É professora de uma carreira interessante pelo seu gradualismo, a recém-eleita secretária-geral da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), metida em política desde a adolescência através da OJM.
Diz que apesar de maior de idade, vai continuar a chamar-se Mariazinha, para si um nome acolhedor, que chama a todos à sua volta. Estas e outras revelações domingo encontrouas numa entrevista que a chefe nos concedeu, dois dias antes de ir a Manica fazer as malas para a capital, onde viverá durante o seu mandato.
É isso, vem viver para Maputo, já como Secretária geral da OMM, afirmámo-lo em jeito de pergunta ao que nos respondeu:
“ Maputo vai ser simplesmente o meu epicentro, a partir donde as “ondas sísmicas” da acção da nossa organização se vão propagar pelo país inteiro. Diríamos, as réplicas terão que se sentir muito rapidamente para todo o país. A acção da OMM está lá na base” disse, de pronto!
Está a dizer que o trabalho com a base será a prioridade do secretariado que vai dirigir nos próximos anos…
É lá onde está a nossa Organização. As nossas associadas estão nas zonas rurais do nosso país, não teria razão de ser secretária
delas, enquanto não sentissem a minha presença e seria muito difícil vencer os desafios que temos, numa situação em que a Organização estivesse divorciada dos seus associados.
Que desafios?
Primeiro a coesão, mais coesão e mais coesão entre nós. Não estou a dizer que estejamos desunidos, mas a união e coesão devem
ser o nosso estandarte, para a partir daí e juntos, enfrentarmos as tarefas prioritárias que definimos para os tempos actuais na nossa sociedade, nomeadamente, dizer as mulheres para acordarem. Aquelas que já acordaram, para levantarem a cabeça e irmos
para frente, a ver se ganhamos o tempo perdido, que a história e a tradição nos mergulharam durante séculos.
O que é que vão dizer, concrectamente, às bases?
Vamos falar da Educação da rapariga, do combate aos casamentos prematuros, à desnutrição crónica e má-nutrição em crianças
de determinadas regiões do nosso país, entre outros problemas que atrasam o nosso desenvolvimento, cuja solução passa inevitavelmente pela entrega total e incondicional da mulher. São nossas tarefas. Somos uma organização de cariz político, mas tratamos fundamentalmente da vida de toda a sociedade, aproveitando a nossa condição social, de mães e educadoras.
Vocês são Organização de Mulheres da Frelimo ou da Mulher Moçambicana?
A nossa organização é da mulher moçambicana, é a mais inclusiva que o senhor deve conhecer neste país. É verdade que somos um braço muito forte do partido Frelimo, por ele fomos criados, pela visão estratégica de futuro do saudoso presidente Samora Machel, intenção consubstanciada na necessidade da emancipação da própria mulher.
Uma visão que hoje agradecemos, porque nos tirou das trevas e hoje estamos como estamos e descobrimos que, afinal, estávamos
atrasados por conveniência e caprichos do lado daninho da história e da nossa tradição. Por isso há que ganhar o tempo!
Na vossa Organização podem receber membros de mulheres militantes da Renamo, por exemplo?
Porquê não, se veem ter connosco recebemo-las, porque sabemos que são moçambicanas, virão na maior Organização de mulheres do país, que não descrimina às outras, desde que se sujeitem aos nossos estatutos.
Alias, a Organização da Mulher Moçambicana é única, a OMM, as outras podem ser outra coisa, podem ser Ligas Femininas de algumas formações ou associações… tudo para reafirmar que temos portas abertas.
Primeira-secretária da Frelimo em Manica, como vem parar à OMM?
Sim, digamos, foi uma passagem fugaz por esse cargo a nível da província de Manica, se tivermos em conta que fui eleita a
16 de Maio do ano passado, portanto, não fiz um ano a dirigir o nosso partido a esse nível.
Concorreu porquê, se já tinha um outro cargo, quase de equivalente importância?
Antes do Congresso no qual fui eleita, há uma semana, houve um exercício democrático na base que foi muito interessante e importante do ponto de vista da política interna da nossa Organização.
Houve eleições e lá as camaradas propuseram-me para concorrer para o lugar de secretária-geral. Mais uma tarefa, aceitei e vim o Congresso, o resto é o que se viu!