Reportagem

Moralizar a sociedade é tarefa do momento

Questões atinentes à criação de uma sociedade sã e moralizada levaram a que as confissões religiosas e o Estado se juntassem no mês de Agosto do corrente ano em Conferência, para trocar ideias e traçar planos para o presente e futuro de Moçambique.

Ao que indica, a sociedade moçambicana mostra-se deficitária, no que diz respeito aos “bons princípios que devem reger uma sociedade”. Assim sendo, instituições religiosas moçambicanas de diferentes credos, fazendo jus ao seu papel, entendem ser necessário fortificar a partilha de ideias e agir de forma concreta para regular a vida das pessoas.

É sobre esta matéria quedomingoconversou com algumas individualidades ligadas à vida religiosa e não só, e apresenta em seguida os seus depoimentos.

FUNDAMENTAL TORNAR

A SOCIEDADE MORALIZADA

– Arão Litsuri, director nacional dos Assuntos Religiosos

Partindo do mote que movimentou a II Conferência Nacional de Religiosos “Moralização da sociedade Rumo ao Desenvolvimento de Moçambique”, o director nacional dos Assuntos Religiosos, Arão Litsuri, defende a necessidade de se acabar com o desregramento e com a imoralidade, pois, conforme explana, entram em desalinhamento com a lei da natureza (a lei da Bíblia e a lei do Estado), e “minam a existência humana, contribuindo para as injustiças, guerras e, consequentemente, para o retrocesso”.

Entretanto, de acordo com Litsuri, todos os membros desta nação moçambicana são chamados a agir: “as igrejas, o Estado, as instituições de ensino as comunidades locais, a família, etc. etc.”. Há que criar equilíbrio mental e serenidade na vida das pessoas “e a presença daqueles elementos é fundamental para ensinar, educar, tornar as pessoas melhores sob o ponto de vista de conhecimento científicos e acima de tudo de valores humanos”.

A se obter sucesso nesta aspiração, “seremos felizes no desígnio de ver o nosso país desenvolvido e justo”. De contrário, dificilmente se poderá falar de desenvolvimento e justiça “num país onde, por exemplo, um Presidente do Conselho de Administração (PCA) duma empresa actua de forma imoral, sendo corrupto; ou existindo outras formas ilícitas de actuação. Repare que a injustiça e o egoísmo são vistos como factores para a existência do caos numa sociedade”, diz Arão Litsuri.

PRESTÍGIO DAS IGREJAS AJUDA A REGRAR

– Sheik Aminuddine, presidente do Conselho Islâmico de Moçambique

As drogas, a prostituição, falta de respeito, o furto, entre outras contravenções são frequentemente citados como malefícios que atingem a nossa sociedade. Algumas medidas para a sua eliminação ou no mínimo mitigação foram avançadas em diferentes encontros entre religiosos. Com efeito, chamadas a dar o seu contributo, instituições educativas são apontadas como sendo a chave para o sucesso, sendo que, conforme defende Sheik Aminuddine “há que explorar no máximo o prestígio das igrejas, envolvendo religiosos em campanhas educativas para colocarmos os nossos jovens num bom caminho”.

Este trabalho, na sua óptica, deve focar de forma especial alguns aspectos tais como a existência de doenças como o HIV e Sida, alcoolismo, e ainda a homossexualidade, por serem factores que tornam a sociedade insana. Quanto à homossexualidade, Sheik Aminuddine refere-a como “uma tortuosidade”, por isso“estamos apreensivos e preocupados por pensarmos que um dia o governo poderá ser abordado para decidir sobre a aprovação de uma lei que permita isso”.

Mas, por enquanto, a tarefa é emoldurar os indivíduos de forma que caminhem num traçado correcto, não obstante a existência de factores externos como telenovelas, filmes, revistas, principalmente estrangeiras, que reiteradamente são colocadas à disposição das pessoas, repassando formas de ser e de estar que entram em choque com os preceitos locais.

De encontro em encontro as instituições monoteístas e tradicionais traçam planos tendo em vista o ressoar de valores morais e universais: “não roubar, não matar, vestir-se de forma adequada, etc., etc.”, diz-nos o Sheik.

Tendo em conta o cenário que se vislumbra, o dedo acusador abrange prodigiosamente a todos: Estado, igrejas, família. “Todos estamos a falhar. Ademais, qualquer acção educativa deve ser coordenada. Não adianta implementarmos boa educação somente numa destas instituições. Deve haver um trabalho conjunto para que esta acção seja bem sucedida”, defende o Sheik Aminuddin.

E já que um dos aspectos importantes para a harmonia na vida das pessoas é a existência de uma paz efectiva, o nosso entrevistado refere que as confissões religiosas devem, constantemente, criar espaços ao realizarem as suas cerimónias “para passar a ideia de que a paz é importante para o desenvolvimento do país”. Mas para garantir este bem “é necessário haver justiça na distribuição da riqueza, pois este tem sido um factor forte para a existência de querelas”.

HAJA TRABALHO CONJUNTO

– Bispa Joaquina Nhanala, da Igreja Metodista Unida de Moçambique

Cada vez mais, reforça-se a importância de levar a cabo acções de forma ajuntada para alcançar um bem precioso: uma sociedade livre da imoralidade. A Bispa Joaquina Nhanala destaca um passo importante para a materialização desse objectivo: “não partidarizar o Senhor, em primeiro lugar, pois todas as instituições religiosas (muçulmanas, cristãs, entre outras), que constituem elementos fundamentais para a acção de moralização, adoram o mesmo Deus. É importante haver coesão, desta forma consegue-se melhores resultados. Aliás, esta ideia foi colocada por um membro da religião muçulmana, durante a II Conferência Nacional dos Religiosos, e ela deve ser firmemente levada a peito, tendo em conta que somos todos irmãos e queremos alcançar um benefício comum e valioso, que ajudará no desenvolvimento do nosso país”, refere Bispa Joaquina Nhanala.

Avaliando a nossa sociedade sob o ponto de vista de valores, chama atenção para o facto de ela não estar isolada. “Há uma grande mobilidade de pessoas, internamente e de dentro para fora. E, igualmente, recebemos pessoas de fora, temos contacto com outras formas que não fazem parte da nossa cultura”.

Por isso, “não se descure esta realidade, mas se encontre formas de endireitar o que sai da linha; o que entra em disparidade com os nossos princípios, e eu defendo que, ao invés de falarmos em voz alta de aspectos negativos, devemos bradar cada vez mais coisas positivas. Com a insistência podemos obter resultados satisfatórios”. 

Com efeito, a Bispa Joaquina Nhanala afirma que a sua igreja (Metodista Unida de Moçambique) tem desenvolvido várias acções “desde a pregação que destaca os valores morais, na esperança de que sejam ressoados no seio das famílias e das comunidades pelos membros da igreja, até à realização de palestras, pois a religião deve comparecer para ensinar e educar o ser humano a não partir para o mal. Mas, acima de tudo, é importante ensiná-lo a amar o próximo”, disse a Bispa.

Carol Banze

carolbanze@yahoo.com.br

Fotos de Carlos Uqueio

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