Reportagem

A terra do coqueiro e do mar

Texto de Belmiro Adamugy e Fotos: Carlos Uqueio

Quando a lenda é melhor do que a história, divulgue-se a lenda… provavelmente é por causa disso que Inhambane é conhecida como “Terra de boa gente”. É que dizem que uns navegadores chegaram a essa conclusão depois de viverem boas experiências por aquelas bandas.

Verdade? Mentira? Bem isso não interessa. O que vale mesmo é que Inhambane tem boas praias, um imenso palmar e, bem, também tem boa gente a par de muitos e bons mariscos!

A província de Inhambane, localizada na região sul de Moçambique, é a sexta colocada no ranking de desenvolvimento nacional. Entretanto, ao que tudo aponta, poderá dar um salto gigantesco em resultado das indicações de que há ocorrência de gás natural e petróleo. A par disso, áreas como agricultura, turismo e piscicultura deram saltos significativos.

A sua capital é a cidade de Inhambane, situada a cerca de 500 quilómetros a norte da cidade de Maputo. Esta província está dividida em 12 distritos (Funhalouro, Govuro, Homoíne, Inharrime, Inhassoro, Jangamo, Mabote, Massinga, Morrumbene, Panda, Vilanculose Zavala) e possui, desde 2008, 4 municípios: Inhambane, Massinga, Maxixee Vilankulo.

Com pouco mais de um milhão e 600 mil residentes, a população desta província foi a que menos cresceu entre 1997 e 2007, tendo sido contabilizado um aumento que não chegou a 150 mil habitantes neste período, correspondendo a uma variação de 11,7 porcento. Em 2007, o Censo indicou uma população de um milhão,  271 mil e 818 residentes. Com uma área de 68.775  km², a densidade populacionalrondava os 18,49 habitantes por km². Entre 1997 e 2007, a população cresceu 11,69 por cento, tendo sido contabilizados mais 148 739 habitantes. Ambos os números foram os mais baixos registados entre as províncias moçambicanas neste período.

O efectivo de funcionários e agentes do Estado é actualmente de cerca de 20.000 funcionários.

PRODUÇÃO DE COMIDA

EM CRESCENDO

O nosso país é, ciclicamente, afectado pela seca, em alternância com períodos de cheias. A região sul é, por acaso, uma das mais flageladas. Inhambane não foge à regra. Zonas como Mabote e Govuro são algumas das mais afectadas naquela província.

Entretanto, mercê de um esforço conjugado entre as autoridades do sector, camponeses e os célebres “Sete Milhões”, o cenário tende a melhorar. Agostinho Trinta não esconde a sua satisfação diante dos resultados alcançados nos últimos tempos na produção alimentar.

E os números parecem lhe dar razão quando afirma que “estamos a vencer gradualmente o défice alimentar. Neste momento, posso afirmar com toda certeza que já não se verificam bolsas de fome na nossa província; em termos de produção de comida, demos um salto assinalável”, festeja.

E tem as suas razões. A produção alimentar cresceu significativamente. A produção agrícola registou um aumento em 658 por cento, passando de 286,70 mil toneladas em 2005, para 2.173,65 toneladas de culturas diversas.

A produção pesqueira também deu um pulo gigantesco; anda na casa das 17 mil toneladas ano. Refira-se que no sector de pescas, Inhambane tem uma nova abordagem que é a criação de peixe em tanques piscícolas, contando actualmente com 176 tanques em toda a província, com resultados bastante animadores.

Trinta revela que a produção global da província registou uma evolução anual média de 13.3 por cento passando de 3.008,97 em 2005 para 8.145,81 milhões de meticais em 2013.

São números que nos dão uma certa tranquilidade. Não podemos, é claro, embandeirar em arco. Há ainda muitos desafios pela frente. Queremos avançar para uma situação de auto-suficiência alimentar mas não se pode negar, que o cenário melhorou bastante”, diz o timoneiro da província de Inhambane.

Importa frisar que a comercialização agrícola registou um crescimento médio anula de 14 por cento, estando actualmente na casa das 600.000 toneladas.

TURISMO, ENERGIA…

A “Terra de boa gente” tem uma costa rica em belas praias. Ali até parece que os Deuses se mancomunaram para criar belezas como Praia do Tofo, Praia da Barra, Praia de Závora, Baía dos Cocos, entre outras paragens igualmente lindas.

A construção de novas unidades hoteleiras, a melhoria nas vias de acesso, entre outras facilidades, fizeram o sector do turismo crescer e bem. Agostinho Trinta assinala o facto e diz que há ainda espaço de manobra e de crescimento do sector.

