Reportagem

Já não se fazem amigos como antigamente

O progresso e a modernidade operam transformações na vida dos seres humanos. Vive-se a época das TIC’s, Tecnologias de Informação e Comunicação. Mudanças são notáveis nas relações humanas. Já não se fazem mais amigos como antigamente. O pior de tudo é que as crianças entram nesse mundo, na ingenuidade e/ou quase inocentemente, sem o acompanhamento dos pais, que preocupados consigo e com os seus problemas quotidianos, não os orientam e nem sabem em quê é que se metem os filhos menores.

Facebook, What’sApp, Istragram, Twitter, Badoo, My-Space, Mig33, Two, Linkedin, … são várias as formas de trocar pontos de vista, de exibir poses engraçadas e até sensuais, de fazer amizade… de encontrar a ‘metade da laranja’. Tudo depende da motivação de cada um. Adolescentes, jovens, velhos alistam-se neste mundo (des)conhecido. Sim, adolescentes também. domingonão quis ficar alheio a este facto, em especial.

Para perceber as implicações desta nova moda, conquistou, por alguns momentos, a ‘amizade’ de alguns internautas mirins e traz em seguida confissões destes apaixonados por redes sociais.

 Em conversa com alguns adolescentes, Rossana Ganâncio, de 15 anos de idade, Célia Virgínia, 14 anos, Diana Luísa, 16, Enoque Vilson, 15, e Verna Celeste, 13 anos, todos estudantes, estes, deixaram transparecer o seu fascínio pelas redes sociais.

Para se alistar nelas, houve quem contou com a ajuda do próprio pai. Este é o caso da Rossana. “Meu pai abriu a conta para mim no facebook. Foi há dois anos. Ele também tem uma conta nesta rede social”. Entretanto, outros ‘colegas’ de empreitada tiveram que contar com ajuda de pessoas de fora, “amigos”. AEnoque Vilson e Verna Mondlane coube essa sorte.

 Já para o caso das irmãs Célia e Diana, a primeira contou com a mãozinha de um primo, enquanto Diana fê-lo “pessoalmente”.

O Facebook, What’sApp e o Istragram parecem ter caído no contentamento deste grupo por nós entrevistado. De qualquer forma, há quem tem conta em (quase) todas as redes sociais: “tenho, também, no Twitter, Badoo, My-Space, Mig33”, entrega-se Diana Luísa. Motivação? “Tudo o que é rede social cativa-me. Atrai-me. Quando teclo fico muito feliz. E está na moda, não é? Eu gosto de seguir a moda”, justifica-se.

Sua irmã, Célia, mais recolhida, afirma que se misturou neste mundo “para fazer amizades”, e também porque “me disseram que era muito bom; que se conversava muito…”. Facto curioso, é que Célia não tem ainda o seu próprio aparelho para teclar, daí que, para os seus momentos com os ‘amigos’ do Facebook “peço o telemóvel da minha mana, dos meus primos, sempre dou um jeitinho de entrar”, afirma.

Rossana entra no Facebook para “ouvir conselhos dos mais velhos”. Mas, fazer amizade é o que mais interessa. “Por vezes peço a pessoas desconhecidas. O objectivo é aprender coisas novas, principalmente se a pessoa for experiente. Chego a trocar conhecimentos do mundo académico”.

Esta última é também a motivação de Verna. “Tenho até um amigo que fala bem inglês. Aproveito-me disso para exercitar o meu inglês. Mas outros factores foram levados em consideração. “Meus pais, meu irmão, meu primo… todos da mesma casa, têm conta no Facebook. Eu não quis ficar ultrapassada”. Interessei-me por fazer várias amizades para partilhar experiências”. É esta partilha de experiência que não sossega estes adolescentes. Enoque Vilson encosta-se nesse motivo e em outros: “interesso-me, igualmente, pela vida de praticantes de desporto. Tenho pedido amizade a este grupo”.

 Assim sendo, entende-se a digressão que os nossos entrevistados fazem por um mundo, digamos, desconhecido. Nem sempre se relacionam com pessoas próximas. E ao que tudo indica, até ao momento, tudo tem corrido de feição, pois “nunca calhei (calhámos) com pessoas maldosas e/ou criminosas que pudesse(m) me(nos) fazer mal”. É que informações levantadas pelo domingo dão conta que em determinados casos, fazer amizade pelas redes sociais terminou em crimes, que passam por violações sexuais até chegar à morte.  

