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Envolver o rapaz na luta pelos direitos da rapariga

Por admin

Envolver rapazes na luta pelos direitos humanos das raparigas constitui uma das formas de acabar com os males que retardam e comprometem a auto-afirmação e desenvolvimento da mulher na nossa sociedade. 

Este foi um dos apelos feitos pelos participantes no último dia da conferência Nacional da Rapariga realizada semana finda em Maputo, sob o lema: Meninas e não noivas.

 

De acordo com os adolescentes e jovens reunidos naquela conferência, um dos grandes males que impedem o desenvolvimento da rapariga sobretudo nas zonas rurais são as crenças e práticas culturais incutidas na classe masculina ainda em tenra idade.

Um dos grandes problemas é que ao rapaz é ensinado várias práticas culturais que prejudicam a rapariga. E esta última é educada a ser submissa. O rapaz de hoje é capaz de engravidar várias parceiras para mostrar a sua masculinidade aos amigos, afirmou Leonardo Macuacua representante da Associação Horizonte.

Ainda neste âmbito o representante da Rede Homens Pela Mudança (HOPEM), José Pange ,afirmou que a classe jovem e adulta masculina tem agora um grande desafio. Nós nos sentimos mobilizados para lutar contra este mal pois o rapaz é tido como a principal fonte dos problemas e isso faz-nos querer mudar a imagem do rapaz neste quadro, sublinhou o representante da HOPEM .

Há semelhança de outras conferências nacionais da rapariga  já decorridas, o Casamento Prematuro e a Gravidez precoce destacaram-se pelo debate aceso que criaram no seio dos adolescentes.

Estimativas feitas mostram que no país o casamento prematuro e a gravidez precoce ainda apresentam taxas de prevalência elevada. Com efeito, dados do Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) de 2011, apontam que 48 por cento de raparigas moçambicanas casam-se antes de completar18 anos e 14 por cento antes dos 15 anos. Manica e Sofala são apontadas como províncias com maior ocorrência deste fenómeno.

Uma das inquietações que preocupa as raparigas é o assédio que elas sofrem dos professores e que muitas vezes culminam com gravidez indesejada.

Para as raparigas, os professores devem assumir a postura de educador antes de mais.

ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE

No encontro as raparigas queixaram-setambém das dificuldades que têm enfrentado para ter acesso privilegiado ao Serviço Nacional de Saúde.

Depois de ouvir intervenções sobre o acesso aos serviços de saúde, Ivone Zilhão, uma das painelistas convidadas, referiu-se aos serviços prestados pelo SAAJ( Serviço de Atendimento ao Adolescente  e Jovem) do Ministério da Saúde criado para servir  este grupo etário.

Ivone Zilhão lamentou o facto de muitas raparigas estarem a perder a vida por consequência do aborto inseguro e por essa razão apelou a juventude a recorrer primeiro aos serviços de Saúde.

Em Moçambique o aborto inseguro já foi despenalizado em Julho de 2014 e desde Junho do presente ano está sendo implementado legalmente. Isto significa que hoje já se pode recorrer a uma unidade sanitária para fazer, afirmou Zilhão.

Ainda na senda dos males que assombram rapariga, a painelista salientou a importância deste grupo ter consciência dos direitos humanos que a assistem e que as deve colocar em prática.

Assim sendo referiu que quando se fala de empoderamento da mulher ou da rapariga é para que elas saibam que têm o poder de decidir sobre as suas próprias vidas e sobre a sexualidade.

 

AUSÊNCIA DE PROFESSORES NAS ESCOLAS

No que se refere a Educação e Desenvolvimento Humano, as raparigas queixaram-se das constantes ausências dos professores nas salas de aula. Para elas, este facto está a comprometer também o cumprimento do plano escolar de aulas ao longo do ano lectivo. Outro factor apontado é a baixa qualidade de ensino e infra-estruturas escolares ainda insuficientes para acolher crianças.

Ainda neste diapasão, a corrupção nas escolas foi outra questão levantada pelos participantes.

Helena Garine, painelista e representante da Procuradoria-Geral da Republica, referiu-se a educação como a chave para o desenvolvimento da sociedade.

A nossa educação começa em casa, depois temos outras instituições responsáveis também pela educação como a escola, a igreja, entre outras instâncias que são responsáveis pela nossa formação e desenvolvimento humano, explicou.

Garine lamentou a postura actual dos adolescentes e jovens e apelou a maior responsabilidade deste grupo na tomada de decisões que norteiam as suas vidas.

Realizamos debates entre escolas

– Ivânia Bela, 14 anos, activista em Inhambane

Ivania é activista da Organização Pathfinder na província de Inhambane. Para ela a maior preocupação na sua província são os casamentos prematuros.

Na minha província as raparigas casam-se cedo com o consentimento dos pais e param de estudar, disse a adolescente.

Envolver a religião nesta luta

-Adina  Amade, 19anos, activista em Nampula

Devemos envolver a religião nesta luta, pois ela tem um papel fundamental na realização de casamentos. Em casamentos de menores ela também está lá. Por isso pensamos que ela tem um papel desencorajamento deste acto, afirmou.

Ainda interagindo com o nosso jornal, Adina referiu que o acesso aos serviços básicos de saúde ainda constitui uma das preocupações que traz da sua província para conferência.

Nós as raparigas não temos prioridade nos centros de saúde. Quando uma adolescente quer iniciar com o planeamento familiar, eles recusam , partilhou.

Luísa Jorge
luísajorge@snoticias.co.mz

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