O engº Filipe Jacinto Nyusi tomou posse na última quinta-feira, dia 15 de Janeiro, como quarto Chefe de Estado moçambicano, numa cerimónia testemunhada por altos dignitários nacionais e estrangeiros e por centenas de populares que acorreram à Praça da Independência, em Maputo, para testemunharem a investidura do novo Presidente.
Nyusi, que foi eleito Presidente no pleito de 15 de Outubro do ano passado, sucede a Armando Emílio Guebuza, que governou o país nos últimos dez anos, em dois mandatos consecutivos.
No seu discurso de investidura, o novo Presidente afirmou que na sua governação “primarei pela abertura ao diálogo construtivo com todas as forças políticas e organizações cívicas para promover a concórdia” (…) e que “os desafios que temos pela frente vão certamente implicar novas atitudes colectivas e individuais. Esses desafios implicam a coragem de operar mudanças. As mudanças que forem necessárias devem ser feitas democraticamente e dentro dos marcos institucionais e com a máxima responsabilidade”.
O Presidente Filipe Nyusi defendeu também que a construção de uma sociedade de inclusão exige não apenas discursos e declarações de intenções. “Estarei aberto a acolher propostas e ideias de outros partidos visando a promoção da tranquilidade e desenvolvimento de Moçambique. As boas ideias não têm cor partidária. As boas ideias têm uma única medida, que é o amor pela nossa pátria e pelo nosso destino comum”.
O novo Chefe do Estado anunciou que o governo que vai formar vai estar norteado “por valores de eficácia, competência e humildade (…). O governo que irei criar e dirigir será um governo prático e pragmático. Um governo com uma estrutura o mais simples possível, funcional e focado na resolução de problemas concretos do dia-a-dia do cidadão, na base da justiça e equidade social. Será um governo orientado por objectivos de redução de custos e de combate ao despesismo”, disse o Presidente.
Nyusi acrescentou que pretende criar um governo com “a dimensão adequada para as necessidades de contenção e de eficácia. Esse governo terá que ser firme na defesa do interesse público. Esse governo terá que ser intolerante para com a corrupção”.
Sobre a agricultura, reiterou o seu discurso da campanha eleitoral e pretende dar atenção privilegiada ao sector, promovendo o aumento de investimentos públicos e privados, com principal destaque para o sector familiar, com incentivos aos camponeses que permitam elevar a sua produção e produtividade.
A aposta vai ser também na industrialização da agricultura, para tornar o país uma potência agrícola na região Austral da África.
“Eu quero um povo com mais educação e saúde, que participa activamente na tomada de decisões e na escolha de políticas públicas. Quero que todos os moçambicanos sejam capazes de se fazer ouvir independentemente de pertencer ou não a um partido. Essa é a ideia profunda de inclusão que começa na cidadania plena de cada moçambicano e no respeito pela pluralidade e diversidade de opiniões”, disse o novo Presidente.
Para Nyusi “não existem os que são mais e os que são menos moçambicanos. A bandeira multicolor que cobre todos os moçambicanos representa exactamente essa unidade na diversidade”, por isso, “sou o Presidente de todos vós” e “dentro do meu coração cabem todos os moçambicanos”.
Destaques no discurso do novo Presidente
· “Como disse na minha campanha: o povo é o meu patrão. O meu compromisso é de servir o povo moçambicano como meu único e exclusivo patrão”
· “Represento uma nova geração, uma geração que recebe um legado repleto de enormes sucessos e de exaltantes desafios”
· “Como Chefe de Estado, primarei pela abertura ao diálogo construtivo com todas as forças políticas e organizações cívicas para promover a concórdia”
· “Os desafios que temos pela frente vão certamente implicar novas atitudes colectivas e individuais”
· “O governo que irei criar e dirigir será um governo prático e pragmático”
· “Exigiremos maior eficiência e melhor qualidade das instituições e dos agentes públicos”
· “Asseguraremos que as instituições estatais e públicas sejam o espelho da integridade e transparência na gestão da coisa pública”
· “Ninguém está acima da Lei e todos são iguais perante ela”
Discurso inclusivo e inovador
Algumas personalidades nacionais ouvidas pelo nosso jornal na Praça da Independência em Maputo consideram de incisivo, inovador e aglutinador o primeiro discurso de Filipe Jacinto Nyusi, momentos depois de ser investido no cargo de Presidente da República. Os nossos entrevistados sublinharam ainda o facto de o novo Chefe do Estado ter convidado a todos os cidadãos a abraçarem o seu projecto de governação baseado no novo ciclo de coesão nacional e socialização da distribuição da riqueza.
