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Contornos de um crime que está a chocar Messica

Por admin

Messica, no distrito de Manica, província do mesmo nome, ainda não se refez do abalo provocado pelos assassinatos de um pai e dois filhos.Trust José, 46 anos, Botewero José, 14, e Stiven José, 11, foram mortos por volta das 19 horas de 27 de Agosto no povoado de Maheu, por um grupo que já está a contas com a Polícia.

Pai e um dos filhos morreram no local do crime. O outro perdeu a vida no Hospital Provincial de Chimoio (HPC) para onde havia sido levado a fim de receber assistência médica após contrair ferimentos graves na cabeça. Os autores do crime terão recorrido a um varão aguçado com o qual desferiram golpes contra as vítimas.

domingoviajou para Manica e traz os contornos deste crime que deixou de rastos não só os familiares mais directos das vitimas, como também toda a povoação que ainda vive momentos de tristeza.

Tudo começou quando Trust José, homem que se dedicava ao transporte de mercadorias, recebeu uma chamada telefónica na sua zona de residência em Messica na qual um grupo de cidadãos solicitava os seus serviços.

Longe de imaginar que estava cair numa teia criminosa, e vendo que já estava escurecer, Trust José decidiu levar consigo seus dois filhos e dirigiu-se ao encontro dos supostos clientes.

Era o começo de uma viagem sem regresso, porque a viatura em que seguiam foi imobilizada por desconhecidos que de imediato começaram a agredir as três vitimas. O pai foi espancado na cabeça e espetado um objecto metálico no abdómen. Os meninos sofreram na parte facial e no pescoço.

Trust José deixa três viúvas e dez filhos que já estão a passar por dificuldades de vária ordem com falecimento do chefe da família, que coincidentemente era o principal sustento.

Um dia antes da morte do meu esposo chegou um jovem aqui em casa a pedir emprego. Queria ser motorista, mas meu esposo recusou. Dia seguinte, de manhã chegou outro com o mesmo desejo. Meu esposo voltou a dizer que não havia emprego para motorista. Depois meu marido foi à vila fazer compra para levar à banca na zona de Chitunga, contou Rudo Oliver, a esposa mais velha do finado.

Rudo explicou que quando o marido regressou da vila seguiu viagem para povoado de Chitunga que dista 18 quilómetros.Passou daqui para levar a motorizada e foi a Chitunga. Passou o dia na banca onde estava a segunda esposa. À tarde, ele ligou-me a dizer que devia ir à cidade de Manica levar dinheiro. Fui e quando regressei, por volta das 17 horas, perguntei por ele aqui em casa e disseram-me que regressou de Chitunga e saiu com dois filhos para atender a um pedido porque acabava de receber uma chamada telefónica de alguns clientes que queria carregar mercadoria. Fiquei sossegado pensando que havia de regressar, detalhou a viúva visivelmente chocada.

A conversa com o domingo foi muitas vezes interrompida porque a entrevistada estava visivelmente emocionada. Chorava a todo o momento.Perto das 20 horas vi o carro do meu marido a passar numa rua próxima daqui em casa a alta velocidade. Pensei que fosse ele a ir deixar alguma coisa e havia de regressar. Quando eram 22 horas, tentei ligar para ele. O telefone estava desligado. Porque nunca mais regressava, voltei a insistir duas horas depois, mesmo assim continuava desligado. Até às 6 horas da manhã não tinha nenhuma comunicação com meu esposo e comecei a ficar muito mais preocupada,declarou.

Rudo Oliver explicou que por causa da aflição pensou em telefonar para sua rival que na naquele dia se encontrava na banca, em Chitunga. Em resposta, esta disse que não tinha conhecimento, pois, o marido havia saído dia anterior dizendo que ia atender alguns clientes.

Quando eram 10 horas, telefonou para o posto policial de Chitunga e foi aconselhada a aguardar.Quando liguei pela segunda vez disseram que devia esperar porque estava a vir um membro da Polícia conversar comigo. Esperei e chegaram dois agentes. Primeiro procuraram saber o que estava se passar comigo. Quando expliquei disseram que a população da zona de Maheu acaba de achar dois corpos sem vida. A terceira vítima foi socorrida para o hospital rural de Manica em estado grave. Os cadáveres já estavam na casa mortuária e eu devia ir identificar se era meu esposo e filhos ou não.

A entrevistada deslocou-se à casa mortuária e confirmou que os restos mortais eram efectivamente de seu marido e de um dos filhos. Depois dirigi-me ao hospital local para ver a terceira vítima. Informaram-me que havia sido transferido para Hospital Provincial de Chimoio onde veio a perder a vida.

 

Família em dificuldades

Rudo Oliver, uma das viúvas, disse que desde que o marido morreu, a vida tornou-se mais penosa. Para além dela mais duas rivais com quem partilha o mesmo tecto, passam grande carência com os seus dez filhos que precisam de assistência e educação.

