Opinião

Quando mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão

A polémica parece estar instalada. Parece ter vindo para continuar. Isto no que se refere à greve dos médicos. Ao que se sabe, ao que tem vindo a público, a questão é por 

demais controversa. O que se pode concluir, em primeiro lugar, é que estão perante ideias e concepções completamente diferentes de remunerar o trabalho. E tenhamos sempre presente que trabalho é sempre trabalho. Que pode haver trabalho sem haver emprego. Que emprego é coisa bem diferente de trabalho. Para além das questões de ética, de deontologia ou de moral que a greve, em si própria, possam suscitar, há outras que não podem ser perdidas de vista. Diz o provérbio popular que “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Pode não ser exactamente o caso. O que acontece, o que pode estar a acontecer, para quem lê jornais e recebe mensagens por correio electrónico, é que existe pão. Pode ser pouco mas há pão. Só que não estará a ser distribuído com justiça. Com justiça social. O que pode ser visto à luz do verso do cantor quando canta que “Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”. De resto, neste ano de 2013 vir falar e pedir sacrifícios a uns tantos, não ocorreria nem a Belzebu. Porque não passa de argumento falacioso. Demagógico. De recordar que o tempo do trabalho voluntário e dos sacrifícios individuais e colectivos terminou há muitos anos. Terminou quando acabou a I República. Terminou com a morte de Samora Machel. E nada adianta, hoje, tentar transformar uma questão laboral em questão ideológica. Seguir por estes caminhos não passa de tentativa para atirar poeira para os olhos do cidadão. Sem perceberem, certamente, que os olhos do cidadão começam a ficar imunes à poeira. Que conseguem ver o que se passa para além dela. Para além da poeira. O que é bom para todos, para a sociedade. Resumir que o conflito entre os médicos e o Estado não é um problema conjuntural e nem temporal. É um problema estrutural. Que deve merecer a devida atenção e análise do governo, do Conselho de Ministros. A questão é demasiado grave, demasiado profunda, demasiado complexa para que possa continuar a ser tratada com a ligeireza, a leviandade e a infantilidade com que tem vindo a ser tratada. Isto, em nome e em defesa dos direitos constitucionais dos cidadãos e dos doentes que recorrem aos hospitais públicos. 

 

Na sua edição da passada quinta-feira (página 1), o “Notícias” titulava que “Numa medida mais abrangente”, “Estuda-se ajuste salarial na Saúde”. E logo a seguir escreveu que O Governo está a equacionar um aumento salarial para o pessoal da Saúde, incluindo os médicos, em greve geral desde segunda-feira convocada pela respectiva associação, não se sabendo em que moldes será, nem quando vai se materializar. O matutino cita, a seguir, um porta-voz do Ministério da Saúde a dizer a jornalistas que mais dados serão revelados oportunamente, sendo que aquela instituição com outras entidades do Executivo está a discutir um incremento de honorários daqueles profissionais. Ainda segundo o “Notícias”, o referido porta-voz Ressalvou, porém, que esta análise já estava em curso antes da eclosão da greve. O que sendo, sendo, sem dúvida, uma boa notícia, uma boa informação, não chega, não é suficiente para acalmar os espíritos. Muito pelo contrário. Revela incompetência e burrice. Quer dizer, os burróides a quem foi entregue a gestão da Saúde no nosso país conheciam e estavam a par dos problemas que existem na sua área. Mas preferiram esperar para ver. O resultado desse vosso “deixa-andar” foi a greve. Muito provavelmente e pelo que se está a ver, o Ministério da Saúde está infiltrado por agentes de serviços secretos estrangeiros. Será, nesta eventualidade, um pólo de conflito. Entre secretas. E como acontece nestes casos, quando mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão.

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