Editorial

Urge repensar o nosso futebol

Depois dum adiamento de todo injustificado e sintomático dalguma (des)organização do nosso futebol, o Campeonato Nacional de Futebol, o “Moçambola”, vai iniciar finalmente no próximo sábado, entrando em campo dezasseis clubes de todas províncias do país, à excepção de Cabo Delgado.

É, pois, uma festa nacional que se vai testemunhar a partir do próximo sábado, aglutinando sentimentos e expectativas variadas de gente que encontra no futebol fonte de renda e também de satisfação de almas não poucas vezes dilaceradas pelas angústias que acompanham o quotidiano do ser humano.

Não fosse o despropositado boicote de alguns clubes que faltaram à Assembleia-Geral da Liga Moçambicana de Futebol – indispensável para o arranque do campeonato – por estas alturas a bola já estaria a rolar e, com isso, Moçambique aproximava o seu calendário futebolístico a doutras nações africanas.

Mas tal ainda não sucede porque a maioria dos nossos clubes, que se pretendem profissionais, ainda são geridos sem a devida responsabilidade, sem critérios objectivos e seriedade para um desporto que se pretende vencedor no concerto das nações.

O adiamento do início do Moçambola foi um duro golpe também para quem desembolsou parte do seu orçamento anual para financiar uma prova que os próprios donos – os clubes, afinal não encaram com seriedade.

Temos sublinhado a necessidade dum maior investimento na construção e apetrechamento de infra-estruturas e na formação de jogadores para elevar a qualidade do futebol moçambicano. Continuamos a defender que sem campos jamais teremos voz no concerto das nações africanas e mundiais.

Não podemos querer conquistar resultados para os quais não nos demos tempo ou não nos esforçamos para obter. Um olhar rápido às infra-estruturas disponíveis para o “Moçambola” 2017 conduz-nos a uma triste realidade:

Dos dezasseis clubes envolvidos, tem campo próprio disponível e em condições para o campeonato deste ano o Ferroviário de Maputo, Costa do Sol, Clube do Chibuto, Liga Desportiva de Maputo, União Desportiva do Songo, Ferroviário da Beira, Textáfrica de Chimoio, Desportivo de Nacala e Ferroviário de Nampula.

Não tem campo próprio e em condições para jogos o Maxaquene, Associação Desportiva de Macuácua, ENH de Vilankulo, 1° de Maio de Quelimane, Chingale de Tete, Universidade Pedagógica de Lichinga e Ferroviário de Nacala.

Que futebol queremos construir nestas condições? Por que os clubes continuam a correr para disputar o “Moçambola” sem terem as devidas bases para sustentar as suas equipas seniores? Valerá a pena manter o actual modelo de disputa do “Moçambola”?

Entendemos que as respostas a estas questões não são fáceis de pronunciar para algumas pessoas com poder de decisão, mas há que ter coragem de avançarmos para um cenário mais próximo da realidade dos nossos clubes.

É verdade que existem clubes que demonstram elevados níveis de organização. Mas ainda são poucos. É de estimular a inauguração experimental, semana passada, da iluminação artificial do campo do Ferroviário da Beira. Idem às obras em curso de construção do campo da Associação Desportiva de Macuácua. São exemplos a seguir. 

A formação de jogadores no país deve sair do papel para a prática. A Federação Moçambicana de Futebol deu avanços em termos de regulamentos, faltando a sua implementação. Os regulamentos impõem que só clubes com escalões de formação devem disputar o “Moçambola”, mas, curiosamente, continuamos a fechar os olhos e deixar a banda passar.

As iniciativas avulsas de formação de jogadores merecem um melhor enquadramento e apoio da federação de futebol, num processo que deve envolver o sector da educação, os municípios e os Governos locais que detém as infra-estruturas desportivas.

Devemos plantar hoje para colhermos amanhã. Sem campos apropriados, organização, seriedade e formação de jogadores não vamos ganhar a ninguém! 

 

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