Política

País não se constrói com “fofoca” mas com trabalho

O Presidente Armando Guebuza defende que um país não se constrói com base na “fofoca” e autoflagelação, mas sim através de trabalho árduo. “O país constrói-se com trabalho. Trabalho

 árduo”, disse Guebuza, que falava na quarta-feira na cidade de Sidney, durante um encontro mantido com um grupo de moçambicanos residentes e estudantes na Austrália.

O estadista moçambicano explica que quando as pessoas deixarem de pensar na “fofoca” o debate será mais produtivo, porque estará centrado apenas no trabalho.

Quando chegar essa fase, segundo disse, a discussão deixará de ser sobre o “não trabalho”, e passará a ser como corrigir o que está errado.

Aparentemente esta mensagem era dirigida a todos os moçambicanos, mas particularmente aos jovens estudantes na Austrália, face à descoberta de vastos depósitos de carvão e gás natural que acabam alimentando falsas expectativas.

 

Esta expectativa deverá ser assumida como uma promessa e um desafio, disse o Chefe do Estado, exortando que os moçambicanos devem trabalhar para que rapidamente se transforme numa realidade que, por seu turno, transformará a vida de todos os cidadãos.

“Em grande parte é por isso que vocês (estudantes moçambicanos na Austrália) estão aqui. É para vir aprender aquilo de que nós não temos domínio”, disse.

Para a rápida transformação do país, o mais alto magistrado da nação, afirma que todos os moçambicanos devem estar juntos, abraçando o mesmo ideal.

Como exemplo da “fofoca”, Guebuza cita as críticas em torno dos grandes projectos, alegando que não estão interessadas em aproveitar as empresas nacionais para o fornecimento de determinados produtos.

 

Os críticos acusam os megaprojectos de importar carne de frango e outros produtos por falta de capacidade de fornecimento a nível interno.

Guebuza considera estas críticas de autoflagelação, pois revelam um desconhecimento total da realidade e dos níveis de desenvolvimento da economia moçambicana.

Explica que há cerca de quatro ou cinco anos, os produtores nacionais enfrentavam uma forte concorrência do frango brasileiro, que era colocado no mercado moçambicano a um preço mais barato comparativamente ao frango local.

Entretanto, os produtores nacionais não perderam tempo na “fofoca” e decidiram arregaçar as mangas e trabalhar arduamente. Como fruto do seu esforço, passaram de seis mil trabalhadores em 2009 para 62 mil em 2012.

Este número supera de longe o número combinado dos trabalhadores ao serviço das açucareiras de Mafambisse, Sena, Xinavane, Maragra e Búzi, que tradicionalmente foram sempre consideradas como os maiores empregadores no país.

Este é um grande feito dos produtores de frango que, hoje, devem empregar no total acima de 70 mil trabalhadores.

Portanto, disse Guebuza, “é verdade que estamos a enfrentar dificuldades. É verdade que as empresas moçambicanas não estão a fazer melhor uso de megaprojectos, mas também não deixa de ser verdade que as empresas moçambicanas devem ter pessoas com garra e capacidade de lutar. Devem ser agressivas e ser capazes de produzir.”

 

MOÇAMBIQUE CRESCE

A UM RITMO INVEJÁVEL

 

Falando sobre o actual estágio de desenvolvimento de Moçambique, Guebuza disse que o país continua a crescer a um ritmo de sete por cento por ano, que ao fim de 15 anos acaba sendo um grande feito, um sucesso que apenas poucos países do mundo conseguiram alcançar.

Por exemplo, enquanto no fim da guerra de desestabilização, Moçambique tinha um rendimento per capita de cerca de 80 dólares, hoje o mesmo está calculado em cerca de 600 dólares.

“Ainda é pouco, mas é aquilo que alcançamos e merece o nosso orgulho. Se Moçambique saiu de um rendimento per capita de 80 para 600 dólares isso significa que podemos atingir mil e, naturalmente, aquilo que for necessário”, disse.

O Chefe do Estado afirma que este crescimento deve-se a vários factores, entre os quais a dedicação do povo moçambicano, muito amor e auto-estima, porque entende que para alcançar as suas ambições será através do seu próprio esforço.

