tenho mais provas a dar a ninguém. Nesse âmbito eu não negociei nada, não posso falar dos antigos seleccionadores nacionais, que contratos tinham porque não sei. Meu contrato termina em Outubro, a manifestação de intenção tem que ser com três meses de antecedência em relação ao término. Eu próprio disse ao presidente que num determinado momento, visto eu não ter discutido rigorosamente nada, avaliaríamos a situação mesmo que a federação tenha por motivos contratuais a prioridade de se expressar, eu também tenho opinião própria, isso é extremamente importante, uma moeda tem duas faces. Portanto, nada me dispersa da minha direcção e das minhas convicções neste projecto. Penso que por parte da federação, a criação de condições e garantias para a continua realização deste projecto é uma necessidade.

Porquê?

Porque o seleccionador nacional tem um planeamento de vários anos, porque o projecto assim o exige. O contrato termina em Outubro depois duma jornada oficiosa em Junho contra a Zâmbia, e o segundo jogo com a Namíbia será em Fevereiro. Penso que teremos que ser sérios ao abordar esta questão com naturalidade, com pensamento em relação ao futuro porque é extremamente importante para garantir a segurança de continuidade de que as coisas que estão a ser trabalhadas e a forma como estão a ser trabalhadas, é para continuar. Penso que no momento certo cabe ao presidente dizer uma palavra sobre esta matéria, mas eu também terei a minha palavra.

Vir do estrangeiro

não é garantia de jogar

Como é que os jogadores Ratifo e Malembana podem contribuir para este grupo?

Devemos considerar a necessidade antes de mais. Temos na zona central bons valores do presente, com experiência e estamos a preparar uma vaga futura, onde Malembana entra, porque as competições oficiais não podemos jogar com Sub 23, temos que jogar com equilíbrios, entre rendimento, juventude e experiência. Vamos jogar em cenários de elevada adverrsidade, podemos contar com jogadores como Zainadine Jr., Jeitoso, Mexer, Salomão, Malembana, Stélio e outros. Há jogadores neste momento na zona central da defesa, que nos dão garantias, partindo do pressuposto que temos duas competições distintas. Só nessa natureza temos que fazer alinhamentos diferenciados. No CHAN não poderei convocar jogadores no estrangeiro.

Mas convocou Malembana, veio da Alemanha e não jogou.

Quero esclarecer que neste processo de descoberta de novos jogadores, no panorama internacional, quem é convocado não tem que necessariamente jogar, porque o investimento numa convocatória dum jogador no estrangeiro, que pode acarretar mais custos, é um investimento na competitividade do nosso próprio grupo. Não podemos partir dum critério de desigualdade entre os jogadores que actuam em Moçambique e no estrangeiro. Vir da Alemanha ou outro país não é garantia de jogar. Dentro da preparação dum jogo podemos alimentar algum tipo de substituições e no decorrer do jogo ajustarmos nosso pensamento inicial. Malembana tem 21 anos, podia estar pronto para jogar mas também não podia estar pronto. Está dentro do espaço da selecção nacional.

Texto de Custódio Mugabe

custodio.mugabe@snoticicas.co.mz
 

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