Desporto

Lesão ia precipitar o fim da minha carreira

Albino Alberto Cossa, ou simplesmente Binó, 26 anos de idade, guarda-redes do Clube dos Desportos da Costa do Sol, formado na Escola do Ferroviário das Mahotas, de 2000 a 2004, revela que 

graças à direcção da Liga Muçulmana, a lesão contraída em 2010 não pós termo à sua carreira. Teve que ser enviado para a África do Sul por três vezes. Da primeira vez foi operado a um dos pés. Na entrevista que se segue revela que em nenhum momento sonhara jogar futebol entre os postes, mas sim queria ser um meio-campista. O seu falecido pai, Alberto Cossa, que representou o Costa do Sol e Flamingo (hoje de novo Mahafil) incentivou-o a jogar futebol. 

 

 

Vamos começar assim: quem é Binó?

Um jovem que nasceu em 1987, na Cidade de Maputo. Foi aqui onde comecei a jogar futebol, juntamente com amigos do bairro e da escola, em torneios infantis.

 

Como chega ao futebol federado?

Já calejados em jogar no bairro e na escola, um colega propôs a ideia de procurarmos formas de entrar num clube para sermos profissionais da bola. O nosso grupo era constituído por seis elementos, eu, Augusto, Geraldo, Ortega, Duda e Zé. Em 2000, ganhámos coragem e fomos ao Ferroviário das Mahotas oferecer o nosso talento e os nossos serviços. Fomos bem recebidos e começamos a aprender aquilo que não sabíamos .

 

Valeu a pena?

Valeu sim! Consegui concretizar aquele que foi o sonho do meu pai. Naquele nosso grupo apenas dois, eu e Duda, conseguimos continuar a jogar. Os outros não se deram bem e abandonaram o futebol.

 

Não fosse seu pai, não seria o jogador que hoje é?

Eu vinha jogando no bairro como acontece com todas as crianças, mas o meu pai sempre dizia que gostaria de me ver a evoluir profissionalmente. Então, acho que aquelas palavras deram me mais força. O meu pai foi durante a sua carreira ponta de lança. Eu não cheguei a vê-lo jogar, excepto quando já jogava para abater a barriga. Mas, infelizmente, acabou falecendo e não me viu a evoluir como era o seu desejo. Acredito que consegui satisfazer o seu desejo. Ele não chegou a “comer” algo do meu suor futebolístico. Mas está a minha mãe comigo e tudo faço para a atender no que precisa.

 

Jogou sempre à baliza?

Nas camadas juvenis, eu era meio-campista. Uma vez experimentei ficar na baliza e o “mister” Vicente verificou que era onde fazia melhor prestação. Nunca mais sai da baliza. Não estou arrependido.

 

Quando é que chega ao escalão de seniores?

Ainda júnior, em 2004, fazia jogos com a equipa sénior, num vai e vem que só me fez crescer rapidamente…

 

Ferroviário das Mahotas

sempre no coração

 

 

Como ingressou na Liga Muçulmana?

Em 2006, membros da direcção da Liga Muçulmana foram negociar com o Ferroviário das Mahotas a minha transferência. Não foi aceite porque os “locomotivas” alegavam que eu ainda estava nos escalões de formação.

 

E depois?…

Não foi fácil sair do Ferroviário das Mahotas, mas eu achava que tinha valor para ingressar num clube com melhores condições, onde pudesse voar mais e singrar. Não podia fugir, porque podia ser considerado ingrato pelos dirigentes e treinadores que muito fizeram para o meu crescimento futebolístico. Em2007, a direcção da Liga Muçulmana veio novamente negociar com o Ferroviário das Mahotas, trazendo consigo equipamento desportivo que o clube precisava. Passei a ser jogador da Liga Muçulmana, emprestado ao Chingale de Tete em 2008. No ano seguinte, voltei para Maputo, tendo passado a jogar a titular pelos “muçulmanos”. Devo dizer que no Chingale de Tete aprendi muito e cresci bastante profissionalmente.

 

De que se lembra dessa estada em Tete?

Foi enquanto guarda-redes do Chingale de Tete que o seleccionador Mart Noij apreciou as minhas qualidades e me chamou para a selecção nacional, que representei até 2010, ano que contrai uma grave lesão.

 

Lesão comprometeria

minha carreira

 

Como contraiu essa lesão?

Estava nos treinos. O “mister” Artur Semedo pôs-me a jogar no lugar de defesa central. Chutei a bola com o pé esquerdo. Desequilibrei com o pé direito. Senti dor e cai de imediato. Fui levado para o Hospital Central de Maputo (HCM), onde se constatou que tinha uma fractura e devia ser operado. 

Fiquei quatro dias no Hospital Central de Maputo. O presidente do clube, Rafik Sidat, decidiu que fosse operado na África do Sul. Fui levado para lá numa quarta-feira, observado na quinta-feira, operado na sexta-feira e no sábado regressei ao país. Foi tudo rápido. Aproveito aqui agradecer publicamente ao presidente Rafik Sidat.

 

Imaginava recuperar completamente?

Quando o médico disse que devia ser operado, eu disse para mim: acabou a minha carreira. Imaginava o que acontecera a muitos colegas, em clubes onde as direcções pouco se importam com a saúde dos seus jogadores. Enquanto inactivo sempre recebi salário e tive o acompanhamento da equipa médica do clube. Os médicos da Liga foram muito importantes para a minha recuperação, porque para além dos cuidados que recebia na África do Sul, tinha cá apoio psicológico, visto que estava a atravessar um momento muito delicado. Tinha também outros cuidados para poder conseguir fazer as movimentações físicas. 

 

Acha que a equipa técnica e a direcção da Liga tiveram paciência para consigo?

Tiveram muita paciência, pois quando fiquei lesionado já não estava a contribuir em nada para o clube. Mas durante esse tempo, eles estiveram sempre perto de mim. Quando melhorei, voltaram a apostar  em mim.

 

Depois da lesão, alguma vez pensou em sair da Liga!

Durante o tratamento, enquanto lesionado, pouco imaginava sair tão já da Liga, nem por empréstimo, nem em definitivo, mas no futebol não temos a certeza do amanhã. No período de recuperação, fui para África do Sul por três vezes. Internamente, tinha um fisioterapeuta pronto para me cuidar. Nunca me senti abandonado pela direcção da Liga. Agora me sinto apto para qualquer missão de futebol, quer nas equipas que militam no Moçambola, quer para Selecção Nacional.

 

 Em que clube gostaria de terminar a sua carreira?

Gostaria que terminasse a minha carreira em qualquer clube, onde me sentir bem, mas ficaria muito feliz se fosse no clube onde iniciei a prática do futebol, o Ferroviário das Mahotas.

 

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