A produção de hortícolas e legumes está a ganhar um novo fôlego um pouco por todo o país graças a um conjunto de investimentos que estão a ser levados a cabo pelo Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA). Pretende-se com isto inverter o actual cenário em que se importa tomate, cebola, batata, repolho, alho, pepino, cenoura, entre outros.
Para o efeito, estão em curso programas diversificados voltados para a disseminação da produção com sementes melhoradas e em estufas para pequenos produtores baseados no vale do rio Limpopo e nos distritos de Namaacha e Moamba, na província de Maputo.
Mahomed Valá, Director Nacional de Agricultura e Silvicultura, revelou ainda que para além da produção em agrícola em si, estão em curso obras de reabilitação e manutenção de alguns regadios localizados em Manjacaze, Chongoene, Manguiza, e Namaacha, todos situados nas províncias de Gaza e Maputo.
Por outro lado, e segundo a mesma fonte, está em carteira um projecto por via do qual se vai reabilitar um dos blocos do regadio da Moamba que, a funcionar em pleno, terá disponíveis cerca de 460 hectares.
De igual modo, foram concluídas as reabilitações de pequenos sistemas de regadios localizados nos distritos de Manica, Sossundenga e Vanduzi, na província de Manica, no âmbito de um programa denominado PROIRRI para além de acções diversificadas, mas orientadas para o mesmo fim que decorreram nas províncias de Tete, Zambézia, Nampula e Sofala.
“A ideia é criarmos condições para que na campanha que se avizinha (2017-2018) tenhamos todas as bases para o país começar a dar um salto importante na redução das importações de produtos alimentares básicos para os quais tem potencial agro-climático”, disse Valá.
Para o efeito, decorre até ao dia 15 de Abril próximo a entrega de sementes em diferentes pontos de Maputo, Gaza e Inhambane e, no caso de Inhambane, há um reforço que está a ser feito no quadro da minimização dos danos provocados pelo ciclone Dineo.
No mesmo âmbito, e segundo Mahomed Valá, foram realizados testes de capacidade de conservação hortícolas no Complexo Agro-Industrial de Chókwè, cujas câmaras frigoríficas passaram recentemente à gestão privada.
No que se refere ao regadio do Baixo Limpopo, a nossa Reportagem apurou que foram adquiridas câmaras para a conservação e limpeza de hortícolas e legumes e estabelecidas ligações entre produtores e agentes que participam na comercialização agrícola.
“Estamos a registar importantes avanços em todos estes domínios, mas deparámo-nos com um sobressalto que foi o aparecimento de uma praga conhecida por “Tuta Absoluta” que está a dizimar a cultura do tomate”, disse.Trata-se de uma praga que se propaga por via de um insecto que, numa fase embrionária, apresenta-se como uma borboleta e na fase adulta se transforma num gafanhoto que devora toda a planta, incluindo os frutos.
DESNUTRIÇÃO CRÓNICA PREOCUPA
Para além da reversão do quadro das importações, o MASA pretende que esta iniciativa sirva para combater a actual taxa de desnutrição crónica que se situa em 40 e 43 por cento da população moçambicana, afectando com realce a crianças dos zero aos cinco anos e mulheres grávidas.
Esta taxa é considerada alta quando comparada com o dos países da região e particularmente atendendo ao facto de Moçambique dispor de um elevado potencial agrícola para a produção dos mais variados e nutritivos bens alimentares.
Para Valá, a principal questão que se coloca no que tange à desnutrição crónica não é a falta de disponibilidade de alimentos, mas sim a prevalência de hábitos alimentares que restringem o leque de opções para as camadas mais vulneráveis.
Assim sendo, Mahomed Valá assume que um dos desafios do governo é resolver o problema da fome, desnutrição e pobreza através de uma alimentação adequada e equilibrada, facto que poderá ser alcançado por via da implementação do Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrário que reza que se deve velar para o aumento da produtividade.
“Focalizamos o desenvolvimento em duas vertentes, nomeadamente na intensificação e diversificação da alimentação. Não é possível ter um povo saudável e bem alimentado só com caracata (farinha de mandioca) e folhas de abóbora”, sublinhou Valá.
As análises feitas pelo MASA indicam que as províncias de Cabo Delgado, Nampula e Zambézia têm índices altos de desnutrição crónica apesar de apresentarem bons níveis de produção agrícola. “À partida é possível perceber que não é um problema de disponibilidade nem de acesso a alimentos, mas sim de adequação alimentar e da forma como os alimentos são confeccionados”.