Também deve-se à paz existente em Moçambique e uma sociedade civil muito activa, participativa e existência de forças políticas fazendo a parte que lhes cabe neste mesmo processo.

Deve-se ainda às políticas adoptadas pelo próprio governo, pois estes índices de crescimento registaram-se antes da descoberta de carvão.

O governo acredita que os moçambicanos devem gerar riqueza com as suas próprias mãos, razão pela qual os sectores da agricultura, indústria, serviços, turismo, aquacultura, desempenharam e continuarão a desempenhar um papel muito importante na estratégia de desenvolvimento.

Guebuza também fez questão de apontar o desenvolvimento das infra-estruturas, citando como exemplo a expansão da rede eléctrica que já cobre praticamente todos os 128 distritos em Moçambique, contrariamente há poucos anos.

Para melhor elucidar, o Presidente da República afirma que a média do consumo anual de energia eléctrica em Moçambique cresce a um ritmo de 15 por cento por ano, uma cifra invejável.

Isso também coloca novos desafios ao governo, tais como uma maior manutenção, mais investimentos na produção e transporte de energia.

Por outro lado, o governo entende que a manutenção destes níveis de crescimento carece de capital humano devidamente preparado.

Guebuza também abordou as calamidades cíclicas que afectam o país, tais como cheias e secas.

Fazendo um breve reparo, explicou que o governo entende que a construção de barragens pode ajudar a mitigar o problema das cheias. Infelizmente, a construção de uma barragem tem custos que podem ascender a mais de um bilião de dólares.

 

Para algumas pessoas esta é uma soma irrisória para um país.

 

“Mas, nós não temos esse pouco. Vejam que o nosso orçamento anda à volta de quatro a cinco biliões por ano. Portanto, um bilião é um quarto ou um quinto do nosso orçamento anual”, disse Guebuza, para de seguida acrescentar que “encontrar mais um bilião não é tão fácil assim. Não basta apenas ter boa vontade.”

Para o Chefe do Estado moçambicano, as cheias serviram para recordar aos moçambicanos que o país é pobre e para acabar a pobreza é necessário produzir riqueza.

“Não podemos ter medo ou vergonha de produzir riqueza. Não devemos nos inibir de produzir riqueza, porque a riqueza vai gerar mais receitas para permitir melhorar a vida do povo”, exortou.

 

GUEBUZA APELA

A UMA VISÃO MAIS REALISTA

 

No final da última década começou a ficar aparente que Moçambique tinha vastas reservas de carvão e, mais recentemente, gás natural.

Segundo Guebuza, isso pode criar falsas expectativas nas pessoas daquilo que é real e o que é possível fazer.

“Por exemplo, podemos esquecer que o carvão já estava lá e que os nossos avós pisavam aquele carvão. Por isso, se foi descoberto agora porque criaram-se condições para a sua descoberta. Mesmo assim o carvão não vai sair de lá sozinho”, disse.

Para que a extracção de carvão se traduza em riqueza é preciso se criar uma série de condições.

Para o efeito, a Vale Moçambique assinou um memorando de entendimento em 2004 com o governo moçambicano, no qual assumia a responsabilidade de explorar o carvão de Moatize. A produção de carvão iniciou sete anos mais tarde.

“Esta é a realidade da vida”, explicou Guebuza, para de seguida acrescentar que “hoje descobrimos gás natural, cuja exploração deverá iniciar em 2018, envolvendo um investimento na ordem de várias centenas de milhões de dólares.”

Segundo o estadista moçambicano, no período que decorre desde a descoberta de recursos naturais até à sua exploração, o governo está a trabalhar.

Guebuza aproveitou a oportunidade para exortar aos mais iluminados e instruídos a serem mais realistas.

Ele reconhece que ninguém é completamente realista, mas defende que é dever das pessoas mais cultas partilhar parte da sua visão real com os outros, e trabalharem para que o carvão seja extraído da terra, porque caso contrário “qualquer dia vão sonhar com o carvão no prato”.

(AIM)

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