Reportagem

Um mimo chamado Aeroporto de Nacala

O Aeroporto Internacional de Nacala (AIN), que foi inaugurado ontem pelo Chefe de Estado, Armando Guebuza, é uma obra que desafia o futuro. É o maior da região norte do país, tem a segunda maior pista ao nível nacional, está prenhe de tecnologias de ponta para a segurança e ajuda à navegação e, em termos arquitecturais, é o mais inovador por dentro e por fora. Um mimo. A Reportagem do domingo“acampou” por ali durante uma semana e traz os pormenores desta impressionante obra de raiz que se pretende que seja uma referência continental.

O Aeroporto Internacional de Nacala (AIN) não é ímpar somente por ser novo. Que ainda cheira à tinta fresca. Nada disso. É invulgar pelo seu arrojado desenho que desperta visões díspares. É como um quadro de artes plásticas pintado em jeito abstracto. Uns dizem que aquela infra-estrutura lembra um airbus e outros afirmam que aquele edifício lhes recorda uma tartaruga. É obra!

Lá dentro, sobram espaços para tudo e todos. Porém, no átrio reservado ao Check-in, o que chama toda a atenção são os majestosos candeeiros circulares e conjunto de colunas de som suspensas por finos cabos de aço que parecem desafiar a força de gravidade e oferecem uma visão espectacular. Não é por acaso que muitos não resistem à tentação de se deixar fotografar para colocar as imagens no famigerado facebook e whatsapp.

Na verdade, trata-se de um aeroporto construído a pensar no futuro, com todas as tecnologias do momento incorporadas e, algumas delas, de fazer inveja a alguns aeroportos da África Austral. A ideia dos que conceberam aquele “cartão postal” foi de dimensionar a obra para operações directas para os principais destinos do mundo.

Trocando em miúdos, o AIN tem a missão de acolher e despachar voos para lugares como a, Europa, América e Ásia pelo que, quando estiver a operar em pleno, poderá registar um fluxo de 500 mil passageiros por ano e com um nível de conforto tido como BOM, na classificação da Agência Internacional de Transporte Aéreo (IATA).

Para que não restem dúvidas sobre esta classificação, a nossa Reportagem abordou o director técnico do projecto, António Loureiro, o qual esmiuçou esta classificação dizendo que “ela é medida com base em áreas médias por passageiro, pelo que enquanto o AIN não atingir a cifra máxima de passageiros por ano, a classificação será superior a BOM. Não se trata de uma avaliação da qualidade de serviços prestados porque, para isso, existem parâmetros específicos”.

Para que os 500 mil passageiros por ano possam entrar e sair sem se acotovelarem, o AIN dispõe de uma área de 15 mil metros quadrados no terminal de passageiros pelo que António Loureiro afirma, quase jurando, que foram cumpridos na íntegra todos os requisitos internacionalmente aceites no que se refere à separação clara de zonas públicas e restritas, o que vai ajudar a garantir a segurança.

A título de exemplo, foram estabelecidos 16 balcões de atendimento para o check-in para que se possa atender a cerca de mil e 224 passageiros que cheguem ou saiam num dia de pico de operações, com o tal nível de conforto classificado por BOM.

Por outro lado, quem entra naquele imenso edifício nota que as chegadas e partidas domésticas estão claramente separadas das partidas e chegadas internacionais. Por outro lado, será muito difícil ter um passageiro perdido e que vá dar, por exemplo, ao interior de um gabinete das Alfândegas, vigilância Agrícola, Saúde, Migração ou Polícia, porque cada um destes serviços está claramente identificado e separado do outro.

Tecnologia para dar e vender

Construído no modelo Concessão-Construção, com financiamentos maioritariamente brasileiros, mas também com fundos do Governo moçambicano e da Empresa Aeroportos de Moçambique (ADM), este aeroporto deixa a todos os outros do país e da vizinhança “a roer as unhas” em vários aspectos, a começar pela última tecnologia de sinalização luminosa chamada LED.

António Loureiro, que recordamos, é o director técnico do projecto, afirma que o AIN é o primeiro aeroporto africano que usa tal sistema LED, que na verdade são pontos de luz mais pequenos e com “esperança de vida” mais longa e de baixo consumo de energia, quando comparadas com as lâmpadas de halogénio comuns em muitas pistas de aterragem.

O que os passageiros nunca hão-de ver com os próprios olhos é o que se passa no interior da Torre de Controlo cuja arquitectura é igualmente extraordinária. Aquele edifício parece ter sido desenhado a pensar numa taça ou numa garrafa de champagne. Tem 31 metros de altura e esbanja beleza e tecnologia.

Escalamos aquela sala de controlo de tráfego aéreo onde já foram instalados os equipamentos informáticos, incluindo monitores tácteis (touch screen), para o processamento de toda a informação sobre os voos que chegam, que partem e que atravessam o espaço aéreo.

Conforme apurámos, os aeroportos de Maputo e da Beira já usam este tipo de tecnologia que dispensa o papel e oferece a comodidade de ter tudo registado e gravado automaticamente por meio de um pequeno toque no ecrã.

Como é comum, a Torre de Controlo oferece uma vista de 360 graus e foi dali que apuramos o tamanho real da pista que é de três mil e cem metros, o que torna aquela pista a segunda maior a nível nacional, depois de Maputo (com cerca de três mil e quinhentos metros) e em terceiro lugar o aeroporto da Beira (com perto de dois mil e seiscentos metros).

Com uma pista daquele tamanho, o AIN pode acolher aeronaves enormes como Airbus A340 ou Boeing 747, que são os aviões mais corpulentos e com grande envergadura de asas e, na placa de estacionamento podem estar em simultâneo dois aparelhos deste tipo e mais dois de médio porte, de tipo Embraer 190 ou Boeing 737-500 ou combinados.

Mas, voltando às tecnologias, para além do convencional sistema de Rádio Ajuda, conhecido por VOR, que existe em quase todos os principais aeroportos, o AIN conta com um sistema inovador denominado ILS que é uma sigla inglesa para Instrument Landing Sistem, o que em português quer dizer Sistema de Aterragem por Instrumentos.

Com este sistema a funcionar em terra, as aeronaves que vão escalar Nacala poderão realizar aterragens automáticas em dias de mau tempo e de pouca visibilidade. Conforme nos foi revelado, este tipo de equipamento só existe nos aeroportos da Beira e de Maputo.

Outra inovação tecnológica incorporada no AIN é uma estação meteorológica completa que permite que os controladores de tráfego aéreo tenham acesso a informações precisas sobre a direcção do vento, a visibilidade e a medição do tecto das nuvens.

Jorge Rungo

jrungo@gmail.com

Fotos de Carlos Uqueio    

 

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