Editorial

Os pilares da cooperação

Maputo acolheu esta semana a Segunda Cimeira Bilateral Moçambique-Portugal. A Terceira terá lugar em Lisboa no próximo ano. No encontro e nos discursos pronunciados, tanto o Presidente Guebuza como o Primeiro-Ministro português, Pedro Passos Coelho, foram unânimes em reiterar a sua prontidão par aprofundar, expandir e diversificar os pilares que sustentam os laços de amizade, de longa data, e de cooperação entre Moçambique e Portugal. Foram rubricados acordos em vários domínios, com ênfase para os sectores de Educação, Energia, Agricultura, Pescas, Defesa, Finanças Públicas, entre outros.

Como sublinharia o próprio governante português o relacionamento entre os dois Estados “veio para ficar” e reflecte “a crescente qualidade na caminhada de partilha de experiências em diversas áreas de desenvolvimento sustentável”.

E segundo Guebuza o encontro de Maputo vem multiplicar as oportunidades de parcerias entre as empresas nacionais e estrangeiras, nos mecanismos de exploração de recursos naturais e de outros sectores para a industrialização e desenvolvimento, bem como para o progresso do sector empresarial e humano.

Como referimos noutras ocasiões, com Portugal tivemos encontros e desencontros, com Portugal tecemos uma História indelével, forjámos traços da nossa personalidade moçambicana, nunca, porém, quisemos ser portugueses, porque, de facto, não o éramos, apesar de toda uma propaganda maciça do sistema colonial ávido de sugar o melhor da nossa intimidade

 Marcas ficaram desses tempos, umas negativas, outras positivas. Até na linguagem do quotidiano algumas marcas negativas se infiltraram, como aquela de se afirmar constantemente que somos um país de expressão portuguesa, que não somos. Somos um país de expressão moçambicana, expressão essa que, não raro, é veiculada em língua portuguesa. Exprimimos a nossa moçambicanidade servindo-nos também de uma das nossas línguas, a portuguesa, falada por cerca de 280 milhões de pessoas.

A moçambicanidade é uma espécie de cocktail construído com elementos diversos, sendo um deles de feição lusa, mas o sabor é moçambicano.

Levámos tempo, porém, a conquistar a soberania para mandarmos em nossa casa, e até tivemos de pegar em armas porque o regime colonizador entendia que lhe pertencíamos, como se objecto fôssemos. Tratava-se, porém, de um regime, não de um povo, povo este que nos últimos tempos também andava amordaçado por esse mesmo regime. 

Acontece que os dois povos também se uniram para se libertarem. As guerras de libertação das colónias contribuíram, de forma insofismável, para a libertação do povo português do jugo fascista. Foram lutas irmãs contra o colonial-fascismo.

Por isso, podemos dizer sem papas na língua que esta vinda do Primeiro-Ministro português é um reforço de duas soberanias que querem e podem auxiliar-se uma à outra, cada qual interpretando os seus destinos e interesses à sua maneira, mas sabendo que podem contar uma com a outra.

Talvez nunca, como agora, o que se deve a um percurso ou processo pacientemente construído, se possa afirmar que as soberanias de Portugal e Moçambique se cimentaram profundamente, reforçadas pela amizade dos seus líderes, afastados que foram receios de neo-colonialismos.

Importa, para avaliar politicamente o impacto e contributo deste encontro entre Portugal e Moçambique, que as soberanias absolutas não existem, que  foi sonho que tem de ser redimensionado na realidade da globalização. Somos uma aldeia global. A independência, para o ser, de facto, movimenta-se no quadro de uma gestão correcta das dependências. Somos dependentes uns dos outros, mas temos de ter o poder de escolher as nossas dependências, ou seja, aquelas que são necessárias para o nosso desenvolvimento sustentável sem perigo de se tornarem hegemónicas e flirtarem connosco para nos manipularem em função dos seus interesses. E aqui os amigos verdadeiros desempenham um papel de primeiro plano.

Podemos também dizer que esta 2ª Cimeira Moçambique-Portugal teceu relacionamentos e parcerias entre empresários moçambicanos e lusos em função do interesse e  progresso mútuos, desempenhando a língua comum um papel facilitador.

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