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Encontrámo-lo nu… por cima do corpo sem vida

Por admin

-relatam testemunhas ouvidas pelo domingo

Um crime fora do comum ocorreu há meses no bairro Coca Missava, cidade de Xai-Xai, província de Gaza. Sansão António Bila manteve a cópula com o cadáver da sua própria irmã, Glória António Bila. Essa perversidade era o epílogo de uma sessão de bebedeira, pancadaria e assassinato. 

Três elementos da mesma família e um amigo juntaram-se para tomar uma bebida tradicional conhecida como ntontonto no sul do país. A testemunhar esta farra estava Stela Cossa, de 18 anos, sobrinha da malograda Glória Bila. “A minha tia, o marido, o tio Sansão e um amigo deles bebiam desde as primeiras horas do dia”.

E foi uma longa sessão de copos que decorreu aparentemente sem sobressaltos, até que, a meio da noite, num dos cómodos do quintal da residência da família Bila, o marido da finada, Boaventura Alefa Alungo, de 32 anos, resolveu ajustarcontas que tinha com a sua mulher. Nesta circunstância estava somente o casal a discutir a sua relação que “não ia nada bem”.

 Na verdade, “a minha tia tinha abandonado o lar e passado a morar connosco, uma vez que o marido batia muito nela”, conta Stela Cossa.

Com efeito, a ida de Boaventura à residência dos Bila tinha como finalidade “recuperar” a companheira, de acordo com relatos da família. Mas, ao que tudo indica, não logrou os seus intentos.

A decisão da sua mulher de desistir do lar ficou atravessada na sua garganta, e a reacção chegou de pronto.

ESPANCOU-A E DEIXOU-A SEM ROUPA

De um buraco da parede da casa, Stela Cossa viu Boaventura a apertar o pescoço da sua tia e a espancá-la. “Depois a arrastouda sala para o quarto e empurrou-a contra uma base de madeira, onde sofreu um embate na cabeça. Ela gritava a todo o instante, pedia água; para ir à casa de banho… tudo era recusado por ele”, garante a jovem.

Minutos depois, a sobrinha da malograda viu o marido da sua tia a despi-la. “Neste momento, parei de espiar pelo buraco e tentei dormir”.

Uma vez desligada dos acontecimentos passou a não ter a noção dos factos, até que, por volta das cinco da manhã, ao perceber que Boaventura já se tinha retirado daquele espaço para ir ao encontro de Sansão Bila que, por sinal, se encontrava a beber em outro espaço adjacente à casa, dirigiu-se ao quarto da tia com o intuito de avaliar o seu estado de saúde, após o incidente.

 “Ela estava deitada de costas, sem roupa. Levei um lençol branco e cobri-a, em seguida, fui lá para fora preparar um chá. Queria que ela aquecesse o corpo”. Uma vez pronto, encetou tentativas de acordá-la, mas não foi feliz.

Nesse momento, o marido da vítima e seu irmão sugavam aos sorvos a sua bebida de eleição e mostravam-se “embriagados”, o que levou Stela Cossa a buscar ajuda fora de casa.

NU POR CIMA DO CORPO DA IRMÃ

Ao regressar da casa de pessoas amigas e vizinhas para onde fora lançar o pedido de socorro, Stela Cossa, “a tia Maimuna e a tia Maria” encontraram Sansão Bila, de 45 anos, solteiro, por cima da Glória.

 Imediatamente, ordenaram que ele se retirasse, mas a resposta do Sansão espantou a tudo e todos. “Ele gritava que as tias (que lhe davam ordens) estavam malucas”.

Mais testemunhas foram chegando. António Cravera, vizinho da família da malograda, afirma que quandose fez ao local“encontrei o jovem, nu, molhado… pedimos que ele se vestisse”, em seguida chamaram as autoridades policiais para participar o caso.

Com efeito, uma equipa conjunta composta pela Polícia da República de Moçambique (PRM) e técnicos de Saúde foi destacada, sendo que as suas acções culminaram com a detenção dos dois indivíduos: o marido da vítima, acusado de assassinato, e o irmão da malograda pelo acto sexual com restos mortais, conforme avançou Jeremias Langa, chefe do Departamento de Relações da PRM na província de Gaza.

