Vinte e nove pessoas portadores de fissura fácio-labial foram operadas gratuitamente e com sucesso no navio-hospital italiano Cavour, no Porto de Maputo. Denominada Operação Sorriso, a campanha foi realizada por equipas mistas de médicos italianos e moçambicanos e foi especialmente dirigida para pessoas carenciadas.
Os pacientes, na sua maioria crianças e jovens, ficaram internados no navio-hospital quatro dias na companhia de familiares e beneficiaram de intervenções cirúrgicas gratuitas.
Toda a assistência dos doentes e seus acompanhantes foi a custo zero. As intervenções cirúrgicas foram levadas a cabo por uma Organização Não-Governamental médica denominada Operation Smile em parceria com o Governo moçambicano através do Ministério da Saúde.
A equipe médica que realizou as cirurgias era composta por 35 elementos, dos quais médicos de diferentes nacionalidades e enfermeiras voluntárias da Cruz Vermelha Internacional e Organização Crescente Vermelho, para além de outros elementos assistentes no processo. Cada operação tinha em média duração de 45 minutos.
De acordo com o Director Regional em África, Mark Beers, as 29 cirurgias decorreram sem complicações. Do universo acima descrito, apenas duas não eram facio-labiais.
“Tivemos dois casos especiais que não eram de correção facio-labial. Uma intervenção foi à uma menor de aproximadamente três que foi operada à vista e outra consistiu na separação de dois dedos de um paciente que se encontravam ligados”, explicou.
Após abandonar o navio-hospital Cavour, os doentes continuaram por mais três dias internados fora das instalações da embarcação para cuidados pós-operatórios, estando presentemente no convívio familiar.
As consultas no ambulatório estarão a cargo de médicos moçambicanos.
NAVIO REGRESSA EM JUNHO
O navio-hospital voltará ao país em Junho do presente ano e, para além de especialistas de fendas labiais, a equipe contará com médicos dentistas para proceder controle dos pacientes.
No mesmo mês a embarcação visitará a província de Sofala. “Na cidade da Beira também procederemos as intervenções cirúrgicas e esperamos realizar cerca de 125 operações”, explicou o médico Mark Beers.
Durante as cirurgias, a equipe estrangeira contou em Maputo com o apoio de quatro técnicos moçambicanos, nomeadamente anestesistas e médicos de medicina geral.
Entretanto, estas actividades de assistência humanitária são realizadas também em parceria com a Organização Não-Governamental denominada Fundação Francesa Rava, especializada na luta contra cegueira que se encontrava a bordo do navio Etna mais um dos quatro navios italianos que também se encontravam no Porto de Maputo.
O grupo deixou a Itália em meados de Novembro de 2013 em direcção ao Canal de Suez para começar uma campanha naval através do Mar Vermelho, Golfo de Áden e no Golfo Árabe, terminando com a circunavegação da África.
De referir que fenda labial ou palatina é uma deformação genética que ocorre durante a formação e desenvolvimento do feto. Caracteriza-se pela presença da comunicação buco-nasal em consequência da perfuração do palato.
Cirurgias decorreram com sucesso
O domingo conversou com alguns moçambicanos que beneficiaram de tratamento gratuito em cirurgias nas fissuras labiais. Trata-se de doentes que sexta-feira passada foram transferidos do navio-hospital para outro local de acomodação no bairro de Sommershield onde seriam hospedados para prosseguirem com assistência médica pós-operatória .
Os beneficiários de tratamento foram unânimes em afirmar que tratou-se de uma oportunidade única que tiveram, que custaria custar-lhes-ia valor monetário elevado e, quicá, uma deslocação para fora do país.
Foi uma oportunidade única
Alcino Moisés, de 22 anos de idade, é um dos pacientes que beneficiou da operação estética no lábio.Conversou com a nossa equipe no momento em todos os pacientes estavam a deixar o barco para serem internados num outro local.
Com sorriso estampado no rosto, conta que a operação correu bem.“Estou muito feliz e sinto-me outra pessoa. Operei no segundo dia da estadia no navio-hospital e até agora não tenho nenhuma razão de queixa”, disse.
