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Salvando vidas minuto a minuto

Por admin

O mundo celebrou segunda-feira última, dia 12 de Maio, o Dia Internacional do Enfermeiro. No nosso país, esta data foi comemorada num momento em que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) conta actualmente com 10.582 enfermeiros. Este número ainda é considerado insuficiente para a demanda que se assiste nas unidades sanitárias. Apesar de ser uma classe trabalhadora cuja profissão nem sempre é devidamente reconhecida, estes revelam-se uma das peças chave do nosso Serviço Nacional de Saúde. Por estas e outras razões está em processo de aprovação o Estatuto do Enfermeiro que visa regulamentar esta actividade.

Na nossa realidade, o enfermeiro constitui um dos elementos fundamentais no nosso Serviço Nacional de Saúde, há semelhança do que é o professor na Educação, ou o polícia, na Segurança. Muitas vidas são depositadas nas mãos do enfermeiro, desde que o ser humano é trazido ao mundo. Sem ele, não existe uma unidade sanitária, sobretudo na nossa realidade onde o défice de recursos humanos na Saúde ainda persiste.

Por causa deste défice, nas zonas rurais, (e não só), esta figura é vista como a fonte de salvação. Lá, o enfermeiro é o advogado dos doentes. É o técnico que mais contacto estabelece com os pacientes. Este facto exige que esta classe dê mais de si. Ele assemelha-se a uma mãe que reparte a atenção por todos os filhos de igual modo.

Por via destas considerações e tendo em conta o dia desta classe profissional, domingo conversou com Safira Cuna, representante da Associação dos Enfermeiros de Moçambique (ANEMO). Ouviu também vários enfermeiros em Maputo, Gaza e Niassa, cujos depoimentos se seguem nos textos abaixo.

Rácio Enfermeiro/Paciente

Safira Cuna afirma que o rácio enfermeiro/doente no país afecta sobremaneira a qualidade dos serviços e as pessoas nem sempre percebem a origem desta problemática. “Um dos problemas resultantes desta sobrecarga no enfermeiro é a fadiga”, explica Safira Cuna.

Mais adiante, a representante da ANEMO vai mais longe e faz referência aos efeitos desta sobrecarga também na qualidade de vida destes profissionais. “As longas horas de trabalho em pé trazem, a partir de certa idade, problemas de saúde. Alguns enfermeiros, a partir de uma certa idade, começam a ter dores nos pés e na coluna. E esse mesmo enfermeiro é cortado as regalias, quando vai à reforma”, explicou.

 Para além do desgaste físico que muitas vezes se reflecte a longo prazo, está o risco de contaminação de doenças.

Apesar de se gozar do privilégio de ter uma consulta do trabalhador, onde se procede periodicamente a exames de despiste de doenças, o enfermeiro, como outros profissionais da área, está vulnerável a contaminações de doenças.

 A realização dos exames por parte dos enfermeiros é voluntária. O recomendado é que se faça este tipo de exames semestralmente. Geralmente, os mesmos comportam exames gerais, nomeadamente, o de raio X, o despiste de tuberculose e o hemograma para despiste de qualquer doença ligada ao sangue.

De acordo com a representante da associação dos enfermeiros, a aprovação do Estatuto do Enfermeiro é uma medida que pode resolver alguns problemas do sector, uma vez que ele constitui um dos instrumentos que virá regulamentar a actividade de enfermagem. “Estamos à espera da aprovação do Estatuto do Enfermeiro. O documento já passou pelo Conselho de Ministros. Neste momento, aguardamos que seja submetido à Assembleia da República para a sua aprovação”, explicou Safira Cuna.

PAPEL DO ENFERMEIRO

NA UNIDADE SANITÁRIA

Trajados de calça ou saia branca e uma jaleca (camisa) da mesma cor, os enfermeiros trabalham lado a lado com os médicos. Enquanto este procede ao diagnóstico da doença no paciente, o enfermeiro faz cumprir a recomendação deixada e procede, em paralelo, com os cuidados de enfermagem do paciente. Nos serviços de saúde, estas duas figuras complementam-se”, afirma Safira Cuna. Mais adiante sublinha:“enquanto o médico tem a sua bagagem de conhecimento na área de diagnóstico, o enfermeiro tem o seu conhecimento na área de cuidados de enfermagem que são fundamentais para o sucesso do tratamento”.

