Home Bula Bula Comprem lixo ou me zango e fecho a loja!

Comprem lixo ou me zango e fecho a loja!

por admin

Bula-bula anda animadíssimo por estes dias. Já vai à padaria com um assobio entre os lábios, compra o pão com um sorriso no rosto e come-o com a certeza de que está perante um produto feito com higiene, em ambiente limpo, sem ratos, baratas, moscas, gatos e cães a agitarem as caudas entre as pernas dos padeiros. Nada disso. Já anima.

É verdade que a Inspecção Nacional de Actividades Económicas (INAE) ainda tem um longo caminho pela frente para impor ordem neste intricado mercado mas, pelo que já foi feito até aqui, “juro palavra d’ora”, dá um arzinho mais agradável tomar um café ou passar refeições em restaurantes ou comprar comida na bagageira do “Spacio”.

Mas, enquanto a maioria celebra, há sempre um matreiro à cata de um protagonismo qualquer, tipo “Chico-Esperto”, que é capaz de derramar lágrimas e chorar copiosamente, mesmo quando a acção lhe dá benefícios. Lembra aquele menino que chora quando chega a hora do banho, mesmo sabendo que os pais têm para si roupa nova. O banho assusta-o, como se fosse afogar na banheira, chuveiro, balde ou bacia.  

Assista-se ao que está a fazer um certo homem, de barba rija, cabelos grisalhos e vestes de empresário que se zangou quando lhe mandaram limpar a padaria. Zangou tanto que convocou uma Conferência de Imprensa para, em nome de todos os panificadores legais e ilegais, afirmar, bem com a boca no trombone que essa tal de INAE está a passar dos limites.

Os jornalistas presentes tiveram que engolir em seco o discurso de apologia à falta de higiene, onde o nosso padeiro-mor alardeava sem gaguejar que as medidas impostas pela inspecção são, conforme palavras suas, ditas aparentemente na lucidez, “são insustentáveis”. Ora essa.

Num passado recente, Bula-bula não percebia o alcance da frase: “a pobreza está nas nossas cabeças”. De facto, a gente pode ter dinheiro, frequentar os melhores ambientes, tomar um whisky caro, comer a melhor picanha e, no final, se nos dão o microfone, vomitamos as piores barbaridades. Senão vejamos:

Quando acende aquela luzinha de pretender investir numa área, há que tramitar a papelada e, nessa fase, fica-se ao corrente dos requisitos básicos para o desenvolvimento do negócio. Isso, até aquela vizinha de Bula-bula, que vende pastilhas, tomate e folhas de abóbora sabe. Quem investe fá-lo de livre e espontânea vontade.

Padeiros, pasteleiros, cozinheiros, garçons, barmans, entre outros, que labutam nestas frentes de servir alimentos, e o fazem com alegria, têm a certeza de que o devem fazer em ambientes limpos. Comida é sensível. A cólera anda por aí solta e, pelo que se viu, temos quem defende a proliferação do vibrião colérico.

O pior é que o famigerado panificador entende que Bula-bula e seus amigos não sentem que o pão está mais leve que um brinco. Há cada vez mais crianças de tenra idade que “limpam” um, dois, três pães inteiros ao pequeno-almoço porque aquilo de pão só tem a forma. Peso… precisa-se.

Mas, como um mal nunca vem só, eis que o Crystal entorna o caldo, parte a tigela e passa a vítima. A INAE bateu-lhe a porta e nem precisou fazer esforço para perceber que por ali havia uma cozinha enlameada, com produtos alimentares à beira do contágio por bactérias fecais.

Porém, a sala de refeições o requinte era de ombrear com tudo o que há de primeira linha. Mas, afinal era como a geleira. Linda por frente, mas prenhe de teias de aranha e poeira por trás. A INAE torceu o nariz e ordenou: “Encerrem”. Já o tinha feito com o Continental, Estoril, entre outros restaurantes daquele quilate.

A culpa daquele cenário foi atribuída aos trabalhadores, à INAE que entendeu, não se sabe porque caipirice, ir visitar o estabelecimento ao meio do dia, quando o local fica limpo das 06 as 10 horas. Também se foi buscar a culpa no edifício que está velho e com infiltrações e em mais alguns lugares inominados.

Autorizado a reabrir, o Crystal zangou. Já não quer. Está muito ofendido. Como faz o menino que é dono da bola. Se lhe fintas um pouco, ele recolhe a bola e o jogo acaba. “A bola é minha”. Todos se ajoelham aos seus pés. Imploram. “Volta, não te vamos fintar mais”. E lá o menino regressa. Assim o jogo não anima mais.

Por este andar, dá a impressão de que o Crystal não quer que lhe toquem o nariz. Será? Aquele lixo que vimos na TV não o incomodava? É assim no Brasil, Portugal, Suíça, Luxenburgo, Dubai, Zimbabwe ou Malawi? Um restaurante daquela estirpe pode ter lixo na cozinha e não deves reclamar senão o dono fecha?

A INAE está em acção desde Dezembro do ano passado. Foi a um dos supermercados mais badalados da cidade de Maputo e recolheu mais de 4 toneladas de alimentos que estavam fora do prazo. No lugar de birra, vimos o dono a reconhecer o erro. A clientela adorou o gesto.

Depois seguiram-se dezenas de padarias, restaurantes, armazéns, mercearias, pastelarias e bares. Muitos foram encerrados e depois autorizados a reabrir. Mas, nenhum deles manifestou tanta mágoa. Ou aquele lixo tinha a alma do negócio? Nunca se sabe…

Haja moral ou comam todos!

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