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Nyusi quer relações políticas sustentadas pelas económicas

Por admin

Não basta que tenhamos um passado histórico comum, uma história similar, baseada na colonização pelo mesmo colonizador, nem é suficiente que reiteremos que somos irmãos. Precisamos de ir mais além, que as boas relações históricas e de irmandade sejam sustentadas por uma cooperação económica pujante e ao nível da nossa aproximação privilegiada, o que faz com que o Indico não esteja longe do Atlântico, disse repetidas vezes, Filipe Nyusi na sua visita a Angola.

Os povos de Moçambique e Angola tiveram um passado comum pelo facto de terem sido colonizados por Portugal e pouco tempo depois das respectivas independências terem sido assolados por guerras civis.

Nos dias de hoje, estes países estão em reconstrução e a principal inquietação, pelo menos do lado moçambicano, relaciona-se com a supressão de vistos, o que pode vir a ser resolvido até próximo ano segundo garantiu o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, em balanço da visita efectuada semana finda àquele país do Atlântico, tendo como objectivo a dinamização das trocas comerciais.

O adágio popular segundo o qual dois irmãos que nascem da mesma barriga podem não ter a mesma sorte assenta que nem uma luva na história da edificação destes dois países falantes da língua portuguesa e inseridos na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e na CPLP. 

Ambos se tornaram independentes no ano de 1975 sendo que Moçambique, a 25 de Junho e Angola a 11 de Novembro. A sorte foi para os angolanos que muito cedo beneficiaram da exploração dos recursos naturais, entre eles, o petróleo e o gás.

Em Moçambique, estes recursos estão na fase de descoberta e prospecção o que levou o estadista moçambicano na sua visita de Estado a Angola a escalar dois empreendimentos cruciais para o seu desenvolvimento, nomeadamente, a Refinaria de Luanda e a Base Logística de todo o processo de exploração petrolífera.

O objectivo era perceber de perto o funcionamento deste tipo de empreendimentos tendo em conta os planos de construção da Base Logística de Pemba e as infraestruturas para a liquefacção do gás da Bacia do Rovuma.

Este aspecto por si revela como é que estes países com o mesmo passado colonial e guerra civil estão a entrar para o processo do desenvolvimento. A crise financeira também afecta os irmãos angolanos que importam cerca de 80 porcento dos bens que consomem. Mas antes vale a pena levar o leitor para a cidade de Luanda com as mesmas características com as de Maputo.

NOVOS EDIFICIOS DISPONTAM EM LUANDA

Tal como a cidade de Maputo, a capital angolana está a conhecer um crescimento na área da imobiliária. Estamos a falar de vários edifícios em construção com arquitectura de vidro o que em algum momento faz lembrar as construções em curso na zona da nossa marginal assim como do próprio coração de Maputo.

O denominador comum desses empreendimentos é que na sua maioria são destinados a serviços de hotelaria e turismo, havendo ruas em que se contam mais de dez estabelecimentos desta natureza, que à altura da nossa presença eram frequentemente solicitados pelos turistas.

Em contrapartida e à semelhança do que acontece na cidade de Maputo, em Luanda é possível ver arranha-céu acabados de concluir ao lado de edifícios em escombros ou de casas visivelmente encardidas com inquilinos de todas as classes sociais, desde a básica, média e aqueles que tem um padrão de vida marcadamente opulente.

As coisas são tão semelhantes sobretudo para quem entra a Angola a partir do Aeroporto 4 de Fevereiro, pois, logo após desembarcar pode pensar que está no Aeroporto de Maputo se reparar as casas em redor.

Referimo-nos a construções de casas de madeira e zinco erguidas junto ao murro de vedação daquela infraestrutura aeroportuária, sendo que a diferença é que em Luanda existe um tráfego intenso na sua maioria de grandes aeronaves, entre eles, os Boing 787, os Air bus 320 e 380, entre outras de grande porte.

Nas ruas de Luanda é possível ver contentores de lixo a transbordar, facto agravado pelos catadores de lixo e cães que procuram algo para o seu proveito. As ruas são estreitas com varias rotundas, fazendo lembrar a cidade da Beira.

Nos dias de chuva algumas ruas são intransitáveis como por exemplo, do bairro de Alvalade em que os solos são empurrados para estrada, formando autenticas lombas e charcos de água que embaraçam o tráfego.

