Eminentes personalidades do campo académico e cultural vivem em comunhões espíritas em Moçambique e acreditam que os espíritos têm uma palavra a dizer no mundo que habitamos
Na nossa edição de 23 de Dezembro do ano passado, publicamos uma extensa entrevista com a consagrada escritora moçambicana, Paulina Chiziane. Na referida entrevista, ela dizia mais ou menos o
seguinte: “Já estive maluca e a sociedade não me compreendeu”. A escritora contou que certo dia acordou e deparou-se com a presença do seu pai, falecido há dez anos, e conversou com ele cara-a-cara como se estivesse vivo.
Alheios a este mundo, outros membros da família viram a escritora a falar sozinha. Chamaram-na de maluca e ficou votada ao mais puro ostracismo.
Mais tarde veio a verdade. A escritora estava a dar passadas largas rumo à auto-revelação da sua mediunidade.
Como bem disse Calane da Silva, que acudiu a escritora nos momentos críticos, juntamente com Manuela Soeiro (decana do teatro moçambicano) e com o escritor Mia Couto, todos os sintomas físicos e psíquicos que levaram a escritora à Psiquiatria, eram, na verdade, o aflorar da sua mediunidade, infelizmente não compreendida por familiares e amigos e tratada medicamente como se de uma mera doença mental se tratasse.
Mas o que é mediunidade?, perguntará certamente o leitor. Será curandeirimo?, espiritismo?. Trata-se, sem dúvida, de uma questão melindrosa.
Durante semanas, três repórteres dodomingo mergulharam neste mundo, procurando descodificar o que terá de palpável , mesmo sabendo assentar-se numa espessa bruma lá no alto da chamada ciência oculta.
À partida apuraram o seguinte: mediunidade é nome atribuído a uma capacidade humana que permite uma comunicação entre homens e espíritos.
Manifesta-se independentemente da religião, de forma mais ou menos intensa em todos os indivíduos. Ou seja: todos nós somos médiuns. A diferença reside no facto de uns desenvolverem o dom, outros não.
Por isso mesmo, a classificação dos médiuns é feita da seguinte forma: a quem essa faculdade é detectada (ou seja, existe actividade) é chamado médium activo, e às pessoas as quais essa actividade não é detectada são chamadas médiuns passivos.
Assim um espírito que deseja comunicar-se entra em contacto com a espiritualidade do médium activo e, por esse meio, pode comunicar-se por várias formas, como oralmente (psicofonia), pela escrita (psicografia) ou ainda fazendo visível ao médium (vidência).
É preciso sublinhar que embora recorrentes nas doutrinas espiritualistas, e bem evidente na chamada Doutrina Espírita (ler depoimentos reproduzidos à parte), a mediunidade não se encontra estabelecida à luz da ciência, visto a própria existência de espíritos não encontrar-se cientificamente estabelecida perante os rigores do mundo científico.
NO MUNDO
DO ESPIRITISMO
A abordagem de situações relacionadas com os nossos nyangas e nyamussoros, com os nossos curandeiros e com os fenómenos parapsicológicos da nossa mundividência bantu, não é fácil, como bem disse Calane da Silva.
Durante dias, procuramos entender o mundo do espiritismo, da chamada parapsicologia e paranormalidade ou daquilo a que se pode considerar hoje ciência espiritual.
Durante dias, visitamos curandeiros e médiuns os quais revelaram possuir dons especiais, interpretando, com rigor, alguns sentimentos que nos levavam a procurá-los, imitando até vozes de pessoas conhecidas, consoante abordagem que faziam nas ditas consultas.
Esta não é uma experiência exclusiva da nossa equipa de Reportagem. Com efeito, citando outra vez o escritor moçambicano Calane da Silva, eminentes espiritualistas e espíritas – sem medo das religiões – foram investigando e desvendando este campo, contando com a colaboração, inclusive, de ousados homens e mulheres ligados à chamada ciência formal (revelando, assim, os tais “mistérios” e “milagres” de que falam algumas religiões).
Calane da Silva diz que é interessante recordar que em círculos académicos e religiosos era quase um tabu ler-se ou falar-se de um Edgar Cayce (medium americano denominado o “profeta adormecido”, que em transe mediúnico prescrevia remédios que faziam curas extraordinárias, desvendando segredos da natureza, “lendo ” ou “vendo” o futuro.
Nomes como de Helena Blavastky ou um Allan Kardec (na verdade Hippolyte Leon Denizard Rivail, professor e pedagogo francês) são igualmente conhecidos neste mundo, alguns ligados ao movimento teosófico e ao movimento espírita que, ainda no século XIX, estudaram e revelaram factos extraordinários sobre a vida para além da morte e do contacto possível e benéfico entre vivos (encarnados) com outros vivos (desencarnados), descodificando as obsessões e classificando os diversos graus de mediunidade.
Era igualmente tabu falar-se dos maravilhosos dons de cura de um Arigó (medium brasileiro de cura através de cirurgias feitas com instrumentos de corte grosseiros e consideradas impossíveis aos olhos da ciência formal, mas que, também e por isso, mereceu um estudo sério comprovativo de uma equipa de investigadores americanos), ou de um Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) medium psicógrafo e de outras faculdades mediúnicas, que recebeu incontáveis mensagens de espíritos de pessoas já desencarnadas e consolou, assim, inúmeras famílias que pensavam que tinham “perdido” para sempre os seus entes queridos.
Eram mensagens com factos irrefutáveis de que se tratava, efectivamente, dos respectivos familiares falecidos, sabendo-se igualmente que Chico Xavier psicografou quase quatro centenas de livros que são um manancial espiritual incontornável e revelador de verdades sobre outros dimensões existenciais sendo que, ele próprio, Chico, era um homem de uma rara beleza interior e um incansável trabalhador em prol da caridade espiritual e material a favor de todos e, sobretudo, dos mais carenciados, de tal modo que até foi proposto para o Prémio Nobel da Paz.
Cá entre nós, o assunto, começa a envolver eminentes personalidades do mundo académico, das artes, e é rebatido para patamares científicos no Centro Espírita de Maputo, visitado pela nossa Reportagem a dias.
Publicamos, a seguir, depoimentos de Maria de Carmo da Silva, médium moçambicana e estudante de espiritismo; de Calane da Silva, escritor e membro da comunhão espírita; sem deixar de destacar a opinião de Mia Couto, conceituado escritor moçambicano que apoiou a escritora Paulina Chiziane quando quedou-se no espiritismo.
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