A exiguidade dos Fundos do Orçamento Geral do Estado alocados ao Centro de Pesquisa da História de Luta de Libertação Nacional (CPHLLN) limita a sua actuação como uma instituição de investigação científica para a recolha de factos históricos, segundo defenderam os combatentes que participaram semana finda em Maputo, no seminário científico subordinado ao tema: “Desafios de Pesquisa da História da Luta de Libertação Nacional na Actualidade”.
Segundo os libertadores da pátria existem vários factos sobre a história da luta de libertação nacional que ainda não são do domínio público, sobretudo das novas gerações, defendendo por isso a institucionalização de um fundo específico para a sua investigação.
Para eles, é necessário que o Governo aloque uma verba para permitir o lançamento de vários projectos de pesquisa, por um lado, e por outro, a contratação de especialistas para a investigação dos factos ocorridos.
Uma das conclusões do seminário é que os recursos para a investigação, tratamento e divulgação dos factos são escassos, então, há uma necessidade de o Estado criar um fundo para permitir que a pesquisa seja feita de forma precisa. A outra questão é que há monumentos como os de Eduardo Mondlane e Samora Machel que não estão a ser devidamente conservados e com a sua institucionalização seriam bem tratados, disse Carlos Siliya, director do CPHLLN, sublinhando que esta instituição tem seis obras publicadas sobre os factos ocorridos durante a epopeia da luta armada.
Pese embora os constrangimentos acima referidos, o centro de pesquisa está firme para avançar com a sua nobre missão de pesquisar e divulgar a história do povo moçambicano.
Participaram no evento personalidades e representantes de algumas instituições nacionais e estrangeiras, nomeadamente, as do ensino superior do país, instituições ligadas À pesquisa e divulgação da história, membros da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), investigadores singulares, alguns provenientes da Rússia e da República Federal Alemã e representantes das instituições de investigação da história da África do Sul, Zimbabwe, Tanzânia, Angola e Portugal.
Paz é indispensável para as investigações
– Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário
O Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, defendeu que a paz é condição indispensável para o aperfeiçoamento e desenvolvimento das técnicas e metodologias de pesquisa, preservação e divulgação do património histórico e que por esta razão cada moçambicano deve cultivar os valores da concórdia e diálogo permanente como as únicas armas para encontrar soluções pacíficas para ultrapassar as diferenças.
“A paz que todos clamamos no nosso país é também condição para os propósitos do presente seminário, porque sem ela não será possível levarmos avante a nossa missão de pesquisa e preservação do património da rica história dos nossos povos, em especial a preciosa história recente, sobre a epopeia da Luta de Libertação Nacional”,disse Carlos do Rosário para quem a guerra é um monstro devastador de vidas humanas, destruidor das conquistas resultantes dos sacrifícios consentidos por aqueles que com garra e bravura expulsaram o colonialismo.
Forjar a nação faz-se por actos concretos
– Graça Machel, combatente
A veterana da luta de libertação nacional, Graça Machel, intervindo no tema: “O legado da História da Luta de Libertação na Construção da Nação” lançou um desafio sobre a necessidade de escrever a história olhando para o contexto dos acontecimentos, “pois há uma tendência de interpretar a história sem olhar para o contexto dos factos no espaço e no tempo”.
Apelou ainda para que durante as pesquisas se privilegiem os combatentes anónimos espalhados pelo país e para que se faça o cruzamento das fontes para não deturpar e muito menos distorcer os factos históricos ocorridos.
“De alguns anos para cá começamos a viver um momento em que a história de libertação nacional é questionada, até há pessoas que querem reescrever sem a ter vivido, mas na base daquilo que lêem e eles acreditam. Não há problema de eles acreditarem de maneira diferente. O importante é que é preciso recolher, verificar os factos e registar tal como ocorreram. Forjar a nação faz-se por actos concretos,disse Graça Machel, sublinhando que o que não pode ser confundido é que o dia da independência nacional é 25 de Junho de 1975.
E acrescentou: “A pessoa pode pensar de maneira diferente, mas chegar a ponto de não celebrar o Dia da Independência, ai há outras motivações. Temos que educar a juventude independentemente das cores políticas para assumir este facto. Isto é, podem contestar tudo, menos a independência que não é acto da Frelimo, mas do Estado moçambicano”.
Aquela palestrante abordou ainda conceitos como “estudar, produzir e combater para nos libertarmos”, “fazer da escola uma base para o povo tomar o poder”, onde se estava a forjar uma nação.
Enalteceu a questão da emancipação da mulher moçambicana, a luta pela exploração do homem pelo homem como grande legado da história da luta de libertação nacional que se transformou numa filosofia de vida que se deve complementar com outras filosofias.
Privilegiar as fontes orais ainda vivas
– Eusébio Lambo, Ministro dos Combatentes
Por sua vez, o Ministro dos Combatentes, Eusébio Lambo desafiou o CPHLLN a privilegiar os combatentes ainda em vida na recolha e sistematização das fontes orais como ferramenta importantíssima na pesquisa da história mais recente do nosso país.
“Defendemos aperfeiçoamento dos currículos escolares para que contemplem capítulos sobre a História da Luta de Libertação Nacional nas classes básicas de ensino; preservação, valorização e divulgação da história como património inalienável do Povo Moçambicano; Valorização da data da Independência Nacional como a data mais nobre na história de todo o Povo moçambicano”,observou Eusébio Lambo.
Fomos vítimas de uma guerra injusta
– José Arruda, da Associação dos Deficientes de guerra de Portugal
O combatente, José Arruda, da Associação dos Deficientes das Forças Armadas de Portugal disse ser importante haver comunicação permanente entre os combatentes moçambicanos e portugueses em todos os aspectos, com enfoque na pesquisa e divulgação dos factos.
Para ele é um facto que a guerra da libertação desencadeada contra os povos africanos foi injusta e não deveria ter acontecido se o governo português liderado por Marcelo Caetano tivesse acatado dialogar com os dirigentes dos movimentos libertadores dos povos africanos.
“A guerra imposta aos povos africanos pelo colonialismo português foi injusta e nós somos uma parte das vítimas de uma guerra que não deveria ter acontecido se o regime de Marcelo Caetano tivesse entregue voluntariamente as independências aos povos africanos”,disse José Arruda para quem a luta armada podia ter sido evitada não fosse a arrogância do então governante português.