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Valas de drenagem precisam-se!

Por admin

O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) alerta para a necessidade de se investir seriamente na construção de valas de drenagem, sobretudo nos novos bairros que surgem como cogumelos nas cidades de Maputo e Matola, como forma de prevenir o cenário que actualmente se assiste milhares de casas alagadas logo no início da época chuvosa.

A época chuvosa e ciclónica ainda só começou e muitos bairros de Maputo e Matola já estão alagados só porque caíram uns 150 milímetros de chuva há cerca de um mês e mais uns 124 milímetros há cerca de uma semana.

Para o director do INGC, João Ribeiro, o cenário mais dramático ainda está por vir e nem sequer deve afectar as províncias de Maputo, Gaza e Inhambane. Todas as energias das entidades que lidam com a gestão de calamidades estão a ser reservadas para a chuva que deverá cair nas regiões Centro e Norte, cujo volume de água poderá ser igual ou superior ao do começo de 2014.

O que parece estranho em Maputo e Matola é que as primeiras chuvas que caíram em meados de Novembro de 2014 encontraram a terra ressequida e, mesmo assim, provocaram estragos de deixar qualquer mortal de queixo caído e a maldizer das nuvens negras.

Para o director do INGC, parte do problema que se está a assistir nestes dois municípios resulta da inexistência ou mau funcionamento de infra-estruturas de escoamento das águas pluviais acrescida da criação espontânea de bairros em zonas de risco. Aliás, nos bairros destas duas cidades, não precisa chover para haver problemas. Basta que se fure um tubo de água.

No campo também choveu, mas não tivemos problemas. Aliás, esta chuva é excelente para a produção agrícola e só faz mal para as populações que vivem nos novos bairros porque, ou tem drenagem que não funciona, ou nem sequer existem sistemas de escoamento”, afirmou.

Com efeito, a nossa Reportagem observou que a Administração Nacional de Estradas (ANE), por exemplo, investiu recentemente milhões de meticais na reconstrução da estrada que liga a Estrada do Jardim com a Fábrica Socimol, no bairro da Machava, cidade da Matola, e aproveitou o ensejo para edificar 14 lombas que tornam o tráfego lento como uma marcha nupcial.

Porém, todos aqueles cérebros envolvidos na obra, a começar pelo dono, fiscais, consultores, empreiteiros e outros com títulos de engenheiros, se esqueceram de construir um sistema de drenagem capaz de oferecer alguma longevidade àquela via.

Como resultado deste esquecimento a última chuva que caiu inundou a via e ali permanece a criar embaraços ao intenso tráfego. Pior do que isso, a estrada está a ficar “descabelada” a cada dia que passa, o que deixa antever que todo o investimento ali feito poderá ter sido em vão simplesmente porque ninguém se lembrou que “mais vale prevenir do que remediar”.

Municípios devem ser

os primeiros a intervir

Mesmo a propósito de prevenção, para além de valas de drenagem, consta que no país existem mais de mil (1000) Comités Locais de Gestão de Calamidades (CLGC), incluindo nas zonas propensas das cidades de Maputo e Matola, os quais funcionam como primeiro nível de alerta sobre o risco de qualquer tipo de calamidade.

Dados em nosso poder indicam que os tais mil comités dominam as técnicas e rotas de evacuação, primeiros socorros, aviso prévio, entre outros, para que ninguém seja surpreendido e fique para trás. Quando estas equipas sentem que estão perante “demasiada areia para o seu camião”, pedem ajuda às autoridades de nível municipal e distrital, consoante a zona onde o problema ocorre.

A título de exemplo, na zona onde se localiza a Estação de Tratamento de Água de Umbelúzi, na província de Maputo, o rio extravasou os seus limites e impediu a livre circulação de pessoas e bens. Perante a complexidade da situação, fez-se o alerta ao INGC ao nível da província e foram colocadas duas embarcações para flexibilizar a travessia.

No caso de bairros como Nkobe, Tsalala, Liberdade, Fomento, todos na Matola, e Zimpeto, Polana-Caniço, Benfica, Magoanine e Ferroviário, na cidade de Maputo, o INGC reitera que quem deve fazer as intervenções primárias são os conselhos municipais com um eventual apoio do INGC, caso se observem dificuldades de vulto.

Nós vamos observando, mas quem faz as primeiras intervenções são os municípios”, disse João Ribeiro, para quem as calamidades não se resolvem com meios humanos, materiais ou financeiros depois de acontecerem. “Se tens uma casa numa zona alta e segura não precisarás de ser resgatado. A medida que todos devemos tomar é a prevenção”, sublinhou.

Mesmo a propósito frisou que “há países com muitos meios mas, mesmo assim, a população morre por falta de prevenção”. Como forma de demonstrar que “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, Ribeiro apontou o exemplo da bacia do Zambeze onde na transição de 2007 para 2008 foi necessária intervenção de centenas de militares, socorristas e funcionários do INGC para resgatar a mais de 150 mil pessoas.

Entretanto, e graças às medidas de precaução tomadas a partir daquele ano, incluindo o reassentamento daquela população em zonas altas e seguras, na transição de 2008 para 2009 o número de pessoas sitiadas baixou para cerca de 50 mil e, presentemente, toda a população ribeirinha já conhece os sinais de risco e sabe o que fazer para evitar enfrentar a morte “pelos chifres”.

Na mesma senda, o director do INGC referiu que há dias as autoridades do distrito de Chókwe terão se apercebido do risco que a população de um dos bairros corria e investiu no desvio de um canal, o que permitiu que se comemorasse a passagem do ano com relativa tranquilidade, pese embora existam charcos aqui e ali.

Dinheiro não é tudo

Apesar da descentralização das competências e responsabilidades atinentes à gestão de calamidades, João Ribeiro revelou que o governo disponibilizou ao INGC um total de 160 milhões de meticais para a monitoria, supervisão, pré-posicionamento dos meios humanos e materiais, operações de busca e salvamento e assistência humanitária.

Este dinheiro foi estimado para cobrir estas despesas em 72 horas, em função da gravidade do evento, e os governos provinciais dispõem igualmente de fundos para as intervenções locais, concedidas no âmbito dos respectivos Planos Económicos e Sociais (PES).

Apesar da disponibilidade de fundos, Ribeiro repisa que há intervenções que devem ser feitas, ao nível municipal, para prevenir o cenário de inundações no meio urbano de Maputo e Matola. “Não basta dividir terrenos e distribuí-los. É preciso deixar “caminhos” para que a água siga o seu rumo. De outro modo, continuaremos a ter pesadelos na época chuvosa”.

Jorge Rungo

jrungo@gmail.com

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1 comment

Cortexi Review 11 de Março, 2024 - 15:57

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