Satisfeita curiosidade de trinta e oito anos
Foram necessários 38 anos para matar a curiosidade sobre o “ataque” por aviões militares, de Moçambique, ao país de Ian Smith! Foi num pequeno grupo de amigos da 4ª classe, que ouvimos a notícia pela Rádio Quizumba, também conhecida como “África Livre”.
Era uma estação crepuscular, que em Moçambique era ouvida por indivíduos maiores de idade. Tinha o seu epicentro algures no território rodesiano com o fim de propagar as acções terroristas do Movimento Nacional de Resistência (hoje Renamo).
A maioria dos moçambicanos soube da existência da então MNR, a partir daquela rádio que abria as suas emissões com uma música de Lindomar Castilho “eu canto o que o povo quer, eu canto do meu coração…”, e assim chamava a audiência moçambicana.
Numa dessas tardinhas falava do ataque, por aviões militares, de Moçambique, ao país de Ian Smith – o tabaqueiro, apelido que na altura era obrigatório apor ao nome do então Primeiro-ministro da Rodésia do Sul.
Ficou no coração (memória) até que um dia quando fosse “grande” percebesse, porquê a ideia que estava implantada era que os rodesianos é que agrediam Moçambique, razão que nos dava força de cantar na escola que “Smith é maluco/ Tabaqueiro/Ele não melhora/ Violou Mapai e Chicualacuala/Cantando o Hino Nacional…”.
Quando fiquei “grande” voltei a ouvir a história, mas a partir de Tete, para onde fora colocado como professor, depois duma formação no Sul, onde tive a imagem real do que era Smith, quando em visita de estudo, depois de um trabalho voluntário de ceifa de arroz no Complexo Agro-Industrial do Limpopo (CAIL), fui dado a ver a ponte do Guijá, destruída num ataque aéreo da soldadesca do Primeiro-ministro da então Rodésia – hoje Zimbabwe.
A confusão ressuscitou na memória de um jovem, ainda não era tão “grande”, que se poderia meter em curiosidades daquele jaez. Mas ficara a ideia de que Ian Smith é que invadia e atacava o nosso país, tanto é que, na cidade de Tete, sempre que no fim-de-semana fosse ao jardim Pemba ou ao restaurante Almadia, havia sempre uma novidade.
Surgia recorrentemente, um voluntário que contava a história de Smith ter tentado destruir a ponte sobre o Zambeze, mas que falhou, porque a bomba foi cair muito depois daquela infraestrutura.
Dizia-se ainda que numa das vezes um dos aviões atacantes corria sério risco de se destruir, pois ia mesmo a embater-se aos cabos funiculares e pendurais que sustentam a ponte. Acabou, espertinho, decidindo cedo passar por baixo da ponte.
Já na segunda e meia-idade, a caminho da terceira, soube que havia quem poderia falar com propriedade do tal “ataque” da força aérea de Moçambique à Rodésia, por ter participado directamente nas acções.
Usei tudo o que era possível (incluindo favores alojados nas diferentes regiões do país, em forma de conhecimento) para trazer o Major Zeferino Amadeu Paiva, nesta edição.
Uff! Terá valido o esforço!
Pedro Nacuo
nacuo49nacuo@gmail.com