Contudo, para os lados de cá, várias são as precauções, ou no mínimo tentativas de se precaver. Rossana garante que não aceita amizade de pessoas com uma diferença de idade considerável. Enoque segreda-nos que a mãe, que também tem conta em rede social, inspecciona as suas publicações. As irmãs Célia e Diana prestam atenção “nas paqueras”. Caso sejam preocupantes, “bloqueamos esse amigo”. Verna alinha nesta providência.

 Mas, será isto suficiente?

Tendo em conta esta realidade, quisemos saber até que ponto os pais concordam com as vinculações dos filhos (principalmente crianças e/ou adolescentes) em redes sociais.

Augusto Enoque Cândido, pai e encarregado de educação, recusa-se a aceitar de ânimo leve a ligação do seu filho com o mundo das teclas. Eu não concordo! As consequências disso são imprevisíveis… veja que, para o caso das meninas, pode-se chegar a situações desastrosas. Vários são os casos em que fotografias de mulheres em poses sensuais são postadas geralmente por homens, acompanhadas de textos com teor maldoso, que denigrem a imagem. Trata-se de um mundo onde circulam informações desenfreadas”, considera este pai.

Contudo, estando-se num mundo moderno, “pouco há por se fazer, dificilmente contemos algumas situações”. De qualquer maneira, há que ensaiar algumas medidas paliativas. Uma delas, aconselha Augusto Enoque Cândido, “é ter coragem de inspeccionar a forma como os nossos filhos usam os telefones. Pessoalmente, faço isso, e já mandei o meu filho apagar uma imagem despudorada do telemóvel”.

Aproveitando o ensejo, domingointroduziu nesta conversa com Cândido a outra face do Facebook: uso para fins académico, ao que ele respondeu prontamente “a biblioteca física é, na minha opinião, o melhor lugar para buscar conhecimentos. Sempre que precisei de material para estudo, dirigi-me a esse local. Aconselho a todos que façam o mesmo. Para ser sincero, não vejo nenhuma vantagem no Facebook. Fazer amigos?! Para quê ter tantos ‘amigos’ sem os conhecer de facto? São relações mal preparadas, que chegam a terminar em sexo e, consequentemente, em arrependimento. Para mim não se consegue uma amizade coesa nas redes sociais”, fundamenta.

Em conversa com outro pai e professor da Escola Secundária Quisse Mavota, Arlindo Timóteo Sambo, ficou marcada a intenção de fazer com que as redes sociais tenham um fim formativo. Com efeito, afirma que “o uso adequado é louvável. Falo da utilização para a troca de saberes e/ou experiências, ou seja, para fins académicos, de maneira especial. Já experimentei na minha disciplina (Português)”.

De contrário, Timóteo mostra-se estorvado quando há “troca de mensagens, inclusive pornográficas, em plena aula”. Por causa deste comportamento, ao nível da direcção da escola, emitiu-se uma ordem para proibir o manejamento de telemóveis na sala de aula. “Infelizmente, isso coloca em prejuízo a acção de pesquisar na internet matérias que sejam do interesse das disciplinas leccionadas nos estudos”.

Mas, a saída por enquanto é essa, pois na menor distracção por parte do educador, os alunos passam grande parte do tempo pesquisando para além de imagens sensuais, vida dos artistas e… “estão quase sempre de auriculares”. Por isso, avisa: “estamos a formar uma geração de surdos; em casa escuta música em som alto, no chapa a caminho da escola, também; nos intervalos estão sempre de auriculares. É preocupante”.

Como pai, reconhece a necessidade de fortificar o pulso para fazer com que o seu filho tenha um bom aproveitamento escolar. “Tenho um filho de 15 anos. Tem conta no Facebook, o seu rendimento na escola caiu, chego a pensar que seja por causa dessa rede social”. Por esse motivo, não apoia a adesão do seu educando. “Esse campo de amizade devia ser utilizado somente por pessoas maduras”.

Durante esta reportagem, domingo soube de casos de pais que surpreendem os seus filhos menores a altas horas da noite “teclando” nas redes sociais ou através do celular ou via computador. Não se dorme porque estas ligações são fascinantes para as crianças. Passam horas e horas no olho mágico, “chatando” com amigos virtuais e perdem horas para actividades mais úteis, como rever as matérias e estudar. Muitas vezes utilizam telefones celulares dos próprios sem qualquer consentimento destes, que só se espantam quando olham para a alta conta do celular por pagar ou para o crédito esvaziado.