O Turismo evoluiu, no mesmo período 2005-2013, num volume de investimento médio anual de 123 por cento, passando de 96 milhões de meticais para 7.684,20 milhões de meticais.

Como se pode ver, há claros sinais de desenvolvimento do sector. Com o fim do ano próximo, Inhambane já começa a registar um movimento mais acentuado de turistas, quer nacionais, quer estrangeiros. O turismo, do qual não podemos dissociar dos grandes investimentos privados que foram feitos, é um dos marcos da nossa província”, diz Trinta, que associa o sector na sua contribuição para a criação de 136.249 novos empregos na província.

ENERGIA E SAÚDE

PARA TODOS

No sector de energia, o número de consumidores registou um crescimento médio anual de 23 por cento, passando de 12.242 consumidores em 2005 para 56.834 no primeiro trimestre do ano em curso. Acrescente-se a este facto que todas as sedes distritais já estão ligadas à rede de energia eléctrica.

O trabalho de base está praticamente feito. Os distritos estão iluminados. Temos agora que descer ao nível básico para termos toda a gente com energia. As mudanças são visíveis onde a energia chegou”, diz o governador Trinta.

Agostinho Trinta diz que a chegada da energia eléctrica às localidades e postos administrativos, associada aos investimentos resultantes dos Fundos de Desenvolvimento Local, fez com que brotassem diversas iniciativas que estão a catapultar o progresso regional.

Os marcos são visíveis também na saúde. A rede sanitária conta actualmente com 126 unidades e 95 casas de espera para mulheres grávidas. O rácio médico/habitante está actualmente em 1 médico para 18.845 habitantes, pormenores que fizeram com que houvesse mais partos institucionais na província.

A expansão da rede sanitária reduziu em grande medida o registo de óbitos por falta de atendimento materno-infantil. É verdade que ainda temos muito trabalho por fazer, mas demos passos seguros para termos uma província saudável”, diz o governador.

Nessa senda, a partir de 2015 a província passará a formar médicos, através da implantação de uma Faculdade de Ciências de Saúde da Universidade Pedagógica na povoação de Mutamba na Maxixe.

ÁGUA A 100 POR CENTO

Com vista a garantir a disponibilidade de água potável nas comunidades, foram construídos 588 furos de água e reabilitados outros 940. Foram também montados 56 mini-sistemas solares de abastecimento de água, servindo a um total de 503.300 pessoas em toda a província.

Por outro lado, como forma de minimizar a carência de água nas zonas semi-áridas, foram construídos 6 reservatórios escavados com capacidade de 35.000 m3, cada, nos distritos de Funhalouro (Mucuine 1 e 2); Morrumbene (Chicungussa e Madila); Vilankulo (Mavanza) e Mabote (Papatane), que beneficiam cerca de 17.000 pessoas e 15.000 cabeças de gado.

Na Educação, as unidades escolares públicas evoluíram de 669 escolas em 2005 para 838 em 2013, para 507.136 alunos. O ensino superior apresentou também um crescimento significativo, estando agora nas 5 unidades para um universo de 6.354 estudantes.

No âmbito da formação profissional e em coordenação com o INEFP, foram formados 8.294 jovens, beneficiando de diversos cursos tais como gestão de pequenos negócios, corte e costura, serralharia, construção civil e informática.

No que diz respeito aos 7 milhões de Meticais, foram alocados aos governos distritais 774.417, 69 contos, tendo se planificado o seu reembolso em 289.975,40 contos, e deste valor foram já reembolsados até 2013, 64.915, 32 contos, o que corresponde a uma execução de 22 por cento.

O valor em causa foi usado para financiar cerca de 12.000 projectos em toda a província, sendo 5.308 de produção de comida e 6.505 de geração de emprego. Dos projectos financiados, 8292 beneficiários são homens e 3.521 mulheres, incluindo 1993 jovens.

Os “7 milhões” contribuíram para a criação de 29.975 postos de trabalho fixo; foram igualmente instaladas 98 carpintarias, 36 serralharias, 44 panificadoras e 56 moageiras. Foram também construídas 130 lojas e 2.608 bancas fixas.

O governador Trinta julga que, com a descoberta de petróleo a província poderá, a breve trecho, dar uma guinada maior rumo ao desenvolvimento: “é claro que ainda é cedo para deitarmos foguetes mas não há dúvidas de que Inhambane irá dar um salto gigante rumo ao desenvolvimento. Veja que no caso do gás natural já está a ser usado em alguns pontos da província, como por exemplo em Vilankulo e brevemente estará noutros pontos”, rematou.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo