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Resgatados corpos na albufeira de Chicamba

Autoridades marítimas afirmam que negligência foi a principal causa do incidente

Foram resgatados, ao longo da semana finda, os onze corpos das vítimas de naufrágio ocorrido na albufeira de Chicamba, distrito de Manica, província do mesmo nome, concretamente na zona de Nova– Révuè. Os restos mortais de algumas vítimas foram encontrados nas margens da albufeira e em avançado estado de decomposição.

O último corpo, achado
na passada quinta-feira,
a flutuar nas águas de
Chicamba, uma albufeira
que resulta da convergência
de dez rios, alguns dos
quais nascem no Zimbabwe, foi
o de uma senhora grávida de seis
meses.
Com esta aparição, foi definitivamente
encerrado o processo
de busca das vítimas do acidente
ocorrido na noite de passado sábado
(7), quando um grupo de
crentes da Igreja Zion Christian
Church (ZCC) pretendia deslocar-
-se à outra margem da barragem,
concretamente na zona de Npandeia,
distrito de Sussundenga,
para um culto religioso.
A embarcação, de pequena
dimensão, com capacidade para
cinco pessoas, e concebida apenas
para pesca, partiu da zona de atracagem
com 17 pessoas a bordo e
naufragou a 150 metros do ponto
de partida. Entre os ocupantes estavam
15 crentes e dois tripulantes.
Deste número, seis foram resgatados
com vida 24 horas após
o incidente (domingo), porém asoperações de busca dos restantes
corpos continuaram durante cinco
dias ininterruptos.
Para o efeito, foram mobilizadas
perto de uma dezena de
embarcações de diferentes tipo e
tamanho. Uma equipa da unidade
de corpo de Salvação Pública também
esteve no terreno para a difícil
missão de remição dos corpos, que
incluía uma menor de apenas três
meses de idade.
Entre as vítimas, na sua maioria
mulheres, está uma criança de
doze anos de idade, estudante da
7ª classe. Os restos mortais desta
pequena foram encontrados quatro
dias depois do naufrágio.
Informações colhidas no local,
indicam que os crentes da igreja
Zion Christian Church deslocavam-
-se à barragem em resposta ao
convite formulado por um dos
crentes que pretendia realizar um
culto religioso em sua casa.
Segundo os ditames daquela
seita religiosa, a referida reza teria
lugar na mesma noite de sábado,
estando seu término previsto para
domingo. Assim sendo, um grupo
de crentes fez-se à barragem para
atravessar o rio Mpandeia com
destino à casa do referido crente.
Os acidentados faziam partedo primeiro grupo. O pastor e outros
crentes escaparam porque, à
última hora, decidiram seguir no
grupo subsequente.
O líder da Igreja Zion Christian
Church, Pio Languisse Chicote,
contou que no total eram 25 membros.
Quando chegaram ao local
de travessia todos crentes oraram
pedindo bênção a Deus antes de se
dirigirem ao barco. Minutos depois
os religiosos fizeram-se à embarcação
cada um levando sua trouxa
contendo produtos alimentares e
cobertores.
Já no meio da barragem começaram
os gritos que enunciavam
algum perigo e clamavam por socorro,
o que fez com que toda população
da zona se desdobrasse à
procura de ajuda.
Aquele pastor referiu que foram
mobilizados quase todos pescadores
da região para trabalhos
de busca e salvamento que resultaram
no resgate, cerca das 23 horas
da mesma noite de sábado, de três
pessoas ainda com vida.
Os primeiros passageiros salvos
permaneceram horas agarrados
a um tronco submerso que
se encontrava no meio da água.
Outros permaneceram toda a noite
segurados ao barco até seremresgatados.
A recuperação destes aconteceu
por volta das 6 horas da manhã
e foram imediatamente transportados
para a unidade sanitária mais
próxima para receber primeiros
socorros.
Carlitos Manuel David, 22 anos
de idade, pescador de profissão, e
que esteve envolvido nos trabalhos
de socorro, explicou que recebeu
um telefonema a pedir ajuda. Sensibilizado
com a situação mobilizou
o seu barco de pesca para o rio e
consegui recuperar as três pessoas
que estavam presas num tronco.
“ Foi triste. Quando me fiz ao
rio encontrei três pessoas com
o corpo mergulhado até ao pescoço.
Apenas os braços e a cabeça
é que estavam fora da água
e agarravam-se ao tronco com
todas as forças que ainda lhes
sobrava. Aproximei a minha pequena
embarcação e consegui
resgata-las ainda com vida. Fui
deixa-los na margem e regressei
para mais buscas. Não logrei
sucesso porque já tinha anoitecido
e eu não tinha iluminação”.
FUNERAIS CONDIGNOS

 

Os restos mortais das onze vítimas
do naufrágio foram sepultados
na localidade de Bandula, de onde
eram residentes a maioria dos
perecidos, e alguns em Messica.
A igreja responsabilizou-se pela
compra de urnas e outros apoios
às famílias enlutadas.
As cerimónias fúnebres foram
preparadas ao pormenor na sede
da igreja, em Bandula. Com corpos
presentes e perante representantes
do governo provincial e distrital
de Manica, as autoridades da igreja
começaram por fazer orações de
pedido de glória e perdão a Deus.
posteriormente cada família levou
seu parente para a sua sepultura.
Em jeito de solidariedade, o governo
da província de Manica ofereceu
bens alimentares, cobertores
e outro tipo de apoio às famílias enlutadas
e a igreja esteve em todos
momentos de dor e consternação.
O governo provincial esteve representado
pela directora provincial
dos Transportes e Comunicações
de Manica, Maria Gabriel, que
para tal desencadeou uma série de
acções com vista a assegurar que
o trabalho decorresse sem sobressaltos.
Houve negligência de ambas
partes
Peritos da administração marítima
de Sofala mobilizados para
o local do incidente concluíram
que a negligência por parte da tripulação,
incluindo o pastor e os
próprios crentes, poderá ser a provável
causa do naufrágio. Contudo,
afirmaram ser prematuro avançar
mais detalhes sobre o sucedido
em virtude de estarem a decorrer
outras inquirições para o desfecho
do caso.
O administrador marítimo de
Sofala, António Vilanculos, explicou
que por ser tão pequena, a embarcação
não devia ter transportado
acima de seis pessoas. O excesso
de carga fez com que a barco não
suportasse o peso tendo acabado
por naufragar.
De referir que a partir do próximo
ano serão implantadas unidades
de administração marítima
que irão trabalhar nos distritos de
Tambara, Manica, Sussundenga e
Machaze, regiões por onde passam
maiores cursos de água que atraJovem
pescador que socorreu três pessoas vessam a província de Manica.

Domingos Boaventura
mingoboav@yahoo.com

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