Nampula mudou. Ganhou um sistema de escoamento das águas pluviais de que carecia há décadas. O troço da Estrada Nacional número Um (EN1) que atravessa esta província foi refeito a partir da base, pontes incluídas. A água potável também já jorra em torneiras domésticas e de fontanários de bairros novos e velhos. O povo aplaude estas reformas infra-estruturais e afirma sem pestanejar: “são obras do nosso Governo!”.
Engenheiros de construção civil afirmam que a cidade de Nampula foi erguida sem um sistema de drenagem de águas residuais, também chamadas águas negras, pelo que cada prédio ou moradia tinha fossas e drenos que funcionavam de forma isolada.
Quando estes drenos e fossas enchiam, cada condomínio ou família devia solicitar os serviços de empresas de prestação de serviços de sucção. Porém, este método funcionou de feição durante alguns anos mas, com o crescimento exponencial do número de habitantes, associado à degradação das condutas e à extinção daquelas empresas, o caos se instalou porque cada um começou a improvisar soluções.
Para pôr cobro à situação, pessoas singulares e entidades colectivas, como são os casos do Hospital Central de Nampula, Hotel Girassol, Prédio Branco, Cadeia Provincial de Nampula, entre outras, foram “autorizadas” pelo Conselho Municipal local a construir condutas para escoarem as suas águas negras para o sistema de drenagem de águas pluviais (das chuvas).
Para embaraçar, as condutas eram a céu aberto e, como se pode imaginar, começou a “despejar” odores nauseabundos para o espaço, a constituir ameaça para a saúde pública e a frustrar os passeios de turistas e da gente nativa. Em suma, Nampula se transformara numa cidade simplesmente desagradável.
Entretanto, porque o país cumpria com os requisitos do Millenium Challenge Corporation (MCC), braço financeiro do governo norte-americano, nomeadamente respeito pelos Direitos Humanos, Boa Governação, Manutenção da Paz e Tranquilidade Política, entre outros, o governo moçambicano rubricou um acordo de financiamento estimado em 506 milhões de dólares, parte do qual destinado a refazer aquele sistema de drenagem.
Por via do projecto designado Millenium Challenge Account (MCA), o Governo mandou refazer aquele sistema, o que implicou a construção de cerca de 14 quilómetros de colectores, reabilitação de alguns e substituição de outros tantos. Tudo o que a população da área municipal de Nampula quer hoje é ver a chuva a cair para ter a certeza de que aquelas valas funcionam de feição.
No total, o projecto de reforma do sistema de drenagem de Nampula custou a volta de 17 milhões de dólares, tendo em conta que cerca de 13 milhões de dólares foram usados para a execução daquela obra, e os restantes quatro milhões serviram para a resselagem total de cinco quilómetros de estradas afectadas.
Para os residentes dos bairros por onde passam os colectores, esta empreitada merece aplausos tendo em conta que na época chuvosa muitas famílias assistiam impotentes ao desabamento das suas habitações que resultava da força das correntes de água. “Aqui no bairro Mutauanha, os residentes estão conscientes de que devem garantir a limpeza desta vala para que resista por muitos anos”, diz António Celestino.
Mas o governo não se ficou pela construção daquela rede de drenagem. Criou a Empresa Municipal de Saneamento de Nampula (EMUSANA), que é a entidade que deverá velar pela manutenção dos sistemas de drenagem que será supervisionada ao nível central por uma outra entidade nova denominada Administração de Infra-estruturas de Água e Saneamento (AIAS).
A pretensão do governo é de ver a EMUSANA a ganhar sustentabilidade financeira e a servir de agente de sensibilização para a limpeza permanente daquelas condutas para que possam funcionar em pleno, tendo em conta que, em alguns casos, algumas valas podem escoar cerca de quatro metros cúbicos de água por segundo se não houver obstruções.
“Estou muito grata ao governo porque vivia sob ameaça permanente da água das chuvas, da erosão e do mau cheiro provocado pela passagem de águas negras. Nem parecia que estava a viver numa cidade”, disse Megui Dique, que partilha o quintal com uma das valas.
Água nas torneiras
No domínio do abastecimento de água, os munícipes de Nampula também são felizardos. Por via do MCA, o governo concretizou uma obra que, de outro modo, seria bicuda, dados os avultados meios humanos, materiais e, sobretudo, financeiros que seriam necessários.
