O que está acontecer na Estrada Nacional Número 220 (EN-220), com cerca de 40 quilómetros, entre o Posto Administrativo de Chissano, distrito da Macia, e a vila municipal de Chibuto? O troço vai desabando aos olhos de todos e de quem se responsabiliza pelo sector das estradas na província de Gaza e nos distritos de Macia, Xai-Xai, Chokwè e Chibuto, mas nem água vai, nem água vem.
A nossa Reportagem esteve esta semana em Chibuto e viu in loco o que está ali a acontecer. Conta-se que depois das enxurradas de 2012, alguém por bem entendeu que o troço devia beneficiar de alguma reabilitação. Arranjou um empreiteiro que pode. Fixou uma placa da qual hoje só se pode ler, apenas as referências ao custo das obras e ao seu prazo: “1.851.805.20 Mts. 1/04/20/15 – 31/12/2015”. O resto da placa, que ainda se encontra em pé, desapareceu. Não se sabe quem é o tal empreiteiro, o dono da obra, o fiscal, etc.
A placa partida está colocada na direcção Chissano-Chibuto. Do outro lado, de Chibuto a Chissano, no cruzamento que dá acesso a Chilembene, há uma outra placa enganadora que diz: estrada interrompida. Qual estrada interrompida? Pura mentira! Todo o tipo de automóveis passa por ali, incluindo semi-colectivos e autocarros carregados de jogadores que vão jogar com o Chibuto FC, como testemunhamos da vez da deslocação do Estrela Vermelha de Maputo, para o jogo da segunda jornada do Moçambola que terminou zero-a-zero. Consta que alguns empresários da província, que consideram aquela via mais rentável para os seus negócios, por ser curta em relação a via Chongoene, do lado da cidade de Xai-Xai, abriram uma faixa alternativa de terra batida, precisamente, onde, nem por milagres divinos alguma bicicleta, motorizada ou carro podia transitar.
Ainda não se registou nenhuma tragédia (e esperamos que não se registe) que alerte os governantes nacionais, provinciais e distritais, para a imediata reabilitação daquele troço tão importante para todos, pois permite maior circulação de veículos e também alivia a Estrada Nacional Número Um (EN-1) porque parte do tráfego utilizam-no para sair mais à frente desta, na zona de Chongoene.
Se algo de catastrófico ali acontecer, será tarde para lamentações e choros. O mal terá acontecido e, mais uma vez o país vai gastar dinheiro para alimentar comissões de inquérito para o apuramento das causas do sinistro, sobretudo se causar vítimas. Com esse dinheiro, que sempre existe para se encobrir determinada incompetência, que antes podíamos chamar de desleixo ou deixa-andar, podia-se começar a reabilitar aquela estrada proibida.
As causas do mal
Quem passar por aquele troço e tiver tempo para observar aquele triste cenário, mesmo que seja leigo em assuntos de engenharia, concluirá que a causa principal de tudo aquilo é o não se ter respeitado os caminhos das águas. Andou-se a entulhar pedras e pedregulhos onde deviam ser construídas pontes ou pontecas. Quando chove as águas concentram-se nas bermas da estrada e vão roendo a terra para chegar ao outro lado, o que cria rachas por toda parte.
Em alguns sítios quando voltar a chover, para o bem dos camponeses de Gaza. que estão a suportar a presente seca, as águas retomarão os seus caminhos. E nessa altura se justificará dizer: estrada interrompida, porque ninguém se atreverá a desafiá-la, nem com os carros das autoridades locais que por ali também ainda circulam. É que se a chuva vier forte como de costume, as águas interromperão a estrada, e as covas e covões existentes no troço alargar-se-ão. Nessa altura, será necessário outro tipo de intervenção: a de grande vulto.
No troço, em que o Rio Lipompo e os seus afluentes não andam longe, há uma ponte sobre o Rio Munhuane destruída nos princípios do ano passado pelas águas e que também provocaram grande erosão. Então ali só transitam peões e alguns ciclistas atrevidos. E por não haver sinalização, qualquer dia alguém, com o seu carro, vão tomar banho lá em baixo, sob olhar dos bois que estarão a bebericar água nas cercanias.
O outro dado que obtivemos no local é de que naquela estrada o crime anda à solta, sobretudo a noite. Os malfeitores colocam pedras nas descidas, obrigando que os automobilistas parem para a remoção dos obstáculos, momento em que os meliantes aproveitam para assaltar os ocupantes dos carros. Sejam eles passageiros. Quando isso acontece, é o delírio, é o pânico para quem não tem socorro por perto. Imagine-se! Por essa razão, à noite, o número de carros a circular pela via reduz-se drasticamente.
Estamos mal!
– Reclamam motoristas dos semi-colectivos que usam a via
A nossa equipa de Reportagem fez o percurso de ida e volta (Maputo-Chibuto e Chibuto-Maputo) de “chapa”, o que nos permitiu conhecer todos perigos que os motoristas e os passageiros correm quando se fazem àquele troço. Há também o receio por parte dos motoristas de verem os carros a caírem por causa do deslizamento das terras, que pode acontecer a qualquer momento.
De Chissano para Chibuto entrevistamos Carmona Munhai, frequentador daquela estrada desde 2010.
“Houve momentos bons. De 2012 para cá é a isto que assistimos, embora ouçamos sempre alguém dizer que “um dia será reabilitada”. Há uma placa que diz que as obras da reabilitação terminariam a 31 de Dezembro de 2015. O prazo terminou e nem água vem, nem água vem. Não entendemos e nem se vê o que foi reabilitado e as próprias autoridades colocaram outra placa a dizer estrada interrompida. A noite não dá circular por aqui. Estamos a pedir a quem direito para fazer uma intervenção nesta estrada, porque a mesma é tão importante como as outras.”
A nossa Reportagem constatou também não ter havido numa intervenção em termos de reabilitação seria do troco e que tenha terminado em Dezembro de 2015.
Carlos Sidumo, que nos transportou de Chibuto a Chissano, revelou que recorrer a outra estrada, a via Chongoene, é oneroso. “Gasta-se mais combustível e demora-se muito, para além de correr o risco de sermos multados pela Polícia de Trânsito por não estarmos licenciados para aquela rota. Somos actuados pela Polícia, como se a culpa da não reabilitação desta estrada fosse nossa”, disse Sidumo.
Sidumo apela às autoridades governamentais para flexibilizarem a reabilitação do troço, no qual à noite os criminosos montam barricadas de pedras e “quando as vamos retirar assaltam os passageiros. É um mal que produz outros males. Pedimos ajuda”, referiu Sidumo.
Manuel Meque
Fotos de Inácio Pereira