Rudo, de 25 anos de idade, tem um filho. Sua irmã, por sinal ex-rival, Stella Oliver também tem um filho. Outra rival, Tcheride Maqui, de 24 de idade, fez quatro, totalizando seis filhos. Trust José teve outos quatro filhoscom duas mulheres com quem já estava separado. Todos menores vivem na mesma casa e o mais velho tem apenas onze e frequenta a 5ª classe. 

Rudo Oliver contou que neste momento a família sobrevive com o que sobrou na barraca do falecido em Chitunga. Não sabe o que é que poderá acontecer no futuro.

A vida não está fácil. Desde que meu marido morreu estamos assim como está ver. A pobreza tomou conta de nós. Ficamos com dez crianças que precisam de nós. Não sabemos por onde começar. Agora tentamos gerir aquilo que ele deixou lá na banca, mas está complicado. Dono é sempre dono. Ele sabia como movimentar as coisas. Nós não sabemos quase nada. Mesmo para comer aqui em casa está ser um problema, lamentou Rudo Oliver.

Tcheride Maqui, mãe de quatro filhos, confirmou que no fatídico dia se encontrava em Chitunga. Referiu que quando seu marido saiu da banca disse que ia tratar um negócio com algumas pessoas que queriam carregar mercadoria.

Saiu rapidamente. Só disse que ia tratar de negócios. Fiquei tranquila porque sempre fazia isso. Passava o dia na banca e quando tivesse outros assuntos por tratar saía. Naquele dia não achei nada de anormal. Na manhã do dia seguinte fiquei assustada quando recebi chamada da minha companheira a perguntar do paradeiro dele. Mesmo assim, fiquei tranquila pensando que havia de voltar. Mais tarde recebi informações sobre a morte dele e um filho. Horas depois apercebi-me que outro filho também havia perdido a vida no hospital, em Chimoio. Foi um golpe duro para nós, disse.

As duas viúvas,que falaram em nome da família Trust José,pedem para que seja feita a justiça de modo a se responsabilizar os autores do crime. Fomos informados que os bandidos foram capturados com excepção de um que é o chefe da quadrilha. O que queremos é que seja feita a justiça porque a desgraça que hoje estamos a viver foi causada por esses indivíduos”, sublinham.

CAPTURADOS EM MARÁVIA

Refira-se que há dias, parte dos integrantes da quadrilha que assassinou Trust José e seus dois filhos foi capturada pela Polícia da República de Moçambique, no distrito de Marávia, na província de Tete, onde pretendiam vender a camioneta roubada em Messica.

Um dos integrantes do grupo, encarcerado no Comando da PRM, no distrito de Manica, explicou a jornalistas como é que tudo aconteceu até àmorte dos três indivíduos e o roubo da viatura. Contou que o esquema foi desenhado semanas antes e os dois jovens que se dirigiram à casa do finado à procura em emprego fazem parte do grupo.

A ideia inicial, segundo revelou, era conseguir emprego e desaparecer com a viatura. Porque o primeiro plano havia fracassado, foi desenhado outro que culminou com o assassinato.

Quem espetou um ferro às vítimas foi um dos meus companheiros detido na cidade de Chimoio. Na verdade mandamos parar a viatura. Meus amigos amarraram os três. Eu conduzi a viatura. Depois de alguns metros meu amigo mandou-me parar. Disse que queria isolar as pessoas. Quando chegou onde estavam bateu-os com varão afiado na cabeça e outras partes do corpo. Não sabíamos que eram membros da mesma família. Dois morreram ali e quando saímos outro ainda estava vivo. Mais tarde ouvimos que perdeu a vida, disse.

Declarou que depois de cometer o crime, seguiram viagem, na mesma noite, para província de Tete onde pretendiam vender a viatura.

Quando chegamos a Tete escondemos a viatura enquanto procurávamos comprador. Alguém nos disse que no distrito da Marávia havia alguém que precisava de uma camioneta. Foi quando decidimos ir até aquele distrito. Foi lá onde fomos apanhados pela Polícia, narrou.

A porta-voz da Polícia da República de Moçambique, em Manica, ElsídiaFilipe, confirmou que quando o crime ocorreu os suspeitos fugiram com a viatura para a província de Tete.

Quando a Polícia recebeu esta informação, iniciou um trabalho operativo localizando os corpos das vítimas numa mata. A família veio informar sobre o desaparecimento das três pessoas.

Das investigações feitas ficamos a saber que Trust José recebeu um telefonema em que os bandidos fizeram-se passar por clientes que queriam alugar a sua viatura. No local cometeram o crime e desapareceram com a camioneta, contou Filipe.

A viatura foi recuperada no distrito de Marávia, em Tete onde estava à venda.

De acordo o porta-voz, não é primeira vez que este grupo comete crimes hediondos na província de Manica. Referiu que a mesma quadrilha já escalou o distrito de Sussundenga onde também matou um comerciante.

É um grupo que tem aterrorizado a província. Escalou o distrito de Sussundenga onde similarmente matou e roubou. É uma perigosa quadrilha. Estamos a trabalhar para ver se temos mais integrantes do grupo que eventualmente possam estar fora do nosso controlo. Serão responsabilizados, frisou.

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