No interior do navio esteve acompanhado da sua mãe que contou-nos que teve conhecimento desta oportunidade através do Hospital Central de Maputo (HCM), pois o filho já fazia acompanhamento desta doença naquela unidade sanitária.
Minha filha está mais linda
Luísa José Mangue é a mãe da pequena Amélia Armando de seis meses de idade que também teve a oportunidade de fazer a correção da fenda facio-labial.
Conta que passou a saber mais sobre a fenda labial quando sua filha nasceu. Teve o parto no Hospital Geral José Macamo. Por causa da descoberta da fenda no seu bebé, foi transferida para o HCM para proceder ao acompanhamento.
Disse que aquela constituía a primeira operação da sua filha e afirmou estar satisfeita com o facto de a filha ter sido operada com sucesso.
Estou satisfeita com o resultado
Elisa Alexandre, residente do bairro Mavalane “B”, arredores da cidade de Maputo, é mãe da pequena Helena Wilson, de cinco anos, que nasceu com fissura labial. Esta mãe mostrou-se satisfeita depois de ter visto corrigido o lábio superior do seu filho.
“Estou muito feliz ao ver a minha filha depois da operação. Não esperava que um dia ela seria corrigida na fissura labial e poder ser igual as outras crianças”, referiu.
Explicou que antes da operação a menina Helena tinha problemas em comunicar-se. “Quando tinha dois meses era difícil amamentar e isso influenciava no seu peso, porque era preciso usar biberões para alimentá-la”, lembrou.
Era bastante discriminada
Ilda Raul, residente em Hulene, na cidade de Maputo, tinha fenda labial e foi corrigida aos 27 anos de idade. Disse que foi bastante difícil enquadrar-se na sociedade com aquela deficiência.
A nossa interlocutora não escondeu a felicidade do resultado positivo alcançado. “Fui bastante discriminada devido a deformação facial que tinha. Lembro-me com tristeza quando fui expulsa pelo chefe do internato do Centro de Formação de Professores de Ensino Primário em Inhambane, onde eu pretendia formar-me como professora”, lamentou.
Atirada ao desemprego, pretende regressar ao Centro de Formação de Professores como já foi corrigida a deformação facial. Graças ao padre da Igreja Católica de Hulene soube da chegada do porta-aviões para as operações.
Esta é a terceira operação da minha filha
-Arneta Baloi
Diana Nhantsave, de 7 anos de idade, sofria de fenda no palato. Foi uma das pacientes portadoras daquele problema de saúde no seio dos 29 moçambicanos operados.
“Minha filha fez a sua primeira operação em Maputo, no ano 2008. Um ano depois, fomos a Itália onde procedeu a sua segunda cirurgia. Após regressar ao país, retomei as consultas dela no HCM onde fui informada da vinda dos médicos voluntários para estas operações”, disse Arneta Baloi, mãe da pequena Diana que mais adiante afirmou que sua filha está a reagir bem até o momento.
Com uma expressão alegre, Arnete Baloi afirma que as cirurgias pela qual a filha passou revelam a sua persistência em lutar pela saúde e bem-estar de sua filha.
Os médicos foram atenciosos
Marcia Bachita é outra mãe que conversou com o domingo à saída do navio-hospital. Com seu filho Marven, de 2 anos de idade, que fez cirurgia interno facial, contou que o que mais lhe impressionou foi o cuidado e atenção dos médicos para com os doentes. “Eles foram muito atenciosos connosco. A equipe deles é grande e completa. Tivemos uma nutricionista que falou dos cuidados que devemos ter, sobretudo nesta fase pós-operação. Explicaram-nos que alimentos devemos dar neste momento às nossas crianças, como confecionar as papas até eles se readaptarem e começarem a consumir gradualmente alimentos sólidos”.
Navio “peregrino”
Depois do nosso país, o Cavour rumou à Cidade do Cabo, na Africa do Sul, onde prevê operar 20 pacientes. Após este país, Gana será o país que seguir-se-á, onde a equipe prevê realizar mais 30 operações facio-labiais.
