Tivemos um período de muita concessão e até de estímulo ao crédito ao consumo. Isso não estará a agravar a crise com o aumento do crédito malparado?
Depende do tipo de contas que está a falar. Isso complica, mas também vai agravar o cenário de imparidade em 2017. O cenário que se vislumbra para o próximo ano não é encorajador nesta componente de crédito ao consumo.
Porquê?
Por uma razão muito simples. O moçambicano, na essência, tende a endividar-se até o nível máximo da sua capacidade na data da contratação da divida. Isso é um problema estrutural e cultural.
Mas, os bancos estimulam isso…
Os bancos criam produtos e colocam à disposição dos seus clientes. Os bancos criam situações que permitam com que o cliente satisfaça as suas necessidades primárias por acesso ao crédito. É da responsabilidade individual saber qual é o seu limite. Os bancos têm o nível de 33 por cento do rácio de endividamento por indivíduo e cabe ao indivíduo perceber que uma alteração estrutural na taxa de juro ou no seu rendimento individual pode afectar a sua capacidade de dívida.
Dizia que isso afecta as imparidades dos bancos?
Claro, porque uma vez que as taxas de juro foram aumentando, as pessoas já não conseguem pagar porque estão acima dos 40 por cento de endividamento. Mas há um cenário pior que não é calculado.
Que cenário é esse?
É que o nível de renda disponível tende a baixar a medida que aumenta a taxa de esforço, que por fim, complica as contas individuais. Há aqui um conjunto de factores, mas é o indivíduo que deve ter a responsabilidade de perceber qual é o nível de manobra que pode ter, caso o cenário se agrave ou melhore. Os bancos vão continuar a conceder crédito a nível de 30 por cento porque julgamos que é um nível certo.
Daí a aposta na educação financeira…
Exactamente. Por isso falamos com os nossos clientes e explicamos esse cenário todo, sobretudo para as PME´s. É que o indivíduo não pode correr para um banco só porque soube que este deu a taxa de juro mais baixa. Primeiro é preciso perceber se a sua capacidade de geração de fluxo de caixa é suficiente para pagar as suas despesas normais, incluindo salários e impostos, pagar ao bancos e ainda ter lucro. O indivíduo não pode trabalhar apenas para pagar salários, impostos e bancos. É preciso ser capaz de gerar um fluxo de caixa que lhe permita fazer uma acumulação.