Bula Bula

Desfazendo os “ismos”

No “boom” do carvão mineral, vozes se ouviram a partir da capital do país, mas também a partir de Tete, propalando a ideia de que as mineradoras da terra dos nyungwés estavam a empregar 

“gente do sul”, que alegadamente estaria a “roubar” empregos às gentes locais. Representantes da chamada sociedade civil na província, instigados por gente mal intencionada, afirmavam de peito aberto e cheio, que tal situação era intolerável. Era a defesa dos “ismos”. Tribalismo e regionalismo e quejandos. Face a isso, um escriba residente na cidade localizada à margem do rio Zambeze, contava a estória de uma jovem recém-chegada a Tete e que tendo sido empregada numa das mineradoras tinha conseguido em pouco tempo chegar a um lugar de chefia. As más-línguas dos “ismos” apontavam o caso dela como um exemplo flagrante de como é que “gente do sul” escalava rapidamente para o topo da carreira. Só que alguém bem-informado dentro da organização, tratou logo de colocar os pontos nos “ii´s”: que a menina nasceu efectivamente em Tete. Passou toda a infância em Tete. Estudou em Tete, e que estivera na capital do país para fazer estudos superiores. Terminada a formação, voltara normalmente para a sua terra natal e ali conseguira empregar-se.

Este longo intróito do Bula Bula vem a propósito dos dados tornados públicos esta semana pela directora dos Recursos Humanos da Vale de Moçambique, Paula Eller, que domingo entrevistou em Tete (ver páginas 8 e 9). São dados que ilustram como é que a desinformação pode fazer eclodir, sem necessidade, conflitos de vária natureza e abrir feridas incuráveis com base em teoremas infundados. Aliás, a nossa entrevistada referiu que “decidimos começar a divulgar estes dados por província e por distrito para rebater percepções incorrectas a respeito da Vale. Mas o critério que prevalece nos nossos processos de recrutamento é a meritocracia. Sempre serão a competência técnica, as habilidades e as atitudes correctas” a prevalecer.

É que a percepção que se criou à volta das operações de mineração em Tete é de que há mais gente do sul do que de outras regiões do país a trabalhar naquelas terras. Paula Eller responde a esta questão da seguinte maneira: “vou falar do pessoal moçambicano, baseado em Tete. Isto, porque temos pessoal da Vale baseado em Maputo, na Beira e em Nacala, onde, felizmente, também se podem encontrar pessoas de Tete e de outras partes de Moçambique. Portanto, o levantamento que nós fizemos nas operações de Moatize até 31 de Dezembro de 2012 conta-nos uma história diferente (da predominância do pessoal do sul em Tete). Do total dos trabalhadores que a Vale tem em Moçambique – e aqui falo dos nossos próprios trabalhadores e não incluindo os das contratadas – mil e 102 celebraram os seus contratos em Tete, o que representa um universo de 73 por cento do total da nossa mão-de-obra nacional. Desse número, 394 trabalhadores são naturais da província de Tete, 229 trabalhadores, de Maputo, 191 trabalhadores de Sofala. Estas são as províncias com mais pessoas. As províncias com menos trabalhadores dentro da Vale são Cabo Delgado, com quatro e Niassa com oito. A nível da província de Tete, também fizemos levantamentos por distrito. Assim, dentre os distritos com mais trabalhadores dentro da Vale, salientam-se a Cidade de Tete, com 206 trabalhadores, Moatize com 72, Cahora Bassa, com 42 e Angónia, com 20. Na província de Tete, Zumbo é o  distrito com a contribuição mais fraca, com dois trabalhadores. Para 2013 e para o futuro, a integração do elemento local tenderá a subir certamente”. Isto significa que quase metade dos trabalhadores da Vale baseados em Tete, são da zona centro do país (Tete e Sofala). Para bom entendedor, meia palavra basta!

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