Uma outra via intransitável, sobretudo na época chuvosa, é a que dá acesso à refinaria de petróleo de Luanda. Aqui é quase impossível circular devido à lama que se forma na estrada bastante esburacada e que faz lembrar a via que liga o mercado de Xipamanine à Avenida Joaquim Chissano. O presidente da Republica de Moçambique passou por esta via e terá sentido os solavancos decorrentes dessa situação incómoda.

CONGESTIONAMENTO A TODO MOMENTO

Para conduzir em Luanda não basta ter sido habilitado pela escola de condução ou uma outra entidade para esse feito. Exige-se, para além da mestria, flexibilidade, destreza e rapidez na tomada de decisão e nisso os angolanos são exímios, visto que durante a nossa estadia só observamos dois carros que se chocaram lateralmente.

Logo à saída do aeroporto a adrenalina começa a aquecer com um tráfego intenso permanente que ultrapassa de longe os congestionamentos que se registam nas nossas estradas nas horas de ponta.

Mesmo o tráfego rodoviário que se regista na Estrada Nacional Numero 4, sobretudo na Portagem de Maputo não se compara com aquilo que acontece na cidade de Luanda. Aqui chega-se a circular a dez quilómetros por hora numa distância de cerca de 15 quilómetros.

Os trabalhadores para chegarem aos respectivos postos de emprego, tem que sair entre 4/5 horas antes. No nosso caso tínhamos que sair duas horas antes sob risco de perder a agenda presidencial.

Assim como acontece na cidade de Maputo, em Luanda os maiores malabaristas e transgressores do Código de Estrada são os chapeiros, localmente designados de candongueiros. A capital de Angola tem uma população de cerca de 6.542.944 de habitantes de um universo de 24,4 milhões do país.

Os famosos candongueiros circulam de forma indisciplinada, embaraçando o trânsito, sendo que na maioria das vezes têm que subornar a polícia de trânsito para evitar multas. Relativamente aos autocarros para o transporte público, quase que não existem a não ser alguns machimbombos que andam vazios alegadamente por serem morosos. Dados conseguidos ao alto dizem que em cada 50 luandinos, um tem a viatura própria.

SUPRESSÂO DE VISTOS PREOCUPA OS DOIS POVOS

Se nas relações político diplomáticas as coisas são óptimas na diplomacia económica, sobretudo no concernente a implementação do protocolo de livre circulação de pessoas e bens, ainda há longo caminho a percorrer.

No encontro mantido com o Chefe do Estado, os mais de mil moçambicanos residentes em Angola pediram para que este intercedesse no sentido de resolver a situação que dificulta o intercâmbio comercial.

Destes, apenas 733 têm a documentação regularizada, mas de pouca duração, uma vez expirado o prazo tem que se deslocar a Maputo para a competente actualização. Para minimizar a situação pediram ao Presidente da Republica que os documentos fossem tratados na embaixada em Luanda.

A esse respeito, Filipe Nyusi garantiu que o governo vai despachar para Luanda uma equipa da Migração que se vai inteirar da actualização de vistos de entrada, emissão de bilhete de identidade e passaporte biométrico. Estava previsto que a tal equipa multidisciplinar se deslocasse a Luanda esta sexta-feira, segundo Filipe Nyusi, secundado pelo seu ministro do Interior, Basílio Monteiro.

De referir que os moçambicanos residentes naquele país da costa atlântica trabalham nas áreas da banca, hotelaria e turismo, educação, construção civil, para não falar dos que se dedicam ao comércio, como é o caso de Sérgio Araújo, natural de Nampula. Este vive neste país há 20 anos.

Segundo afirmou, ele foi parar naquelas bandas inserido numa organização não-governamental. Terminado o projecto regressou a Maputo, não tendo encontrado um imediato enquadramento ao que se seguiu a juncão de alguns dólares e o regresso a Angola por conta e risco próprios, onde se dedica a compra e venda de roupa usada, vulgo Xicalamidade.

Ele adquire as roupas em Luanda e depois vai vender em algumas das 18 províncias angolanas, tais, como, Bengo, Malange, Kwanza Norte e Sul, entre outras. As rendas deste compatriota variam entre 4 a 5 mil Kwanzas por dia, valor que juntou ate adquirir terreno a 20 quilómetros de Luanda.