Safira Cuna salienta ainda que neste domínio, ninguém tem mais conhecimento que o outro, tendo em conta que os dois têm o mesmo objecto de trabalho que é a pessoa doente.

O DESAFIO DA FORMAÇÃO

Com os avanços que se estão a registar no sector de Saúde, e o surgimento de diferentes epidemias, actualmente o maior desafio neste sector é a formação e reciclagem do pessoal. Hoje, o país conta com um Instituto Superior de Ciências de Saúde (ISCS), que coloca oportunidades de formação ao nível mais alto em enfermagem.

Mais adiante, Safira Cuna explicou que com o nível superior de enfermagem, este profissional passa a ter uma capacidade de fazer também o diagnóstico de enfermagem e com base nele traça planos para melhorar a saúde do doente.

A VOZ DO ENFERMEIRO

domingovisitou o Hospital Central de Maputo (HCM). Neste momento, estão afectos naquela unidade sanitária 754 enfermeiros para mil e 500 camas. A nossa equipa visitou as enfermarias de Medicina e conversou com alguns profissionais que deram o seu testemunho sobre o seu dia-a-dia. A formação dos técnicos de enfermagem e a organização da classe, foram os pontos destacados  pelos técnicos de enfermagem que partilharam o seu quotidiano com este jornal.

É preciso humanizar a profissão

– Félix Conjua

Felix Conjua, é um dos profissionais mais antigos daquele sector. Formou-se em 1984 pelo Instituto Médio de Ciências de Saúde. Para ele, na actualidade, o maior desafio desta profissão está na formação e humanização da mesma. “Hoje vivemos uma realidade em que a cada dia que passa se tem conhecimento de novas patologias que estão a aparecer e, nós devemos estar preparados para lidar com elas. Mas, para isso, temos que ter conhecimento. Porém, isso não basta. Temos que humanizar a nossa relação com os nossos pacientes para ajudá-los a superar as doenças”, revelou.

Conta que muita coisa aconteceu ao longo dos mais de 25 anos nesta profissão. Porém, o atendimento das vítimas do acidente de    Tenga, na Moamba, província de Maputo, e a recente greve dos profissionais de Saúde foram os momentos especialmente negativos guardados na sua memória.

Em relação à sua profissão, Felix Conjua lamenta o facto de algumas pessoas não a respeitarem. “Nos tempos passados, as pessoas reconheciam a importância dum enfermeiro numa unidade sanitária. Porém, hoje a realidade já não é a mesma. Uns respeitam-nos outros não”, lamentou.

Temos que organizar a nossa classe

– Énia Jinote

Énia Fernandes Jinote é outra enfermeira com quem o domingo conversou. É técnica superior de enfermagem há 8 anos. Formou-se no Brasil. O seu sonho era ser médica. Porém, acabou optando pela enfermagem. Revela que no princípio tinha uma noção vaga da profissão. Entretanto, com o tempo foi conhecendo a área e se apaixonou por ela. Para esta jovem enfermeira, esta classe ainda não está preparada para os diferentes desafios que se antevê no país.

Nós, os enfermeiros, ainda não estamos devidamente organizados para responder aos diferentes desafios na área de saúde. Já temos uma associação, mas nem todos estamos já inscritos. As condições de trabalho também não são das melhores e por isso estamos a perder muitos e bons enfermeiros por causa dos riscos de saúde e a falta de organização. Alguns que já têm nível médio de enfermagem estão a optar por fazer curso superior noutras áreas, e nós é que perdemos com isso, lamentou a nossa entrevistada, para mais adiante acrescentar que “existe a necessidade de se fazer algo para manter estes profissionais neste sector”.

Sempre quis ajudar o próximo

– Glória Chone

Estou preparada para ajudar as pessoas a terem uma saúde melhor. A escola não nos ensina tudo, o resto se aprende com a prática”. Estasforam as primeiras palavras proferidas pela enfermeira Glória Chone, recém-formada e que está há quatro meses afecta ao Banco de Socorro do Hospital Central de Maputo (HCM).

Glória Chone referiu que o que a motivou a seguir a área de saúde foi a experiência que viveu no seio de pessoas próximas que, quando doentes, nalgum momento, precisaram de apoio de um profissional de saúde, facto que a frustrava por não conseguir ajudar.

 

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