Reportagem

HCM é referência na área de Urologia

A área de Urologia no país tem dado passos gigantescos visando dar uma melhor resposta aos problemas urológicos dos pacientes e ao aumento da procura de serviços de saúde por parte de homens e mulheres de diferentes faixas etárias. 

Na esteira desta constatação e porque muito recentemente se realizou aqui, na capital do país, o 13o workshop sobre Cirurgia Reconstrutiva em Urologia, elegemos seis temas para abordar com um dos gurus nacionais daquela especialidade, o cirurgião geral e urologista Igor Vaz, nomeadamente, as “fístulas vesico vaginais”, “as malformações congénitas urológicas”, “os prolapsos vaginais”, “os apertos da uretra”, “uso de próteses para tratamento da impotência sexual masculina” e “estimulantes sexuais masculinos”. A dado passo da entrevista, o médico disse-nos o seguinte: “O nosso serviço é o principal centro a nível internacional, de reconstrução vaginal para estas mulheres (fístulas vesico vaginais). Participantes de vários países têm frequentado o nosso serviço para aprenderem a técnica de reconstrução vaginal que usamos, já apresentada em vários congressos internacionais”.Segue a entrevista em discurso directo:

 

Tema-1: Fístulas vesico vaginais: das simples às complexas

 e o tratamento das fístulas denominadas “incuráveis”

Doutor Igor, o que são fístulas vesico-vaginais (FVV) ou fistulas obstétricas?

As fístulas vesico vaginais ou as fístulas obstétricas são uma demonstração viva do desastre e desigualdade social em que vivemos. Quase todas as mulheres com fístulas obstétricas têm um denominador comum que é a pobreza, condições de vida abaixo do limiar de pobreza, falta de acesso aos cuidados de saúde, falta de escolaridade, gravidezes prematuras, e têm de percorrer longas distâncias em caso de uma urgência num parto complicado.

As fístulas vesico vaginais são comunicações entre a bexiga, o útero ou mesmo o recto nas situações das fístulas recto-vaginais com a vagina. Durante o parto a criança fica retida no canal vaginal e provoca uma compressão, e compromisso da vascularização dos tecidos dos órgãos pélvicos levando a uma morte dos mesmos (necrose) e depois de sete a dez dias estes tecidos são eliminados e cria-se uma comunicação entre esses órgãos e a vagina.

Quais são as manifestações clínicas mais comuns nestes casos?

Ao nível fisiológico, os principais sintomas referem-se à perda constante de urina e por vezes também de fezes, perdas essas que progressivamente conduzem ao estigma da doente e respectivo impacto psicossocial. Consideramos por isso, também como manifestações da doença o conjunto de sinais e sintomas psicológicos que resultam deste estigma, da exclusão social e do abandono familiar a que estas doentes são frequentemente submetidas, tais como a depressão grave, muitas vezes terminando no suicídio.

Quais as prováveis causas para a ocorrência do problema?

A causa mais frequente reside na falta de acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente, ao parto assistido. Por outro lado, os hábitos e costumes tradicionais são também factores de risco, nomeadamente no que se refere ao início da actividade sexual em idades muito jovens e aos casamentos precoces, conduzindo a gravidezes numa idade em que a estrutura pélvica da mulher ainda não está anatomicamente preparado para o parto.

Neste caso, e quando não há assistência médica, o parto pode complicar-se, com o bebé a ficar no canal de parto desde várias horas até vários dias levando à compressão e morte dos tecidos e órgãos pélvicos da jovem mulher. Assim, os tecidos começam por se decompor e cria-se uma comunicação entre a bexiga e a vagina, ou entre o recto e a vagina, conduzindo à perda de urina e fezes.

As fístulas são de fácil ou de difícil resolução?

A grande maioria das fistulas são simples e, nessa medida, de fácil resolução, quando operadas por pessoal competente. Contudo, cerca de 30 porcento do total estimado em 2.300 casos novos por ano, refere-se a uma incidência de fístulas complexas e perto de 10 porcento poderão mesmo ser consideradas “incuráveis”. É no tratamento das fístulas complexas que o serviço de Urologia do Hospital Central do Maputo se tem destacado, nomeadamente na aplicação de técnicas cirúrgicas com pouca tradição na cura desta patologia, funcionando como centro de referência para este tipo de fístula. Por outro lado, as fístulas mais simples são tratadas de forma regular ao nível provincial, por médicos e técnicos preparados para o efeito pelo MISAU e com apoio do FNUAP.

Todos os casos têm tratamento médico ou há, digamos, fístulas incuráveis?

Infelizmente como já disse, há casos incuráveis, em que a capacidade médica não consegue oferecer uma solução para a mulher.

Estas jovens por vezes perdem o útero e nunca mais poderão ter filhos, vêm a sua bexiga e a uretra destruída e nunca mais conseguem conter a urina e por fim, mas não menos importante, ficam com destruição completa da vagina o que implica a impossibilidade de qualquer relacionamento com um parceiro. O nosso serviço é o principal centro a nível Internacional, de reconstrução vaginal para estas mulheres. Participantes de vários países têm frequentado o nosso serviço para aprenderem a técnica de reconstrução vaginal que usamos, já apresentada em vários Congressos Internacionais.

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