Quem também está nestas bandas é Salvador Maurício que contou que veio como missionário mas que terminada a formação regressou a Moçambique donde de novo retornaria a Luanda onde trabalha como professor numa instituição pública.

Para ele a vida não é fácil, mas é preciso “batalhar” para não ter dissabores até porque sendo professor em algum momento tem que se desdobrar para ganhar mais dinheiro que tem que dividir com a sua família em Maputo.  

Defendida agressividade económica

A incrementação das trocas comerciais entre Moçambique e Angola deve passar do actual estágio de letargia para um volume de negócios maior em que ambos países obtenham ganhos recíprocos uma vez existir potencialidades para uma cooperação descentralizada e de resultados económicos concretos.

No ano passado as trocas comerciais entre os dois países atingiram o valor de 4,8 milhões de dólares, abaixo de 6,8 milhões de 2013, sendo que Angola ocupou o trigésimo oitavo país na escala de em investimentos em Moçambique. 

“A cooperação continua sendo o objectivo principal para reforçar as relações de amizade, mas sobretudo, quando injectámos com alguma agressividade a componente cooperação económica para criar robustez das nossas relações económicas”,disse Filipe Nyusi sublinhando que a assinatura de mais de 22 acordos e memorandos é prenúncio de melhores dias nas trocas comerciais.

Um outro ganho a destacar nesta visita foi o perdão da divida de Moçambique para com aquele pais, de cerca de 60 milhões de dólares. Segundo o Chefe de Estado, o montante será repartido pela metade, sendo que uma parte poderá resultar em investimentos angolanos em Moçambique.

“Angola mais uma vez reafirmou a sua vontade de perdoar a dívida pelo menos em 50 por cento e a outra parte que ficar transformá-la em investimento e isso já se tinha manifestado como intenção e agora foi colocado no comunicado final do encontro. É um gesto que simboliza de facto a amizade de colaborar para as soluções dos nossos problemas”,disse o Chefe do Estado.   

Para vincar esta a sua posição, o Presidente da República que se fazia acompanhar por um grupo de 50 empresários de diferentes ramos de negócios, deu um exemplo nas trocas comerciais afirmando que Moçambique tem um bom camarão e que os angolanos por sua vez produzem um carapau gigante.

Discursando no fórum de negócios entre os dois países, o estadista moçambicano desafiou os empresários a trabalharem no sentido de melhorar o ambiente de negócios que nos últimos tempos baixou significativamente.

Já no balanço da visita e em Conferencia de Imprensa, o Presidente da República manifestou-se muito feliz com as conversações mantidas com o seu homólogo angolano, tendo afirmado que uma das prioridades a ser resolvida em breve é a questão da supressão de vistos.

“Os acordos foram celebrados e passamos em revista o que tinha sido acordado em 2014 e os memorandos, mais de 22, que ainda estavam em banho-maria. Uma das decisões tomadas foi que deve haver uma monitoria periódica, pode ser de trimestral ou semestralmente para se poder verificar se aquilo que está ser discutido está a ser defendido e executado”,disse Filipe Nyusi.  

Sublinhou que a sua deslocação àquele país irmão foi feliz: “Portanto, podemos dizer que a nossa visita de Estado que coincidiu com os 40 anos da independência de Angola, foi feliz. Colocamos a grande preocupação que tem a ver com a questão de supressão de vistos e pensamos que no próximo ano terá que ser resolvida”, destacou o Presidente da República.

De referir que para além de manter conversações com o estadista angolano, José Eduardo dos Santos, o presidente moçambicano fez um discurso na Assembleia Nacional de Angola e foi o ultimo presidente a discursar no antigo edifício uma vez ter sido, um dia depois, inaugurada a nova sede do Parlamento daquele pais.

Nesta deslocação, o Chefe de Estado fez-se acompanhar pelos ministros dos transportes e comunicações, Carlos Mesquita, dos Recursos Naturais e Energia, Pedro Couto, do Interior, Jaime Monteiro, dos deputados: Alcinda Abreu e Luciano de Castro, da Frelimo e de Rajade Carvalho do MDM; do Veterano da Luta Armada, Marcelino dos Santos, entre outros quadros do seu Gabinete.

Texto de Domingos Nhaúle

nhaule2009@gmail.com    

Fotos de Armando Mumguambe

 

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