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VENEREMOS À MULHER MOÇAMBICANA!

Por admin

“Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de finas jóias…mulher que teme ao Senhor, essa será louvada” Pv 31:10 e 30

Algumas vezes devemos parar e pensar na importância dalgumas datas, tendo em conta que ultimamente tem havido proliferação de comemorações de datas disto e mais aquilo, algumas das

 quais ninguém nos sabe explicar claramente a sua origem nem a sua real importância. Nesse caso, ao comemorarmos por comemorar, assumimos um comportamento de irracionais carneiros. Um rebanho de carneiros/ovelhas, basta o macho-chefe apontar para uma direcção e todos o seguirão, não importa as consequências. Lembro-me na década Sessenta, lá para as bandas de Namialo, na linha Nampula/Nacala/Nampula, um rebanho de ovelhas/carneiros ia atravessar a linha no momento em que passava uma automotora. Bastou um deles se atirar para todos o imitarem e, mais de cinquenta daqueles animais morreram. Na época foi notícia. Assim sendo em minha opinião, por muito bonito que nos possa soar uma certa data, se a sua comemoração não acrescenta nenhuma maior valia aos nossos costumes, melhor é ignorá-la. Por exemplo, o Dia das Mentiras. Diz-se que, os países de expressão inglesa, chamam a essa data “April Fools’ Dayou seja, “Dia dos Tolos”. Apesar de haver muito “cabeça no ar” no nosso Pais, não acho justo render-lhes homenagem. Eu não sei se a moldura das nossas penas não contempla a mentira na classe dos Crimes. Porque, mesmo não sendo, nos casos de obstrução da justiçadevia ser, porque muitas vezes pode provocar grandes estragos, talvez até maiores do que certos crimes. Enfim,pessoalmente não acho nenhuma graça a comemoração de certas datas que não acrescentam nada para o Povo. Dei exemplo do dia Um de Abril como podia questionar a comemoração do Dia dos Namorados. Diz-se que esta data tem a sua origem naIdade Media (Séculos V a XV) no império Romano em que secomemoravao dia 14 de Fevereiro comoo primeiro diade acasalamento dos pássaros.Ora, convenhamos! Todos nós conhecemos algumas idiotices dos Romanos que até tinham deuses para cada coisa. Agora hoje, é dia Sete de Abril, esta data sim senhor é uma daquelas datas que mexe com todos nós porque somos todos “Filhos da Mãe”! Sete de Abril, Dia da Mulher Moçambicana, um dia muito especial, particularmente para a Mulher Moçambicana. Merece pois uma saudação especial a nossa mulher. Mulher mãe, mulher filha, mulher nora, mulher MULHER, que para chegar aonde chegou hoje, teve que mastigar muito “pão amassado pelo Diabo”. Vale pois a pena estendermo-nos ao cumprido e deixarmos que durante alguns segundos nos faça sentir aquilo porque ela passou durante séculos. Seja-me permitido trazer como exemplo desse sofrimento secular da mulher Moçambicana, a figura da viúva do meu falecido pai. Aquela mulher (como muitas haverá por aí), durante Cinquenta e Quatro anos Serviu literalmente ao seu marido como uma escrava serviria ao seu Amo, até que ele desistiu de viver já quase senil. Como disse uma vez nestas páginas, na altura em que ela permitiu que eu visse a Luz do Mundo através dela, era uma senhorita com apenas Vinte e dois anitos, mas já ia no seu segundo parto. De estatura mediana, mais baixa que alta, hoje, depois de ter sido incubadora de Catorze seres (fora os abortos), continua linda e meiga velhinha, não obstante os Noventa e um anos, ainda emana luz, serenidade e um poço de paciência. Cedo aprendeu e compreendeu que tinha nascido para obedecer. O seu parceiro, um senhor quase gigante, espadaúdo medindo 1,90 e 120 quilos de carne e osso, quatro anos mais velho, tratava-a como uma verdadeira escrava, pese o número de vezes que se serviu dela muitas vezes em condições inadequadas de saúde. Educada para ser subserviente para com o marido, deveria tratá-lo com toda a deferência de “Pai/Amo” no seu relacionamento (Táte em Txitxopi). Ele mineiro/Camponês de profissão e ela Camponesa e “escrava sexual” incondicional do seu homem, durante os seis meses que regressava a casa, ambos abandonavam o parco Catre logo no despontar da aurora, depois de passarem pela Capela onde juntamente com outros aldeões, realizavam as suas orações e recebiam a bênção do Pastor da Zona, e, munidos de enxadas, catanas, uma gamela (prato de madeira esculpida a partir do tronco duma mafureira), contendo digoko/xikento, (comida da noite anterior) e uma cabaça de água fresca que lhes serviria de pequeno-almoço e almoço lá para o final da manhã, depois duma jornada de seis horas de espinha dobrada, tudo isso quem transportava na cabeça era ela, apesar do tamanhão do homem apenas agarrando na mão o machado/catana e um arco e flechas. Findo um intervalo de cerca de meia hora a quarenta e cinco minutos debaixo duma frondosa mafureira, ele iria embrenhar-se no mato à caça de coelhos, macacos e ou antílopes, nem sempre dava certo. Ela, depois de arrancar algumas hortaliças que podiam ser folhas de feijão nyenmba, mathapa, kakana ou outras verduras dependendo da época, iria por sua vez embrenhar-se na mata para cortar lenha, e chegar em casa antes dele, pegar no Cântaro ir ao poço (cinco quilómetros), acarretar água, aproveitar tomar o seu banho lá, pilar amendoim, ou ralar coco, cozinhar, preparar a refeição da noite, aquecer água e esperar que o seu homem regresse do mato. Depois, de joelhos a uma razoável distância, num sinal de submissão, deveria convidá-lo ao banho devendo acompanhá-lo com a toalha e sabão, para ensaboá-lo e massajar as costas. Após o banho ela serviria o jantar enquanto ele se aquecia confortavelmente na fogueira, (ha banza), esperando ser servido. Em caso de atrasar, (na opinião dele), recebia uns valentes tabefes, mesmo na presença das crianças. Tudo isso fazia com uma criancinha nas costas amamentando, simultaneamente dando banho a demais criançada, lavar e passar a ferro roupa de todos, incluindo mantas das crianças que todas as noites “xixitavam” sobre elas. Por tudo isso e mais, peço a todos os homens de boa vontade que hoje, (pelo menos só hoje) coloquemos a mão na consciência e permitamos que a nossa mulher se “vingue” durante apenas Sessenta Segundos. Eu me submeto!

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