Refira-se que o navio-hospital italiano já realizou a mesma missão no Marrocos, Gana, Angola, Congo e outros países africanos.
Para além do navio-hospital, a frota italiana que atracou no Porto de Maputo era composta por mais três navios, nomeadamente o Etna (navio de abastecimento), Bergamini( uma fragata) e o Borsini ( navio de patrulha marinha).
A frota deixou a Itália em meados de Novembro de 2013 em direcção ao Canal de Suez para começar uma campanha naval através do Mar Vermelho, Golfo de Áden e no Golfo Árabe, terminando com a circunavegação da África.
Segundo contou o comandante, a campanha naval tem como lema “Um país em Movimento” . Trata-se, segundo ele, de uma iniciativa ambiciosa, considerando que a missão requer múltiplas tarefas, com destaque para assistência humanitária, formação, construção de confiança, cooperação, diplomacia naval e promoção das empresas italianas.
TRIBUTO RESPEITOSO
À MOÇAMBIQUE”
“A Itália está aqui, hoje, com o potente porta-aviões e esta presença forte deve ser vista como um tributo respeitoso à Moçambique e o especial sinal de amizade por parte da Itália”, disse o comandante Paolo Treu.
Por seu turno, o embaixador da Itália em Moçambique, Roberto Vellano, informou que a visita tinha como fim oferecer uma a oportunidade para intensificar as relações entre as duas marinhas. “Vai permitir a melhoria de conhecimento, informação e intercâmbio de experiências operacionais”, referiu.
Segundo Vellano, a amizade entre os dois países assenta as suas bases numa parceria sólida experimentada durante muitos anos e que continua tendo um programa de cooperação e desenvolvimento. Abrange, actualmente, um leque muito amplo de actividades no domínio político, socioeconómico e cultural.
“Neste Marco, a presença em Moçambique de navios italianos, para além de ser orgulho para nós, é, também um sinal do interesse das empresas italianas. Portanto, esta missão está incluída no calendário das actividades de promoção do sistema produtivo italiano em Moçambique”,frisou.
O 30º Grupo Naval que deixou Maputo sexta-feira. Entretanto, o navio patrulha Borsini poderá permanecer no Porto de Maputo por um período de dois meses a cooperar com a marinha de guerra moçambicana.
Este grupo espera regressar à Itália após cerca de cinco meses ter navegado por 10 mil milhas náuticas cerca de 36 mil quilómetros, visitando 19 países.
Composição do navio-hospital
O porta-aviões Cavour é composto por uma enfermaria constituída por duas salas de operações; duas salas de estadia e tratamento pós-operatório; uma sala para tratamento ortopédico, oftalmológico, aparelhos de diagnóstico de tecnologia de ponta, incluindo o aparelho de ressonância magnética.
No interior da embarcação, uma das alas estava reservada à uma exposição das potencialidades que a Itália tem no mundo de negócios com mais de 20 stands contendo diversos produtos com destaque para a indústria mobiliária, na qual a Itália é reconhecida internacionalmente.
O comandante do navio-hospital, o Almirante Paolo Treu, disse que aqueles navios fazem parte do trigésimo Grupo Naval italiano.
Historial da Operation Smile
Operation Smile (Operação Sorriso) é uma organização médica Não- Governamental e sem fins lucrativos fundada em 1982, na cidade de Norfolk, na Virgínia, Estados Unidos da América.
Trabalha com crianças que possuem o lábio leporino (fenda labial), oferecendo cuidados médicos como a cirurgia de reposição labial em todo o mundo.
Ao longo desses anos de existência, a organização voluntária, composta por médicos de diferentes países, realizou cirurgias há mais de 140 mil crianças, jovens e adultos em mais de 50 países dos diferentes continentes.
Tornou-se mundial após o convite feito por Madre Teresa de Calcutá para que eles fossem à Portugal tratar de crianças portadoras daquela deficiência.
Estima-se que existam no mundo mais de 200.000 crianças que nascem acometidas de fissuras facio-labiais.
Em África estima-se que uma em cada mil crianças nasce com esta deficiência na formação do lábio.
Luísa Jorge e Idnórcio Muchanga