Pode ser um caso situacional

– Rômulo Muthemba, psicólogo clínico

Convidado a fazer uma avaliação em torno do comportamento de Sansão Bila, o psicólogo clínico, Rômulo Muthemba, admitiu a possibilidade de se tratar de um acto movido pelo meio de convivência. “Provavelmente, se tratou de um caso situacional, tendo em conta o ambiente (de consumo de bebidas alcoólicas) em que este indivíduo se encontrava. Entretanto, é importante entender que o álcool, quando associado com alguma perturbação psiquiátrica como esquizofrenia, em que o sujeito não tem discernimento e não consegue adiar o impulso sexual e a capacidade de fazer escolhas, pode desencadear situações como a de Xai-Xai”.

Um dado não menos importante lançado por Muthemba indica que, em algumas situações, “elementos como bebidas alcoólicas podem igualmente, servir de alavanca para despoletar uma tendência que estava escondida no indivíduo, tal como algum comportamento sexual desviante.

Assim sendo, o psicólogo clínico não afasta a possibilidade de Sansão sofrer de uma perturbação da sexualidade, mas avisa que para se chegar a algum diagnóstico, é sempre necessária uma avaliação do indivíduo.

Perturbações

da sexualidade

De uma forma sistematizada, aclara Muthemba, as perturbações da sexualidade podem ser divididas em “Quantitativas ou Disfunções Sexuais (a ejaculação precoce, disfunção eréctil, por exemplo); Qualitativas ou Parafilias, e Perturbações de identidade e de género”.

As causas das disfunções sexuais são várias: “podem ser a ansiedade, o desconhecimento da técnica sexual, uso de substâncias e fármacos, etc.”.

No que diz respeito às Parafilias, Muthemba explica que se trata de um conjunto de perturbações da sexualidade, que se caracterizam pela presença de desejos sexuais e fantasias sexualmente excitantes, intensas e repetidas, “envolvendo objectos não humanos, cadáveres, crianças ou outras pessoas sem o seu consentimento”.

Essas perturbações podem consistir em o indivíduo sentir desejo por um objecto inanimado (fetichismo); por um animal (zoofilia); cadáveres (necrofilia), ou por observar outros indivíduos a despirem-se ou a ter relações sexuais (Voyerismo).

Expor os órgãos genitais a pessoa estranha e desprevenida (Exibicionismo) e excitar-se sexualmente com o acto de encostar, esfregar-se ou pressionar contra uma pessoa sem o seu consentimento (Frotterismo) alargam o leque dos comportamentos sexuais desviantes, conforme enumera o psicólogo clínico, Rômulo Muthemba

Questionado sobre a ocorrência de casos de necrofilia em Moçambique, Rômulo Muthemba revela a carência de dados ligados a esta perturbação. “Que seja do meu conhecimento, somente um caso de parafilia, em que se percebeu que um indivíduo do sexo masculino fantasiava actos sexuais com cadáveres. E decorrente do acompanhamento feito ao nível psiquiátrico teve uma evolução positiva, tendo-se desviado as suas fantasias para figuras humanas”.

‘Psa yila’ (é imoral)

Luísa Gomes

Dormir com um cadáver ‘psa yila’ (é imoral). Essa pessoa deve, inclusive passar por um tratamento tradicional, para se livrar de azares e libertar a própria morta. Estas são palavras de Luísa Gomes, residente em Maputo, a propósito do comportamento sexual que levou Sansão Bila aos calabouços. Ao longo da conversa com o domingo esta idosa lembrou-se de um episódio ocorrido há vários anos, na província de Inhambane, em que “um homem tirou a vida da sua esposa e, consumado este crime, teve um acto sexual com os restos mortais”.

Na sua interpretação e dos demais membros da sua comunidade, estes comportamentos revelam que tais indivíduos apoiam-se na superstição, para alimentar a ganância de ficar ricos, entre outros motivos. “Isso chama-se ku khendla(um ritual com fins obscuros)na minha língua. É o que move alguns pais a praticarem relações sexuais com as suas próprias filhas, entre outros impropérios”.

Entretanto, no caso de Xai-Xai, a anciã admite a possibilidade de o desejo de Sansão ter-se arrastado desde os tempos em que a irmã estava viva. Para ela, “tudo é possível! esse sujeito pode ter cobiçado a irmã em vida e, na impossibilidade de manifestar seus instintos, aproveitou-se do estado de embriagues para realizar a cópula com os restos mortais”, rematou.

Fotos de Jerónimo Muianga

Texto de Carol Banze
carolbanze@snoticias.co.mz

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