Discurso de coração e bem estruturado
– Joaquim Chissano, antigo presidente da República
O antigo presidente da República, Joaquim Chissano diz que entre vários aspectos, Filipe Nyusi frisou que vai cumprir com as promessas eleitorais e que para tal todos os cidadãos são convidados a se juntar a ele rumo ao desenvolvimento do país.
“Foi um discurso de coração e bem estruturado. Pela primeira vez explicou o sentido de inclusão, quer dizer, que ninguém deve se sentir excluído ou auto -excluir-se. Que a participação de todos na construção de Moçambique é necessário para que continuemos a trilhar os resultados que fazem de nós um exemplo dos países em desenvolvimento”,disse Joaquim Chissano.
A Frelimo não deve privilegiar a corrupção
– Pascoal Mocumbi, antigo Primeiro-Ministro
Pascoal Mocumbi, antigo primeiro-Ministro, entende que na sua primeira intervenção, o Presidente Nyusi deixou claro que o combate à corrupção é uma luta que deve ser travada por todos e com mais dinamismo.
“O Presidente da República deixou claro que o combate à corrupção é uma luta que não merece tréguas e que a Frelimo, enquanto não ganhar esta batalha, não estará a cumprir integralmente com os seus propósitos. Portanto, chamou atenção de que em nenhum momento deve se dar primazia a este mal que dilacera e retarda o desenvolvimento socio-económico do país”,disse Mucumbi
Retive o conceito de inclusão
– Eneias Comiche, deputado
Eneias Comiche, deputado da bancada parlamentar da Frelimo, classificou de inclusivo o primeiro discurso de Filipe Nyusi como Presidente da República. “O que retive é a inclusão, isto é, que todos os que tiverem boas ideias independentemente da sua cor política devem contribuir para o desenvolvimento do país”.
Segundo defendeu, Filipe Nyusi mereceu a confiança do eleitorado por ter apresentado um manifesto que escalpeliza os passos que devem ser dados para o combate à pobreza, corrupção entre outros males que enfermam a sociedade.
“Ele foi eleito com reconhecido mérito, pois, durante a campanha eleitoral demonstrou os planos para a sua governação tendo frisado que apesar da descoberta dos recursos naturais como por exemplo, gás, carvão, entre outros não podemos descurar o sector agrícola”,disse Comiche.
Marca nova era de liderança
– Ana Rita Sithole, deputada
Ana Rita Sithole, deputada da Assembleia da República pela Frelimo, diz que o discurso de Filipe Nyusi marca uma nova era de liderança rumo ao contínuo desenvolvimento do país e consolidação da unidade nacional, paz e democracia multipartidária.
Para ela, o facto de Nyusi ter dito na sua intervenção que todos cabem no seu coração é bastante motivador e encorajador. “Ele foi feliz quando disse que tem o povo como seu patrão, o que significa que vai trabalhar em sua sintonia rumo ao bem-estar de todos”.
“Ele deixou claro que herda um país que precisa de continuar a desenvolver infra-estruturas a vários níveis, o que requer a intervenção de todas as pessoas, independentemente da sua cor partidária, raça, etnia”,disse Ana Rita Sithole, sublinhando que Nyusi deixou claro que irá pautar pela integridade e transparência.
Aproveitar os manifestos
eleitorais dos outros candidatos
– Daviz Simango, presidente do MDM
“Ele foi homologado pelo Conselho Constitucional para dirigir o país. O que nós esperamos é que aproveite o máximo os manifestos eleitorais dos candidatos e partidos políticos que concorreram nas eleições de 15 de Outubro”,assim reagiu Daviz Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique quando instado a pronuncia-se sobre que aspectos reteve no discurso de tomada de posse do Presidente Nyusi.
Para Daviz Simango, o momento que se segue não é para discursos, mas de muito trabalho para eliminar todos os males de que enferma a sociedade, entre eles, a partidarização do Estado, ingerência nos órgãos de soberania, entre outros males.
Reportagem
Alfredo Dacala, Bento Venâncio, Jaime Cumbana, Domingos Nhaúle (textos)
Alfredo Mueche, Inácio Pereira e Carlos Uqueio (fotografia).