Moçambique continua a ocupar um lugar de destaque no âmbito da cooperação político-diplomática e económica com a China. O encontro que o Presidente da República, Filipe Nyusi, manteve com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, que a maioria de outros líderes africanos procuraram e não conseguiram, não obstante a maratona diplomática nesse sentido, abre portas para que o país continue a beneficiar da assistência e financiamento do gigante asiático.
Nas hostes político-diplomáticas moçambicanas reina um claro optimismo de que Moçambique reúne todas as condições de elegibilidade para beneficiar das novas linhas de financiamento ao desenvolvimento, abertas pelo governo chinês e anunciadas na II Cimeira do Fórum de Cooperação China-Africa que terminou ontem (sábado), em Sandton, Johannesburgo, África do Sul, com a adopção da declaração de princípios políticos e do plano de acção para o triénio 2016-2019.
O estadista moçambicano, na sua estreia no Fórum, não perdeu tempo e logo que desembarcou, na quinta-feira, rumou de imediato para o seu primeiro frente-a-frente com o presidente da segunda maior economia mundial, com quem analisou formas de financiamento das principais áreas prioritárias para o desenvolvimento do país, nomeadamente, agricultura, infraestruturas e industrialização, só para destacar algumas.
Não é para menos. Nos próximos três anos abrem-se muitas oportunidades para incrementar e diversificar o nível de cooperação entre a China e seus parceiros africanos como Moçambique. Estão em jogo, nada mais, nada menos, que 60 biliões de dólares. O tempo é de "lobbies" políticos e diplomáticos, de jogo de influências, para convencer os decisores da política monetária chinesa a aprovarem os projectos que correspondem aos objectivos do fundo: reduzir o grave problema de falta de infraestruturas adequadas para impulsionar o desenvolvimento, o crónico défice de talento, técnicos e profissionais altamente qualificados, insuficiência da tecnologia de ponta, precaridade dos equipamentos essenciais para dinamizar processos produtivos, entre outros.
O fundo de mais de 60 mil milhões de dólares, anunciado na cimeira sino-africana pela China para financiar projectos de países africanos nos próximos três anos abarca estes sectores vitais para a economia nacional, de um total de dez seleccionados para beneficiarem desta importante verba, para a qual concorrem todas as cerca de 50 nações do continente com relações diplomáticas com o gigante asiático.
Finanças, investimentos, comércio, recursos humanos, segurança alimentar, redução da pobreza, saúde e paz e segurança completam a lista dos projectos elegíveis para o financiamento chinês.
A verba, que representa o triplo do valor que a China disponibizou na primeira cimeira do fórum em Beijing, em 2012, inclui várias formas de financiamento: créditos sem juros, créditos concecionais e créditos preferenciais param as exportações, entre outras.
Moçambique pretende elevar a cooperação com a China a um nível que possa responder efectivamente à agenda de desenvolvimento do país. O desafio, segundo o Ministro moçambicano da Indústria e Comércio, Max Tonela, é aprofundar a cooperação económica com a China, como parceiro da agenda 2063 da União Africana para o desenvolvimento, que, nas suas linhas, destaca a necessidade de investimentos na industrialização.
Interessa a Moçambique, segundo Tonela, projectos de transferência de tecnologias, o estabelecimento no país de indústrias capazes de produzirem bens actualmente importados da China e de outros pontos, usando a plataforma de industrialização que Moçambique pretende implementar.
É nessa senda que Moçambique decidiu embarcar para uma agenda de desenvolvimento que tem como âncora a componente da industrialização.
O objectivo é, segundo o ministro, apostar na formação, dotando os moçambicanos de conhecimento e capacidade técnica para que sejam eles próprios a explorar, transformar e exportar os recursos naturais e outras matérias-primas que o país possui, reduzindo assim a exportação em bruto, que se revela menos cotada no mercado internacional.
A China, com cerca de 40 anos de abertura ao mundo e reformas profundas, como segunda economia e primeira no comércio a nível mundial, e com mais reservas em divisas, está na última etapa da sua industrialização, procurando, agora mais do que nunca, novas oportunidades e novos mercados.
África, com os seus imensos recursos naturais, muitos deles ainda por explorar, figura como mercado potencial para a expansão dos seus interesses empresarial e de investimento. É que se é verdade que decidida e definitivamente África precisa como nunca de recursos financeiros, chineses no caso vertente, também é verdade que a China "não apanha sono" e não quer "perder o comboio" quando o assunto tem a ver com a vastidão dos apetecíveis recursos existentes em África, tais como petróleo, gás, carvão, recursos florestais, mariscos e, claro, marfim, muito procurados na China.
China e África consideram, segundo a diplomacia chinesa, que está na altura de decidirem, eles próprios, como elevar a cooperação para novos patamares de crescimento e desenvolvimento, elevando a sua capacidade industrial, modernização agrícola e produtiva.
Foi nesse contexto que o Presidente chinês encorajou os empresários do seu país para investirem mais em África, de modo a ajudarem os africanos a melhorarem as suas infraestruturas e as condições de vida das populações através da geração de mais oportunidades de emprego e renda.
Além de participar na Cimeira, o Presidente da República, Filipe Nyusi, tomou parte em duas Mesas Redondas, uma presidida pelo seu homólogo chinês, Xi Jinping, outra pelo estadista sul-africano, o anfitrião do evento Jacob Zuma, e manteve encontros com outros líderes africanos, e representantes de duas companhias chinesas ligadas às comunicações.