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Nossa economia depende do Estado

Por admin

Estamos a viver um período de austeridade. Acha que essa é a saída?

Não se pode cortar o investimento por cortar. Temos que encontrar formas de ter uma gestão mais prudente em termos de despesa pública. Porque repara: nós temos uma economia diferente das outras. A nossa economia é maioritariamente dependente da despesa do Estado. O governo, ao cortar a despesa, está, indirectamente a cortar o nível de captação do próprio imposto através das receitas destas mesmas empresas. Porque estas empresas ao não facturar não irão pagar o Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA), o imposto de rendimento colectivo e singular, enfim. Tudo fica afectado.

Outros defendem que se deve aumentar impostos. Concorda?

Aumentar os impostos não resolve o problema porque temos que olhar para a realidade da nossa economia. Isso sufocaria cada vez mais as empresas que já estão extremamente sufocadas com a taxa de câmbio que torna a sua matéria-prima cara e tem que passar esse custo ao consumidor. Se o governo tira mais de imposto iremos agravar ainda mais a situação. Penso que neste momento em termos de reajustamento estrutural temos que olhar para aquilo que é possível ser feito.

Então é preciso que se continue a investir?!

Mas o governo também não pode gastar o que não tem. Os doadores cortaram o financiamento ao Estado, então o orçamento ficou como está. O governo teve que olhar para as áreas onde podia mexer e, infelizmente, foi forçado a mexer em áreas estruturantes que contribuem para o crescimento económico e manteve o investimento nas áreas sociais. Não havia outra alternativa.

Seria necessário recorrer a algumas “almofadas”?

Se o Estado tivesse essas “almofadas” podia contrair mais dívida, para que economia não parasse. Só que hoje estamos a 130 por cento do nível de endividamento e o país não tem mais capacidade para contrair mais dívidas. E, por não ter essa capacidade, não pode continuar com os investimentos. Tem que fazer cortes.   

Temos a situação político-militar. Que leitura faz do impacto desta situação na economia?

É severo. O Estado, apesar de ser maior empregador e maior contratante para a despesa, depende do sector privado que é o seu fornecedor e este está a perder a confiança devido à instabilidade. A mobilidade dos bens e serviços entre a zona Sul e Centro está afectada, os custos de transportes dispararam pelo aumento do preço do combustível e dos ajustes das seguradoras face ao aumento do nível de incerteza. Mas, o pior é que o tempo de logística praticamente duplicou. O custo de fazer negócio aumentou e está a ser perdida uma oportunidade de captar mais empresas numa altura em que devíamos criar oportunidades.

Que saídas o país pode ter?

As saídas existem. Na perspectiva política todos nós sabemos qual é a saída. O diálogo deve colocar a economia acima de tudo. Devia ser um diálogo político-económico para que as duas partes percebam o impacto para a economia. Temos os observadores nacionais e internacionais que estão a fazer um trabalho bom, mas penso que as partes tem que sentar e discutir como moçambicanos porque não faz muito sentido que não consigam encontrar uma solução.

Tinha que ter cedência de ambas as partes?

Neste momento já não é uma questão de ego. É questão de salvaguardar os interesses de toda a sociedade e garantir a sustentabilidade desta economia a médio e longo prazos, porque quanto mais tempo se leva maior será o custo.

E em relação às saídas económicas para a crise que atravessamos?

A única saída que vejo neste momento é a renegociação das dívidas. Não se pode fazer promessas de pagamento porque não temos capacidade para pagar as dívidas. No mundo e no mercado financeiro não seria o primeiro país a renegociar. Na banca fazemos isso no nosso dia-a-dia. Por exemplo, no caso em que o indivíduo muda ou perde emprego, ou a sua renda baixa. Moçambique tem que renegociar essas dívidas para um modelo que permita um crescimento. É uma renegociação para pagamento na altura em que o país acredita que terá fluxos suficientes e não creio que possamos ter esses fluxos até 2020. Pelo que devemos renegociar as dívidas. Não digo que após a retoma da economia não possa haver surpresas, mas neste momento temos que olhar para o cenário realisticamente.

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