Desporto

FIFA quer clubes licenciados para desenvolver o futebol

A Federação Internacional do Futebol Amador (FIFA) impõe que todos clubes interessados em participar em competições oficiais regionais ou continentais se licenciem. Caso contrário, não têm direito de jogar a esse nível.

Moçambique continua atrasado no que ao licenciamento de clubes diz respeito, facto que já faz perder a paciência dos órgãos internacionais, nomeadamente a Confederação Africana de Futebol (CAF) e a FIFA.

É que, desde 2010 que o processo se iniciou, o nosso país não está a conseguir responder às exigências impostas, mormente por falta de capacidade de gestão e também financeira dos clubes.

Ao longo desse período, a Federação Moçambicana de Futebol (FMF) tem realizado várias ofensivas para o cumprimento das regras, o que ainda se manifesta difícil por parte das colectividades.

Semana finda, Maputo acolheu mais um seminário de capacitação dos gestores desportivos sobre a matéria. Na ocasião, o Presidente da Federação Moçambicana de Futebol, Alberto Simango Jr., repisou que já basta de tolerância porque a própria CAF já avisou que não mais vai tolerar clubes em situação irregular.

A FIFA pretende, desta forma, avançar ainda mais no capítulo da profissionalização dos clubes no mundo inteiro de modo a que eles sejam:

– autónomos;

– profissionais;

– responsáveis e exemplos do associativismo.

Alberto Simango Jr. explicou que a FIFA quer ver os clubes a funcionarem com base em estruturas adequadas e em moldes profissionais.

Dirigindo-se aos dirigentes participantes na capacitação, Alberto Simango Jr. sublinhou que o futuro do futebol passa necessariamente pelo licenciamento dos clubes.

“O licenciamento dos clubes vai abranger a todos. Isto significa que os clubes históricos que eventualmente não aderirem ao movimento de licenciamento podem desaparecer do mapa. Queremos deixar claro que apoiamos as iniciativas da CAF e da FIFA no que diz respeito ao licenciamento”.

Tal como referiu, Moçambique vai acolher outro seminário ainda este ano para verificar a implementação dos conhecimentos ministrados pelos três instrutores da CAF que estiveram em Maputo.

“Assumamos todos a responsabilidade de caminharmos juntos rumo ao licenciamento dos clubes”, exortou, reiterando que a comissão criada pela FMF está disponível para apoiar todas colectividades no processo.

REQUISITOS PARA

O LICENCIAMENTO

A FIFA definiu vários critérios para atribuição duma licença a um clube de futebol. Dependendo do nível de resposta aos critérios estabelecidos, o clube recebe uma licença correspondente.

Isto significa que um clube que não reúna certos requisitos pode ter sua licença para a prática de futebol enquanto reúne as condições em falta. Naturalmente, há requisitos de carácter obrigatório sem os quais não se reconhece a existência do clube, como sede, direcção e estatutos. 

São requisitos gerais para o licenciamento de clubes os seguintes:

– campo em condições para a prática desportiva de alto rendimento;

– órgãos sociais da colectividade completos e em pleno funcionamento;

– ter uma sede;

– ter estatutos;

– possuir camadas de formação;

– ter contas auditadas;

– realizar as assembleias-gerais anuais preconizadas nos estatutos e apresentar as respectivas actas.

O presidente da Federação Moçambicana de Futebol alerta para o perigo de as equipas que não apresentarem estes requisitos não poderem entrar nas competições nacionais e internacionais.

AFINAL O QUE PRETENDE A FIFA?

O licenciamento de clubes tem, entre outros, os seguintes objectivos definidos pela FIFA:

– salvaguardar a credibilidade e integridade das competições de clubes;

– aumentar o profissionalismo no seio da família internacional de futebol;

– promover os valores desportivos de acordo com os princípios de fair-play, bem como um ambiente seguro e estável para as competições;

– promover a transparência nas finanças do clube;

– assegurar a transparência na propriedade do clube;

– assegurar a transparência sobre quem é o dono do clube;

– promover a transparência no controlo dos clubes.

CLUBES ESPREGUIÇAM-SE

Rui Tadeu integra a Comissão de Licenciamento de Clubes criada pela FMF para dirigir o processo. Entende que no caso de Moçambique claramente serão feitos alguns ajustamentos para responder aos critérios, sem, com isso, desrespeitar as regras.

Tal como fez questão de sublinhar, há clubes que estão a reagir bem, e que já começaram a dar os primeiros passos no sentido de respeitar os critérios.

Mesmo sem fornecer detalhes devido as funções que assume no processo, Tadeu anotou que em termos gerais há uma maior consciência sobre a matéria.