FALTA EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

Geraldo Mutuque, académico

domingoconversou com Geraldo Mutuque, professor de Ética no ISARC. O objectivo era saber que implicações poderá ter a liberdade de uso de telemóveis por  crianças e adolescentes e, ainda, a conexão destes em redes sociais como Facebook, What’sApp, Istragrametc…

Mutuque lembra que as tecnologias servem para quebrar vários muros e interligar pessoas, no entanto, um dos efeitos maléficos desse processo é falta de educação tecnológica que se pode traduzir em envolvimento dos adolescentes em redes de prostituição infantil e, por conseguinte, contacto com pedófilos. Aponta, igualmente, para o risco de se estabelecer relações humanas frias, facto inerente às amizades virtuais.

Contudo, o académico posiciona-se a favor do uso de telemóveis e/ou redes sociais por aquele grupo. Cauteloso, afirma que deve ser um uso “correcto, ou seja, deve contribuir para melhorar a qualidade de vida e não como instrumento de erosão social, tal como temos visto nos últimos tempos”. A título exemplificativo aponta para as fraudes académicas exercidas com recurso a estes instrumentos. Condena, também, o uso de telemóveis como “veículos do que se designa por ciberbulling, uma forma de violência feita com alteração-deformação de imagens (fotografias) ou pronunciando palavras que provocam lesões com efeitos a médio e longo prazo”.

 E tendo em conta o lado moral, parece verificar-se um choque quando se toma em consideração que certas pessoas expõem a sua vida íntima em redes sociais. Sobre esta questão, o académico chama atenção para o facto de as redes sociais serem “um espaço fértil para a calúnia e difamação, pois muitas vezes o interlocutor “invisível” pode pronunciar palavras ofensivas”, daí que defende a necessidade de se regulamentar o seu uso, de forma a garantir que haja respeito de direitos, sem no entanto constituir uma forma de controlo das liberdades. Mas, mais importante é “potenciar esses espaços para a aprendizagem, desde o elementar que é escrever correctamente, até aos aspectos mais abstractos, criar plataformas de interesse comum, tais como amigos da física, da matemática, de química, de artes e cultura, ou seja, uso de espaços lúdicos para a aprendizagem”, disse Geraldo Mutuque.

A CULPA NÃO É DAS REDES

SOCIAIS, MAS SIM DAS PESSOAS

– Dom João Carlos, Bispo da Arquidiocese de Maputo

“Não olho para as redes sociais de forma negativa. Estamos numa nova era, em que elas possibilitam contacto entre as pessoas. Simplesmente levanto uma questão: até que ponto as pessoas são sinceras, transparentes nesses relacionamentos?”. Palavras de Dom João Carlos, Bispo-Auxiliar da Diocese de Maputo, quando comentava à volta do fenómeno que tomou conta da sociedade, a existência de novas formas de estabelecer relações de amizade, através de redes sociais.

Para Dom João Carlos, a amizade virtual abre espaço para a encenação, para a representação. “Não se sabe ao certo se se trata de uma relação sadia, se é algo bom; se é um homem bem esculpido, bem trabalhado utilizando as redes sociais”. É que, por exemplo na Igreja, os relacionamentos devem estar assentados em valores, “o outro não deve ser visto como objecto; deve haver dignidade”. Assim sendo, há que ter muita cautela ao se fazer amizade por esses meios, principalmente porque “a nossa sociedade está pervertida”, refere o Bispo, tendo seguidamente aconselhado para o uso de redes sociais, por exemplo, o Facebook, para colher como resultado pessoas fortalecidas sob o ponto de vista espiritual, entre outros. “Eu tenho Facebook e creio que os meus amigos ganham com a minha amizade. Procuro fortificá-las espiritualmente, até porque defendo a evangelização desta rede social. O seu uso deve ter fins formativos, a todos os níveis. Há que usá-la nas igrejas, escolas, no seio da família…”.

E quando a utilização envolve crianças e adolescentes?

Havendo um acompanhamento por parte dos adultos não vejo nenhum malefício nisso. Reparem que existem jogos que ajudam no desenvolvimento psico-motor, isso sim é positivo. É preciso entender que o mal reside no coração das pessoas e não nos meios de comunicação. As crianças, quando se revelam corrompidas, imitam o adulto, e muitas vezes replicam comportamentos inadequados deste, tais como publicar imagens que mancham a reputação. Fazem-no convictos de que, dessa forma, irão atrair a atenção dos mais velhos”, defende Dom João Carlos.  

Não se exponha nas redes sociais

Veja o conselho de especialistas sobre quais são alguns perigos de larga exposição nas redes sociais:

1 – Data de aniversário:Todos nós gostamos de ser lembrados no nosso aniversário, não é verdade?   Para tanto, as datas expostas nas redes sociaissão consideradas um prato cheio para os chamados “ladrões de identidade”, já que essa é uma das principais informações referentes à sua pessoa.

