Sociedade

Nelson Bernardo: menino adulto aos oito anos

Nelson Bernardo tem oito anos de idade. Vive no bairro Chinfura, nas periferias da cidade de Chimoio, capital da província de Manica. Estuda na Escola Primária de Chinfura. É uma criança com uma infância indesejável: trabalha para gerar renda para alimentar seus pais e irmãos menores de idade.

Durante a manhã, de peneira à cabeça, percorre a cidade e escala, na companhia de sua irmã mais nova, ruas, passeios átrios de instituições públicas e privadas, casas comerciais, vendendo fruta. À tarde, dirige-se à escola, onde frequenta a terceira classe.

Num desses dias de labuta, domingo interceptou-o, e ele contou um pouco da sua odisseia.        

 “Meus pais não trabalham. Todos os dias vou à rua para vender laranja e tangerinas. Vou  juntamente com a minha irmã, porque ela ainda não estuda e gosta de andar comigo. Levo fruta de cinquenta a cem meticais todos os dias. Mas nem sempre acaba. Há dias que consigo 40 ou 70 meticais”, disse Nelson Bernardo.

Obrigadoa assumir responsabilidades de adultos, o menino Nelson explicou ter desejo de brincar como as outras crianças: “Gosto de brincar como as outras crianças, mas não tenho conseguido”. E quando questionamos se lhe sobra tempo para ir à escola, ele respondeu: “estudo à tarde. Por volta das 11 horas, regresso à casa para me preparar de forma a me fazer a tempo à escola. Tem sido assim todos os dias, desde que comecei a fazer este negócio no ano passado.  

Quanto aos seus pais, “quando vou vender, a minha mãe fica em casa a cozinhar e a fazer outras actividades. Meu pai, uma e outra vez, também sai à procura de dinheiro”.

TRABALHAR CORRENDO RISCOS

De cruzamento em cruzamento, estas crianças fazem a sua lida diária. Nelson afirmou não ter outra alternativa, porque o faz a mando dos seus progenitores.

Ao cruzar as estradas, para além de cuidar do produto, Nelson tem que segurar a sua irmã.

Mas o futuro, Nelson Bernardo quer que seja diferente. Seu maior sonho é formar-se em Medicina: “quero estudar muito para ser médico e tratar dos doentes”.

Na cidade de Chimoio, à semelhança de outras cidades do país, o problema relacionado com o trabalho infantil está a ganhar contornos  preocupantes. São várias crianças pelas ruas, pelos centros comerciais formais e informais, a desempenharem diversas actividades, que vão além das suas capacidades físicas e mentais.   

Algumas vendem água gelada. Umas em locais fixos, outras andando pela cidade.

José Patrício, de 12 anos de idade, é uma dela. Vive no bairro 7 de Abril com a sua tia. Os pais perderam a vida.

Contou-nos que está no negócio de água há sensivelmente dois anos. Todos os dias anda pela cidade com um bidão de cinco litros cheio de água gelada. Afirmou que tem muitos clientes, cada copo de água custa um metical. Em cada cinco litros consegue obter ganhos de aproximadamente 20 meticais. Disse que nos dias de muito calor consegue esgotar dois ou três bidões. Aí, os ganhos podem subir até 60 meticais. Estes valores são entregues à sua tia para alimentar a família.

Contrariamente ao Nelson, este menino deixou de estudar. “ Parei na terceira classe, quando os meus pais morreram”.  O seu negócio de água, às vezes, é alternado com a venda de bolos fritos.  “A minha tia prepara-os e eu levo-os para a venda. Ela não tem marido e é mãe de dois meninos”, defendeu.      

Outro menor por nós entrevistado identificou-se apenas por Maninho.  Estava na entrada duma loja, onde presta serviços como carregador de bagagem dos clientes. Tem 11 anos e vive com seu tio no bairro Nhamadjessa.

Explicou que nunca foi á escola. Ficou órfão de pais aos cinco anos. Foi viver com o irmão do seu pai quando os progenitores faleceram. E porque a vida está difícil viu-se obrigado a trabalhar. “Carrego bagagem quando alguém compra alguma coisa nas lojas ou mercados. O valor que cobro depende da distância e da quantidade. Cobro de cinco a 50 meticais. Carrego coisas que chegam ao peso de 30 quilogramas: arroz, farinha e outros produtos. Comecei a fazer esse trabalho há muito tempo”, disse, exibindo com orgulho a sua parca musculatura.  

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