Com o mesmo apoio financeiro concedido pelo governo dos EUA, o governo moçambicano conseguiu duplicar a capacidade de captação, tratamento, bombagem e abastecimento de água apos cerca de 550 mil habitantes da cidade de Nampula.
Ainda que com alguns atrasos aqui e ali, a obra saiu do papel e se tornou em algo tangível, a estação de captação, tratamento e bombagem já está materializada, assim como foi construída uma linha de 16 quilómetros para que a água chegue à maioria até aqui dependente de fontes improvisadas algures.
Aquando da nossa recente visita àquele sistema decorriam trabalhos de programação e automatização dos equipamentos, ao mesmo tempo que era verificada a pressão, testagem e desinfecção da tubagem. Em paralelo decorrem trabalhos de ampliação da rede de fornecimento de água aos bairros que estão a surgir em redor da cidade de Nampula.
Segundo o representante do MCA, José Chambisso, aquela obra compreendeu a duplicação da capacidade de captação e bombagem (de 20 mil metros cúbicos para 40 mil metros cúbicos), aquisição e montagem de um gerador para a captação, construção de um edifício de controlo, uma conduta de água (bruta) para a estação de tratamento, nova estação de bombagem, nova estação de tratamento e montagem de duas bombas de segurança.
A par destes trabalhos, a população da província dos distritos de Mogovolas, Moma, Mongicual, Monapo, Murrupula, Meconta e Rapale beneficiou da construção de raiz, como sói dizer-se, 350 furos de água, 100 dos quais estabelecidos no distrito de Mogovolas.
Visitamos o remoto regulado de Eranza, na área de Ntulo, Posto Administrativo de Nametil, no interior de Mogovolas e a população era só festa. Cantavam e dançavam ovacionando o furo que lhes coube. É que até então dependiam da água captada em charcos distantes, onde disputavam cada caneca ou balde com o gado bovino, entre outros animais.
EN1 com nova roupagem
No quadro dos esforços visando tornar a Estrada Nacional número Um (EN1) transitável de norte a sul, o governo não se poupou em esforços e, à semelhança do que fez nos troços Jardim-Benfica, em Maputo, e de Xai-xai até Chissibuca, em Gaza, entre outros, em Nampula também se fez obra de alto padrão.
Do rio Ligonha, a sul, por onde a EN1 entra em Nampula, até ao rio Lúrio, a norte, onde esta estrada diz “adeus” a esta província, o MCA refez a base, sub-base e revestimento e ainda alargou a via de seis para 10.8 metros. As especificações técnicas indicam que por ali foi aplicada areia seleccionada na sub-base, pedra na sub-base e colocado um duplo revestimento de pedra e betume para que dure pelo menos uns 10 anos.
Também observa-se que as pontes e aquedutos foram alargados, houve a reparação de parapeitos, guarda rodas e passeios. Dados em nosso poder indicam que no troço Namialo/Rio Mecutuchi e deste rio até ao rio Lúrio, que perfaz cerca de 150 quilómetros, foi necessário substituir 69 aquedutos que se mostravam velhos demais para suportar o tráfego actual.
De uma forma geral, na componente de estradas, a obra é descrita como estando executada em cerca de 90 por cento, sendo que as actividades que estão por concluir serão feitas com fundos exclusivos do governo, isto porque alguns empreiteiros não conseguiram executar as tarefas dentro dos prazos definidos pelo governo norte-americano, através do MCC.
Para justificar os atrasos, fontes ouvidas pelo nosso jornal referem que o processo conheceu uma temporada longa de “pé-coxinho” porque era necessário fazer a pré-selecção das estradas a contemplar no projecto, fazer estudos de pré-viabilidade, de viabilidade, desenhar o projecto detalhado de engenharia, lançar concursos públicos para a adjudicação do empreiteiro, mobilizar meios humanos e materiais e, por fim, executar a obra em exactos cinco anos.
Contudo, para a população que não entende nada disto e que já estava saturada de viajar numa estrada nacional estreita, prenhe de remendos e buracos de todos os feitios e tamanhos, o que está feito é compensador, tendo em conta que já se deslocam confortavelmente e economizam no tempo e na reposição de peças.
Porque a obra está feita, domingo deixa um registo de imagens captadas pelo nosso colega, Jerónimo Muianga, em vários pontos da província de Nampula, que testemunham a realidade que hoje se vive naquele ponto do país.
Jorge Rungo
(Fotos de Jerónimo Muianga)