2 – Status do relacionamento:Fornecer qualquer tipo de informação pessoal não é bom. Caso alguém tenha interesse na sua vida, essa mudança de status poderá ocasionar problemas. Por exemplo, se você sempre teve o status “casada” e um belo dia alterar para “solteira”, algum especulador irá deduzir que você costuma ficar sozinha em casa, o que, nos dias de hoje acaba por ser perigoso.

3 – Indicar a sua localização:Quando as pessoas viajam ou mesmo vão para algum lugar que julgam interessante, a primeira coisa é compartilhar a sua localização ou mesmo, postar fotos do local onde se está. Pois bem, essa informação é valiosa, por exemplo, para alguém que esteja de olho na sua casa, saberá que ela está vazia e pode ir lá arrombar e roubar.

4 – Jamais compartilhar que está sozinho em casa:Algumas pessoas não conseguem dar um passo sem antes notificar em alguma rede social o que estão a fazer. Algumas comentam até com quem estão acompanhadas e mais, se estão sozinhas. O ideal não é comunicar nas redes sociais que se está sozinho ou mesmo que ficará sozinho em algum momento. Pessoas de má índole podem-se aproveitar desse facto para ter acesso mais fácil à sua casa.

5 – Evite expor a imagem e nome de seus filhos: Sabemos que os orgulhosos pais adoram encher as redes sociais com inúmeras fotos de crianças, o que não sabem é o risco que estão correndo. Colocar o nome completo de crianças nas redes sociais é um perigo, como também, postar certas imagens dos pequenos. Então, como não sabemos quem está a ver, quem está a copiar as imagens, melhor mesmo é não expor as crianças. Muitos pedófilos acabam encontrando fotos de crianças e repassando para sites de conteúdo impróprio, assim, o  melhor mesmo é  guardar as fotos dos anjinhos para si e seus amigos ou, no máximo, compartilhar apenas para os amigos mais chegados. Em redes sociais de adultos, há pessoas que postam imagens dos seus filhos em vez de colocar as suas. Isso também é perigoso.

6 – Conversas pessoais:As redes sociais servem para debater ideias, trocar informações, entre outras acções. Porém, cuidado para não esquecer que está numa media social e transformá-la num bate-papo repleta de conversas de cunho pessoal. Alguém pode vazar essas conversas para o domínio público e virar chacota.

7 – Inserir informações da empresa em que trabalha:Não é interessante postar comentários sobre a rotina de trabalho dentro de uma empresa. Muitas, inclusive, acabaram por bloquear o acesso às redes sociais dos seus trabalhadores para evitar que certos conteúdos acabem sendo expostos. Caso seja o seu caso, prefira usar mesmo o seu tradicional e-mail para trocar informações.

8 – Não compartilhe imagens ou mesmo conteúdos que estejam denegrindo alguma pessoa:  Sabemos que temos o direito de nos expressar. Para tanto, mesmo que concorde com determinado assunto, tenha o cuidado de se manifestar sobre ele. Não use palavras de baixo calão, tampouco acuse alguma pessoa sem provas. Você poderá ser accionado judicialmente sobre isso e responder num processo por difamação e calúnia. Então, cuidado com os comentários, tudo que é dito, na internet ou não, precisa de ser provado.

9 – Atenção com as imagens postadas:As pessoas costumam postar fotos que consideram engraçadas nas redes sociais, dançando, bêbadas, em situações estranhas, etc. Pois bem, estas mesmas fotos podem acabar caindo nas mãos do seu chefe, dos seus alunos, dos seus colegas de trabalho ou mesmo doutras pessoas do seu convívio e acabando por não serem  bem interpretadas. Lembre-se, uma boa reputação conta muito no meio laboral.

10 – Quanto menos expor detalhes da vida melhor:É muito bom dividir algum resultado positivo da nossa vida. No entanto, reserve aqueles mais íntimos somente para os amigos mais chegados e, de preferência, bem longe das redes sociais. Assim, não espalhe que teve um aumento de salário, uma nova promoção, que o namorado ou namorada lhe presenteou com um maravilhoso e caro presente ou até mesmo toda a felicidade que está a viver. Estas informações, além de gerar a cobiça de terceiros, poderão ser usadas para que o seu nome ou a sua imagem possa ser aplicado em algum golpe.

Então, fica a dica, quanto menos informações postadas, melhor para a sua privacidade!

(Fonte:http//net.com.br/post/8889-redes-sociais-10-coisas-que-nunca-deveriamos-publicar)

Texto de Carol Banze

Fotos de Inácio Pereira e Carlos Uqueio

 

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