Orlando Isaías Macuacua, de cerca de 65 anos de idade, pai de 35 filhos com sete esposas, residente da localidade de Macuácua, a cerca de 15 quilómetros a sul da vila de Mabote, distrito do
mesmo nome, considera-se um homem feliz e rico pelo facto de ter produzido na presente campanha agrária o suficiente para não se queixar de fome nos próximos dois anos.
Macuacua, que conta com um agregado familiar de 45 pessoas, vivendo em quinze palhotas de tipo “O”, afirmou em contacto com a nossa Reportagem que mesmo antes de finalizar a colheita da sua produção nas suas várias machambas, já conseguiu na safra agrária ainda em curso estabilidade alimentar para sua família que se estenderá até 2015.
“Trabalhamos muito. Empenho-me muito para dar de comer à minha numerosa família. Há um ditado segundo o qual os chifres ou cornos não pesam em seu próprio dono, daí que não quero culpar a ninguém e muito menos chorar para que alguém dê de comer à minha própria família”, disse Macuácua.
Com cerca de 35 hectares de terra cultivada com recurso a duas juntas de bois e as suas sete esposas e filhos, Orlando Macuácua, que é também médico tradicional, agente económico, criador de gado bovino, apicultor e produtor de castanha de caju, colheu na presente campanha agrícola, cerca de 15 toneladas de milho, nove de amendoim, sete de feijão nhemba, três de mapira e duas toneladas de castanha de caju, diz que a sua grande preocupação nos próximos dias, é reforçar o sistema de armazenamento e conservação dos produtos, porque os celeiros que tem em casa, incluindo os chamados “tipo Gorongosa” , revelam incapacidade para absorver toda a produção.
Este agricultor, que também possui cerca de 300 cajueiros além de dar assistência a 250 produtores de castanha de caju na região na sua qualidade de provedor no combate de doença de oídio, é detentor de 100 colmeias e colheu nesta campanha 200 litros de mel, muito pouco para aquilo tem sido normal, cerca de 500 litros em boas épocas.
Para reforçar a sua actividade, produção agrícola, Macuácua recorreu ao Conselho Consultivo Distrital onde submeteu um projecto de produção de comida avaliado em cerca de 35 mil meticais.
“Felizmente o meu projecto foi financiado. Recebi o dinheiro e apliquei-o na sua totalidade. Já comecei a reembolsar. Paguei 15 mil meticais. A minha aposta é pagar tudo para depois solicitar outro empréstimo, porque quero continuar a trabalhar a terra, uma vez que estou a conseguir resultados satisfatórios”, afirmou Macuácua.
Aquele que é também considerado pelas estruturas administrativas em Mabote um agricultor de contacto naquela zona, razão pela qual tem um acompanhamento especial de um extensionista agrário afecto a tempo inteiro à sua actividade, também para transmitir novas tecnologias de produção a cerca de 250 camponeses da região de Macuacua, reforça que o seu sonho é “avançar mais em termos de tecnologias. Comecei com enxada de cabo curto. Agora estou a trabalhar com tracção animal. Quero passar para uma agricultura comercial, e para tal, gostaria de ter um tractor, porque na minha opinião, há motivos fortes para o governo dar outro tipo de apoio que seria alocar um tractor e respectivas alfaias agrícolas”, pediu Orlando Macuacua.
O ambiente familiar é saudável
Em conversa com o domingo,mesmo evitando falar da sua experiência na gestão da sua família, o curandeiro-agricultor deixou escapar que todas as suas esposas têm bebés de aproximadamente um ano de idade.
E mais:“aqui somos todos unidos. Quando amanhece, cada um sabe o que faz. Não há guerras. As mulheres são uma equipa, enquanto umas vão à machamba, acompanhadas por alguns dos meus filhos, outras ocupam-se das tarefas caseiras. Aqui a vida flui normalmente. Nunca geri confusão” explicou.
Num outro desenvolvimento, Macuacua negou que as suas esposas mais jovens tenham-lhe sido oferecidas como moeda de troca por alguns clientes seus na sua actividade como curandeiro. “Tenho sim esposas jovens, mas isso não tem nada a ver. Como consegui? Esse é meu segredo, que não posso revelar, o importante é que aguento bem com todas”, esclareceu Macuácua interrompendo a conversa com risos.
Exemplo da luta contra fome
O governador da província, Agostinho Trinta, no âmbito da visita que efectuou às áreas agrícolas e aos celeiros deste agricultor, garantiu que o governo local, bem como da província vai prestar atenção necessária a este tipo de iniciativas, uma vez que, “Orlando Isaías Macuacua, é exemplo de empreendedorismo. Por isso, faremos o que estiver ao nosso alcance para que ele chegue o mais longe possível na sua actividade agrícola”.
Agostinho Trinta reiterou que só com trabalho sério podemos acabar com a fome. “E Macuácua não ficou à espera de donativos. Foi à machamba e o resultado é o que vemos. Tem comida que basta para a sua numerosa família. Por isso, é bom que todos façam como o Macuacua que conta com suas próprias forças para produzir comida para sua família”, apelou Agostinho Trinta.