Munhava virou um caos. Até ao fecho da presente edição havia relato de três crianças mortas no tumulto gerado pelo choque de caravanas rivais. Dezenas de pessoas ficaram feridas e viaturas incendiadas.
Uma espessa cortina de fumo pairava numa atmosfera de terror, medo, confusão. Estradas de acesso a Munhava ficaram bloqueadas entremeadas por colunas de fogo em progressão vertical e horizontal.
Atingidas pelo gás lacrimogéneo, pessoas corriam em debandada total, sem norte, chocando-se umas às outras na busca de porto seguro ou de água para lavar a cara. Algumas tropeçavam e eram pisadas.
Era a cidade da Beira a experimentar o primeiro sinal de febre eleitoral, cavando cenário para um reboliço já esperado na Munhava, potencial campo para disputas eleitorais radicalizadas. Por uma lado, estava uma população medrosa, em fuga não se sabendo para onde. Por outro, grupo de marginais arremessavam pedras contra a Policia que se viu forçada a abrir caminho para restabelecer a ordem com recurso a granadas de gás lacrimogéneo.
A nossa Reportagem esteve por instantes no meio do fogo cruzado e testemunhou cenas em que simpatizantes do MDM incendiavam, sem dó nem piedade, uma viatura de um simpatizante da Frelimo.
A Polícia disparou para o ar e só assim o jovem simpatizante saiu com vida da viatura em que seguia. Simpatizantes do MDM queriam assar o jovem ali mesmo.
Munhava vivia, desta forma, cenário dantesco com a Polícia a tentar exibir toda a sua autoridade e, por outro lado, simpatizantes do MDM a arregaçarem mangas para um confronto a todos os títulos desnecessário e lamentável.
A Frelimo não reagia às provocações. Colocava as suas viaturas em movimento ordeiro, em marcha inversa rumo a ambientes menos tumultuosos, prosseguindo com a sua campanha pacífica.
Tudo isso acontece quando toda a Imprensa dava sinal de mais uma campanha descrita como sendo ordeira até ao final da tarde de ontem.
Bem antes do reboliço, simpatizantes da Frelimo e do MDM haviam partido para um campo, confluindo num ponto que testemunhou espectáculo inédito: pessoas de partidos rivais abraçavam-se e davam lição de democracia, longe de imaginar que um rastilho ameaçava soçobrar a festa eleitoral.
Um grupelho do MDM, constituído por jovens arruaceiros, infiltrou-se e desde então promoveu a confusão, o luto e a fúria popular.
Até ao fecho da presente edição, a Polícia mobilizava mais meios para a região da Munhava, onde há relatos de as desordens de ontem serem, na verdade, um pré-sintoma do efeito de equilíbrio de forças entre a Frelimo e o MDM no município da Beira.
Fotos de António Luís