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Escolas trabalham para melhorar aproveitamento

Por admin

Um inquérito nacional efectuado em escolas públicas concluiu que a província de Maputo e Maputo-cidade lideraram no ano passado o índice de baixo aproveitamento com 41 e 49 por cento, respectivamente.

Em sentido contrário, as províncias de Tete e Zambézia foram as que obtiveram melhor aproveitamento. Para que pais e encarregados de educação não sejam surpreendidos no final do ano, domingo traz uma amostra dos resultados do primeiro trimestre de algumas escolas das duas províncias pior classificadas em 2015.

O baixo aproveitamento é um problema que vem inquietando pais, encarregados de educação e entidades da educação, sobretudo no final do ano lectivo, quando os resultados não são os desejados. Exemplo disso foram as reprovações, em massa, no ano passado na cidade de Maputo e Maputo-província, que acabaram gerando um cem números de interrogações.

A Direcção do Conselho Nacional de Exames, Certificação e Equivalências, através do respectivo director, Ivan Collinson, afasta, entretanto, qualquer tentativa de colar o insucesso escolar dos alunos em 2015  à introdução do novo regulamento sobre as condições de acesso aos exames da segunda época.

Os resultados de 2015 apenas mostraram uma realidade que já existia no nosso ensino”, disse Collins.

Acrescentou que nos anos anteriores os resultados de exame da primeira época já apontavam para uma realidade negativa, porém eram compensados pelos resultados da segunda época, o que não deixava de ser estranho.

Tínhamos casos em que um estudante tirava notas muito baixas a quatro disciplinas na primeira época, mas na segunda conseguia notas elevadas nas mesmas disciplinas”, observou.

APROVEITAMENTO

EM LENTA ASCENÇÃO

domingo,como mencionámos acima,efectuou uma ronda por algumas instituições do Ensino Secundário da província e cidade de Maputo para conhecer o grau de aproveitamento obtido pelos estudantes no primeiro trimestre do ano em curso.

Na Escola Secundária Noroeste-1, o aproveitamento foi de 51 por centro contra 50 por cento registado em igual período de 2015. Já na Escola Secundária Josina Machel os resultados foram idênticos aos obtidos no primeiro trimestre do ano passado, isto é, 50 por cento. Na Escola Secundária Força do Povo, o aproveitamento neste primeiro trimestre foi de 60 por cento contra 56 por cento de igual período de 2015. Enquanto isso, a Escola Secundária Francisco Manyanga registou no primeiro trimestre do presente ano um aproveitamento de 57 por cento contra  60 por cento no mesmo período de 2016.

Várias foram as razões arroladas pelos directores pedagógicos para a débil subida e/ou manutenção dos números do ano passado, tendo apontado, por exemplo, o número elevado de estudantes por turma.

“As nossas turmas estão acima da média recomendada. Cada professor tem cerca de 60 alunos quando o ideal seriam 35 a 40 alunos por turma”, disse Edmundo Paulino, director pedagógico do 2.º ciclo da Escola Secundária Noroeste-1.

Segundo a nossa fonte, a assiduidade, tanto dos alunos como dos professores, é outro dos problemas que a escola procura melhorar na perspectiva de subir a taxa de aproveitamento.

Já na Escola Secundária Josina Machel, relativamente à assimilação das matérias, soubemos pela voz de Valdemiro Nhabinde, professor da secção de ciências, que “há alunos da 9.ª e 10.ª classes com dificuldades básicas de multiplicação e divisão porque não sabem  tabuada”.E não é tudo.

NÃO DOMINAM

O PRÓPRIO CADERNO

Valdemiro Nhabinde acrescentou que enquanto os alunos não se dedicarem aos estudos será difícil melhorar o seu aproveitamento. E falou do trabalho que tem estado a realizar.

Eu dou o meu máximo para que os estudantes percebam a matéria. Quando não têm livros elaboro fichas de apoio, mas eles não fazem a revisão das aulas em casa. O resultado é que no dia seguinte não conseguem sequer fazer o resumo da aula anterior e, pior ainda, não dominam o próprio caderno. Não sabem onde escreveram os apontamentos da aula anterior”, disse, tendo acrescentado que “há casos de estudantes que todos os dias vão a escola mas não entram nas salas de aula.”

Se os pais controlassem os estudos dos seus educandos seria fácil ultrapassar algumas situações. Temos pais que pagam mensalmente o transporte escolar para os filhos, mas eles não frequentam as aulas e no final do ano reprovam por excesso de faltas (PPF)”.

Segundo apurámos, muitas destas coisas acontecem porqueos país ou encarregados de educação não contactam os professores quer por telemóvel ou por qualquer outra via para se inteirarem do rendimento dos seus educandos.

São raras as vezes que os encarregados de educação ligam”, acrescentou.  

Por sua vez, a directora da Escola Secundária Nelson Mandela, localizada na província de Maputo, Delminda Mendes, disse que no primeiro trimestre apenas registaram baixo aproveitamento na 12.ª classe na secção de ciências.

Para reverter esta situação apostámos na sensibilização dos alunos e professores para se empenharem mais tendo em conta que só vai à segunda época quem reprovar a três disciplinas”, disse.

O Ensino Primário também tem os seus problemas. Francisco Nazaré, director pedagógico da Escola Primária do Bagamoyo, considerou positiva a deliberação que introduziu o exame para os alunos da 2.ª classe.

Eles têm de saber ler e escrever para transitarem, o que não acontecia com o modelo de passagem automática. Passavam sem saber ler nem escrever”, sublinhou.

Acrescentou que a escola, para ajudar os alunos, criou no passado mês de Junho turmas especiais da 6.ª e 7.ª classes para estudantes com sérias dificuldades de escrita e divisão silábica.

PROFESSORES-ESTUDANTE

Na província de Maputo ouvimos a directora da Escola Primária Completa de Djonasse, Consoladora de Lurdes, que dissertou sobre uma outra realidade que contribuiu para o baixo rendimento de 2015.

“Constatámos que o baixo rendimento escolar estava associado ao facto de a maior parte dos professores que aqui leccionam também eles serem estudantes e dedicarem-se mais aos seus estudos”, revelou.

Acrescentou que no ano de 2014 a escola teve um aproveitamento de 68 por cento tendo decrescido no ano passado para 62,7 por cento. Acrescentou que as medidas implementadas no princípio do ano lectivo começam a surtir efeito.

No primeiro trimestre obtivemos 67 por cento, porque  passámos a estar mais atentos à assiduidade do professor, assistimos as aulas, verificámos os cadernos dos alunos, certificámo-nos se o professor dá TPC e se no dia seguinte faz a correcção dos respectivos exercícios”.

Intensificámos

supervisão nas escolas

Francisco Mandlate, chefe do Departamento Pedagógico na Direcção da Educação da Cidade de Maputo

Desde o início do ano lectivo temos uma equipa de técnicos da Educação dos distritos que se deslocam às diferentes escolas com objectivo de apoiar a direcção na organização pedagógica”, disse, quando solicitado pela nossa reportagem a explicar o que está sendo feito para que não se repita o insucesso e frustração de 2015.

Mandlate enumerou os vários factores que contribuíram para o baixo aproveitamento registado nos últimos tempos.

“Por um lado, os alunos não estão a dedicar-se aos estudos, isto é, não são assíduos às aulas, não revêem as matérias em casa e, por outro, os pais não procuram saber da evolução escolar dos filhos, se têm ou não dificuldades e como é que as podem superar”.

Sobre o trabalho dos professores, vincou a necessidade destes terem um plano de aula,além de que têm estado a incentivar os professores para o planeamento dos conteúdos pelo menos de quinze em quinze dias nos respectivos grupos de disciplina e a necessidade do cumprimento do plano anual de aulas.

Quanto primeiro trimestre do presente ano, a cidade registou uma tendência de melhoria de cinco por cento relativamente ao mesmo período em 2015 tendo passado de 60 por cento para 65 por cento em 2016. Neste âmbito, o Ensino Primário do Primeiro grau (EP1) teve 76 por cento de aproveitamento contra 74 em igual período em 2015. O Ensino Primário do Segundo Grau (EP2) manteve o registo do ano passado que foi de 62 por cento. Entretanto, o primeiro ciclo do Ensino Secundário Geral registou uma melhoria de sete por cento, tendo passado de 50 por cento em 2015 para 57 por cento em este ano. O segundo ciclo do Ensino Secundário Geral passou de 51 por cento em 2015 para 60 por cento no primeiro trimestre do ano em curso.

Não se divulgou

suficientemente

o novo regulamento

Silvestre Dava, porta-voz da Direcçao Provincial da Educação da Província de Maputo

O porta-voz da Direcção da Educação e Desenvolvimento Humano da província de Maputo, Silvestre Dava, disse que são vários os factores que influenciam para o baixo aproveitamento escolar. Contudo, não se esquivou de comentar os resultados de 2015.

“No ano passado tivemos um novo dado, que foi a implementação do novo regulamento que condiciona o acesso ao exame da segunda época. Apesar do esforço feito na divulgação do regulamento, temos de reconhecer que se os alunos ficaram surpreendidos é porque houve pouca divulgação nas escolas”.

Para se ultrapassar estes obstáculos, segundo a fonte, a Educação orientou os directores das escolas que iniciassem a divulgação do novo regulamento escolar logo em Janeiro.

“A orientação é que se fale deste novo instrumento até nas reuniões de turma”,disse.

De referir que o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano promoveu, no princípio do ano, um seminário de capacitação dos directores das escolas a nível nacional, onde foi aflorada a questão da revisão dos regulamentos internos das escolas.

“Nesse encontro debruçou-se sobre a importância do trabalho dos grupos de disciplina, uma prática que, infelizmente, se foi perdendo ao longo do tempo, mas que permitia que os professores da disciplina de Química, por exemplo, pudessem trocar experiência, o que enriquecia o conhecimento pedagógico do professor e influenciava o seu desempenho”,explicou.

Relativamente ao desempenho no primeiro trimestre do presente ano na província de Maputo, os dados revelam uma situação estável. No Ensino Primário (1.ª a 2.ªclasses) registou-se um aproveitamento de 77,7 por centro contra 78 por cento de 2015. No Segundo ciclo (3.ª a 5 ª classes) o aproveitamento foi de 68,9 por centro contra 67,3 no mesmo período do ano passado. Já no terceiro ciclo (6.ª a 7.ª classes) o registo foi de 61,6 por cento contra 57,9 por cento de 2015.

O Ensino Secundário registou uma ligeira queda quando comparado com os números do ano passado. O primeiro ciclo (8.ª a 10.ª classes) teve um aproveitamento de 49,2 por cento contra 51,1 por cento do ano 2015 e o segundo ciclo (10.ª a 12.ª classes) registou um aproveitamento de 52 por cento contra 61 em igual período.

RANKING de 2015

Província de Maputo – 41 por cento
Cidade de Maputo – 49 por cento
Niassa – 57 por cento
Cabo Delgado – 63 por cento
Inhambane – 71 por cento
Manica – 71 por cento
Gaza – 72 por cento
Nampula – 78 por cento
Tete – 80 por cento
Zambézia – 80 por cento

Texto de Luísa Jorge
luisa.jorge@snoticicas.co.mz

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