Opinião

Quem não sabe é como quem não vê

Os recentes casos de raptos, em diferentes cidades moçambicanas, parecem que estão a dar origem a um novo tipo de linguagem. Em alguns jornais. E, naturalmente, por parte de alguns jornalistas. Por receio, por medo de darem o nome certo, o nome correcto, a determinada situação. Ou simplesmente por desconhecerem o significado de determinada palavra. Num determinado contexto. Refiro-me no caso concreto à palavra Suposto.

 Vejamos um exemplo. Na sua edição do dia 30 do mês findo (página 5) o jornal “Notícias”, reportando sobre um rapto da cidade da Beira, titula Informação sobre o rapto chegou tarde à Polícia. E, escreve a determinado passo que O jovem raptado no passado dia 22 na cidade da Beira, foi encontrado morto na manhã desta segunda-feira, algures em Dondo onde supostamente teria sido sequestrado. Mais nos informa o matutino que Segundo fontes contactadas pelo nosso jornal na cidade da Beira os supostos raptores inicialmente pediram o resgate de um milhão de dólares norte-americanos, valor que não foi satisfeito pelos pais, uma vez que não o tinham.  

 

Se na primeira citação o emprego da palavra supostamente não merece contestação, o mesmo parece não acontecer na segunda. Se, como leitor, bem entendo, no primeiro caso está a querer dizer-se que não há a certeza que o menor tenha sido raptado naquele local. No segundo caso, parece querer dizer-se não há a certeza de terem havido raptadores. Mas houve. O que não se sabe é quem foram. Quem são. Partindo do princípio elementar que não pode haver raptos sem raptores. Houve raptores. O que não se sabe é quem foram ou quem são. Vejamos o que esclarece o Dicionário da Língua Portuguesa de Fernando J. Da Silva Suposto (…) hipotético; fictício, imaginário; s. m. aquilo que subsiste por si, coisa suposta, substância. Convenhamos que os raptos não são coisa suposta. É isso sim, e muito pelo contrário, uma realidade por demais dolorosa para muitos moçambicanos. Tenhamos a capacidade de admitir que a cada situação se aplica uma palavra adequada. Convenhamos que consultar um dicionário é, em si, um acto de sabedoria. Tenhamos presente o adágio popular segundo o qual quem não sabe é como quem não vê.

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