“Estamos muito longe de dizermos que estamos bem, mas é por ai onde devemos caminhar, é uma questão básica, estamos muito atrás na perspectiva global do país porque há países vizinhos em estado mais avançado”, observou.

Frisou que se pretende que os clubes sejam mais ´sérios e melhor organizados para que sejam interlocutores com outras entidades da sociedade que são igualmente sérios.

– Cada clube tem a sua realidade, não temos muita informação a não ser dos 14 clubes do Moçambola, que neste momento constituem o principal foco porque é daqui que saem os clubes para competições internacionais, mas a realidade é que este é um sistema de licenciamento geral, que vai abranger clubes de base. Se um clube não nasce bem e chega ao Moçambola, não devidamente estruturado, poderá competir e não ser reconhecido no sistema.

Licenciamento vai contribuir

para melhoria de resultados

– José Pereira, gestor do Complexo Desportivo do Zimpeto

José Pereira é gestor do Complexo Desportivo do Zimpeto e foi nessa qualidade que participou no seminário promovido pela CAF e FMF, da qual saiu com a lição de que Moçambique está numa realidade global e é preciso alavancar a qualidade do futebol para padrões internacionais a vários níveis.

No seu entender, é necessário os actores do futebol moçambicano começarem a perceber que os resultados desportivos não são só dos treinadores como se tem testemunhado, mas de todo clube.

“O clube é o ponto de partida para que possamos ter espectáculos desportivos de qualidade e isso passa por termos dirigentes também com padrões de qualidade. É preciso que tenhamos um perfil dos dirigentes, que tenham responsabilidade, ajam com transparência necessária, que sejam observados aspectos de legalidade e que as infra-estruturas reúnam requisitos internacionalmente exigidos”, fundamentou.

Nessa situação estarão reunidas as condições para um espectáculo desportivo ter qualidade e os clubes e selecções de Moçambique ombrearem com clubes e países que actualmente estão acima no ranking da FIFA.

Disse ser importante adoptar-se um cronograma de actividades que permita atingir determinada meta, nomeadamente o reconhecimento dos clubes pela CAF e FIFA.

“Acima de tudo, espero que em eventos desta natureza possamos ter os actores principais dos clubes, aqueles que possam garantir a liderança destes processos”, referiu.

Sobre as infra-estruturas, José Pereira indicou que a maioria foi construída no período colonial, e de lá para cá os requisitos e exigências alteraram-se.

A gestão diária do clube, a medicina desportiva e a observância de regras concorrem para os patrocinadores, por exemplo, olharem para o clube como sendo um produto vendável, credível e ai reduzir os défices financeiros com os quais as colectividades se debatem.

– Nós actores desportivos temos que ser credíveis. Há aspectos de legislação que devem ser observados para que o clube seja uma personalidade não só jurídica. Portanto, todos aspectos que concorrem para o licenciamento dum clube participam na qualidade do produto final que é o futebol.

Infra-estruturas são

principal preocupação

– João Raúl, director executivo do Costa do Sol

“O único problema que sinto é de infra-estruturas, porque o estado actual é lastimável. Há clubes que participam nas grandes provas e não tem o seu campo, mas nada diz que não podem ser licenciados porque existe a possibilidade de indicarem um recinto alternativo”, palavras de João Raúl, director executivo do Costa do Sol.

No caso particular dos “canarinhos”, segundo o nosso interlocutor, aguardam a resposta do processo submetido ano passado à Comissão de Licenciamento dos Clubes.

– Estamos a fazer o que nos tem sido recomendado. Tentamos responder aos cinco critérios que são solicitados aos clubes para se licenciarem. A novidade que tivemos, neste seminário, é que afinal nas nossas condições actuais é possível obter o licenciamento, dependendo do tipo de categorização da licença.

Outra boa nova foi a informação de que também é possível obter a licença por um período superior a um ano, mas tratando-se de provas internacionais, o clube pode pedir uma licença extraordinária. “No caso duma prova de grande envergadura, podemos nos socorrer duma outra infra-estrutura”.

De resto, João Raúl sublinha que o licenciamento não é uma coisa vazia, visa a melhoria da gestão do futebol e dos próprios clubes.

“Se tomarmos em linha de conta que para podermos funcionar temos que ter uma sede própria, uma assembleia-geral ordinária por ano, ter uma contabilidade organizada, estatutos, é bom para o futebol. Isso facilita que de facto o clube funcione duma maneira correcta e organize um evento desportivo num local que o espectador tenha conforto e segurança”, sustentou.

O fim último do licenciamento é melhorar a funcionalidade do futebol, não é só para os clubes que estejam no “Moçambola”, mas todos que ousam fazer futebol.

 

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