RESGATAR CULTURAS TRADICIONAIS
Outro objectivo do Programa de Produção de Hortícolas é o resgate e massificação da lavra de produtos considerados tradicionais, tal é o caso de amaranthus (conhecida na zona sul por tseke) que é uma das hortícolas mais ricas em ferro. Conforme estudos recentes, esta cultura está a ser consumida de forma crescente em vários países africanos e asiáticos.
Outra cultura rica em ferro, que é consumida em todo o país, é a folha de mandioqueira, conhecida na zona sul como Matapa. “Não precisamos promover o consumo da Matapa. Entretanto, temos que promover a massificação do amaranthus. Não estamos só a pensar nesta cultura, a ideia é resgatar todo o produto com vitaminas e minerais, como aconteceu há alguns anos com a fruta maphilwa”, sublinhou Mahomed Valá.
Aliás, recentemente, o Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, disse que a tseke tem sido muito procurado na Europa, Estados Unidos da América e Ásia devido aos impactos que tem na vida humana e na nutrição e, por isso, a sua produção e valorização pode ser mais uma fonte de rendimento.
Naquela ocasião, o país ficou a saber que estão em curso estudos em diferentes países com vista ao melhoramento da qualidade desta planta. “Não quisemos dizer que substituímos todas as culturas que concorrem para a nutrição das pessoas pelo tseke. Recebemos a informação e quisemos partilhar das investigações científicas que decorrem e dos seus impactos”, afiançou. Por outro lado, ainda no âmbito de resgate e maximização, Mohamed Valá disse que está em curso a “pecuarização” de galinha-do-mato. “Trata-se de uma ave difícil de domesticar, mas que pode ser usada como fonte de renda, uma vez que é duas vezes mais cara que o frango comum. São estas coisas que nos levam a domesticar, pesquisar e desenvolver investigação dos produtos que temos”.
AUTO-SUFICIENTES
EM ALGUMAS CULTURAS
Num outro desenvolvimento, Valá disse que o nosso país já é auto-suficiente em algumas culturas com destaque para repolho, mandioca, cebola e milho. “Estes produtos já não são importados”, frisou, para depois acrescentar que “para o caso do repolho, se houver alguma importação resulta da desconfiança por parte dos grandes supermercados em relação à qualidade deste produto”.
Apesar da auto-suficiência, existem alguns desafios sobretudo na logística e transporte, pois algumas culturas como a cebola vermelha são produzidas em distritos como Malema e Ribáuè, em Nampula e Alto Molócuè e Milange, na Zambézia, o que levanta alguns problemas no escoamento para as zonas comerciais.
Para o caso do milho, na zona Sul a produção está abaixo das previsões devido à seca que dura há dois anos. “Isto faz com que sejamos um pouco estratégicos. Para a cultura do milho se alguém quiser investir é melhor que seja na zona Centro e Norte. No Sul dá para cultivar castanha de caju, criar gado e outros produtos. As mudanças climáticas já nos trazem uma psicologia de resiliência no pensamento de desenvolvimento”, afiançou Valá.
Em relação à mandioca, o nosso interlocutor disse que para além da farinha e a folha pode se aproveitar o próprio amido que é usado para a produção do café e leite, pois estes produtos em si não criam espuma. “Para se ter a espuma usa-se o amido que pode ser de outro tipo ou de mandioca que é muito procurado em todo o mundo por ser acessível”. Aliás, a África do Sul importa mais de 200 mil toneladas de amido de mandioca da Tailândia.
Entretanto, algumas culturas ainda representam um desafio ao Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar, tal é o caso do arroz que apesar do potencial existente em todo o país ainda não é explorado. “São daquelas culturas que dependem também de políticas fiscais, sabemos que a taxa do arroz importado está a zero. Alguns países aplicam sobretaxas muito fortes no arroz importado, o que elevou a produção interna”, afiançou.
A título de exemplo, no Regadio de Chókwè esperava-se produzir arroz em mais de 7800 hectares, entretanto, e devido à falta de água a produção foi feita numa área que varia entre 300 a 500 hectares. No entanto, a produção continua na região do Bilene e no Baixo Limpopo. “Há um movimento muito bom no distrito de Búzi, em Sofala, com um número considerável de investidores interessados”.