Sociedade

O professor faz uma sociedade

Chama-se Faustina Micaela Langa. Tem 58 anos de idade e dedicou sua vida à Educação. Entrou no professorado com 17 anos em 1976 e reformou no ano 2009. Para ela, ao professor faz uma sociedade. Contudo, lamenta a imagem que um professor que lecciona o ensino primário tem hoje na nossa sociedade.

Quando e como entrou para a Educação?

Entrei para Educação em 1976 com apenas 17 anos. Estava a procura de emprego porque tinha um filho por sustentar.

Nunca sonhou em se tornar professora?

Não, nunca pensei. Soube das vagas que existiam para professorado quando estava a caminho do mercado. Fui à tal escola e perguntaram se eu queria mesmo ser professora. Respondi que sim e ia para qualquer ponto do país se necessário…

E como foi o seu primeiro dia a dar aulas?

A primeira escola em que leccionei foi a Escola Primária de Xinonanquila em Boane. Como disse tinha apenas 17 anos. Por acaso estava sob assistência do director da escola. Nos primeiros dias acompanhei professoras mais velhas a dar aulas e depois comecei a leccionar as primeiras classes.

Quanto recebia naquela altura?

Recebíamos três meticais e 960 centavos. E esse valor era suficiente para satisfazer necessidades básicas.

Depois de vários anos na Educação, hoje está reformada. Quais foram os momentos altos e baixos que marcaram a sua carreira?

Um dos momentos baixos que me marcou foi quando estava nos primeiros anos de professorado. Naquela altura recebíamos o salário em mão. Uma vez, o director de uma das escolas onde leccionei foi levantar o nosso salário e usou todo ele na bebedeira. Foi triste, voltar para casa e dizer que naquele mês não tinha salário.

…e o alto?

Foi quando me tornei também referência na segunda escola de Língamo, na Matola. Sentia-me bem quando tinha que receber uma novata e acompanhá-la nas aulas.

Como olha a Educação hoje?

É muito diferente. Antes as nossas crianças saiam da escola a saber ler e escrever. Hoje é uma vergonha, as crianças não sabem nada. E o professor é tratado sem respeito. Mas antes ninguém tratava o professor com desrespeito. Nós também somos responsáveis pela formação de uma sociedade.

Na sua opinião o que está a falhar?

Dizem que os professores não ensinam nada e não ficam na escola. É preciso que se olhe para o professor, sobretudo do ensino primário. Ele deve ter um salário condigno para que não corra para as escolas privadas para ter mais algum. 

Luísa Jorge

 

luísajorge@snoticias.co.mz

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