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Ficamos 12 anos a fingir que estávamos em paz!

Por admin

O presidente do Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), disse esta semana, numa entrevista a este semanário, que o país fingiu estar em paz durante o período que vai de 1992 a 2004, alegadamente porque as relações que considerou amistosas entre o então presidente Joaquim Chissano e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, fizeram esquecer o fundamental, a conclusão do processo de paz.

Cornélio Quivela, esteve em Maputo, num seminário, e aproveitamos a ocasião para percebermos os contornos que o moveram recentemente a escrever cartas, apelando à paz, a três entidades, nomeadamente, o presidente da Republica, Filipe Nyusi, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama e o ex-presidente, Joaquim Chissano.

Aquele político da oposição diz estar atento ao que está acontecer no país, razão porque está activo, mesmo em relação à agenda política actual e sem muito alarido, enviou as referidas cartas apelando à paz e propondo um encontro entre os três.

Perguntamo-lo, designadamente, do que versavam as cartas e a razão de ter incluído Joaquim Chissano na lista das entidades que deveriam ser atingidas pelo seu objetivo.

Tratou-se de uma proposta de encontro com o presidente Dhlakama, porque nós entendíamos que o diálogo da “Joaquim Chissano” não avançava, simplesmente porque aquele fórum não tinha o domínio suficiente sobre as matérias em discussão, que deveriam ser revisitadas numa “sentada” entre o ex-presidente Chissano e o líder da Renamo” disse.

Para Quivela, estas duas individualidades têm o domínio histórico efectivo, “sendo que Chissano não precisa de documentos, ele mesmo é um documento, idem para Dhlakama” precisamente porque terá sido nos mandatos daquele presidente que se deixaram passar as questões cujas soluções se impunham, permitindo que fossem alastradas para o nosso tempo.

“Eu sou das pessoas que estranho deveras, sabendo que eu venho das hostes seniores da Renamo, sei das relações, digamos amistosas entre o presidente Chissano e Dhlakama, uma amizade que entretanto nunca foi capitalizada para a resolução de problemas mais candentes do nosso país, deixando-nos aquilo que parecia paz, quando afinal se tratou de um presente envenenado. Agora quem tem que gerir é o presidente Nyusi, Guebuza tentou os caminhos, sem sucesso”.

Quivela considera ter-se perdido muito tempo durante a presidência de Joaquim Chissano e volta para o recente reencontro na Beira, a convite da Universidade Católica, em que pretensamente ficou patente, mais uma vez, a relação amistosa entre os dois, segundo terá declarado a imprensa, o líder da Renamo.

Por isso eu digo que no mandato do presidente Chissano houve um desperdício de tempo, um fingimento e até certo ponto alguma desonestidade” declarou.

Terá sido por isso que dirigiu as cartas a apenas três pessoas, em que uma é apenas a gestora de assuntos passados e os dois (Chissano e Dhlakama) como a chave do problema, e “falo assim dado o facto, sobretudo, de conhecer todas essas situações pela posição privilegiada em que me encontrava na Renamo. É assim que pensei propor o tal encontro, mas que infelizmente não obtive resposta”.

O PAHUMO não está

de férias nem distraído

Cornélio Quivela diz que a sua agremiação política está em pé, contrariamente às que hipoteticamente estão à espera de mais um movimento em torno de eleições.

“Nós não estamos de férias, somos o partido que depois da Frelimo, Renamo e MDM, tem pelo menos um assento, neste caso no município de Nampula e não se deve menosprezar isso”, disse.

A acção do PAHUMO, segundo o entrevistado, não pode aparecer somente em períodos eleitorais, porque “não haja dúvidas, que o objectivo é conquistar o poder. Não nos estamos a recrearmos em política. Sabemos o queremos e não trabalhamos por indução ou imitação. Queremos conquistar o nosso espaço.

Para Quivela, isso estimula ao seu partido, tendo em conta que é relativamente pequeno e com uma idade de pouco menos de cinco anos, havendo porém, muitos que têm a idade da democracia em Moçambique, mas ainda não lograram uma representatividade em órgãos que tais.

A saúde do PAHUMO, segundo o seu presidente, é de um partido a funcionar, no meio das dificuldades que se conhecem. Há pouco tempo os quadros estiveram reunidos em Pemba. Tratou-se de um sinal que escasseia em muitos aqueles partidos que pululam pelo país em tempo de eleições.

“Foi uma reunião da província de Cabo Delgado, com alguns convidados de Nampula. Há que dizer que a sede do nosso partido é nesta última província, mas o seu presidente reside em Pemba, Cabo Delgado”, afirmou.

O partido tem estado a tentar penetrar, com algumas dificuldades, embora, segundo reconhece Quivela, nalguns distritos de algumas províncias através de quadros que disse estarem em movimento “e francamente não estamos satisfeitos e estamos cientes dessa deficiência, mas há brigadas a movimentarem-se”.

Inclusão de Nyusi decepciou-me

Cornélio Quivela diz que quando o Presidente da República, Filipe Nyusi, tomou posse, falou da inclusão, que na sua opinião passava por contar na máquina governativa com outras sensibilidades políticas que não fossem somente do partido do Chefe do Estado.

Questionado se isso não diluiria o sentido da tal luta pelo poder de que se referia, através dos partidos participantes nas eleições, Quivela disse que esperava uma governação que considerou moderna, em que depois de ganhas eleições, o partido ganhador forma o governo, mas procura cidadãos de vários quadrantes para estarem à frente dos sectores, desde que sejam competentes.

Pelo contrário veio imitar os seus antecessores, colocando os quadros da sua filiação partidária, gente de confiança política. Eu pensava que como jovem traria alguma novidade na nomeação de algumas pessoas que não fossem da Frelimo”, afirmou Quivela.

Na opinião do nosso interlocutor, há questões que não passam necessariamente pela mudança da Constituição, dando como exemplos a nomeação dos PCAs, que para si, não implica a mudança de algum dispositivo legal.

“A nomeação de um vice-ministro ou um administrador não executivo de qualquer empresa pública, por exemplo, seria bom começo. Não precisa de chamar a isso um governo de unidade ou o que quer que seja, mas sim, um sinal de boa vontade, de uma inclusão efectiva”, defendeu.

Todavia, conforme diz o presidente do PAHUMO, há que dar o tempo ao tempo, se é verdade que ainda estamos no início do mandato, pois acredita numa mudança que traga aquilo que se aproxime ao seu discurso de tomada de posse de forma prática.

“A exclusão cria descontentes, o Presidente Nyusi deve evitar isso. Ele não precisa de mais pessoas insatisfeitas. Quanto mais alarga o espectro de adversários mais condições cria, de ser politicamente combatido, porque os seus contrários se tornam mais fortes”.

Perguntamos-lhe se como adversário político não gostaria de ser forte aproveitando esses alegados deslizes de que se refere ao que respondeu: “gostaria de ser forte, mas não no sentido de reacção a uma possível exclusão evidente”.

Texto de Pedro Nacuo

Fotos de Inácio Pereira

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