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SOBRE DESERTIFICAÇÃO

Por admin

Poucas as semanas em que a comunicação social não nos reporta notícias de mais uma floresta incendiada, pessoas mortas pelos fogos, habitações destruídas, toros

 exportados ilegalmente. Da Beira a Calomwé e Zobué quilómetro a quilómetro pela estrada encontramos milhares de sacos de carvão vegetal.

Provocam as queimadas os caçadores de ratos ou gazelas com o objectivo de caçarem os animais. Cortam-se as árvores para produzir carvão que se vende aos camionistas e para combustível nas casas.

Pergunto-me onde fica o simpático discurso ecológico, a protecção das florestas, um leader uma floresta? A quem condenaram os tribunais, a quem prenderam os polícias, a quem detiveram os dirigentes comunitários por provocarem as destruições da nossa flora?

 Há ou não deflorestação em Moçambique? Muitas vezes me interrogo porque não existem queimadas nos países limítrofes, o que acontece para que lá não se dizimem florestas para caçarem ratos, se abatam árvores para produzir carvão vegetal que, e finalmente, se vem buscar na nossa terra? Havendo uma queimada num país limítrofe, as autoridades administrativas e tradicionais locais tornam-se objecto de processos disciplinares, civis e penais. Leaders tradicionais e as suas linhagens podem-se ver destituídos do poder.

 Pelas estradas da Zambézia, Tete, Manica, Sofala, Cabo Delgado encontro dezenas de camiões de grande tonelagem carregando troncos em bruto. Numa ocasião entreguei à autoridade legal competente as provas fotográficas de corte de madeira na floresta reservada de Derre, na Província da Zambézia. Derre já não existe. Quanto vale um troco exportado, por quanto se vende a tábua serrada, a madeira trabalhada para móveis, janelas, portas? Quanto perdemos em valor acrescentado e em postos de trabalho? Quem beneficia do que não passa de negociatas mais ou menos sujas?

Li que a procuradoria vai investigar se entidades nacionais estão ligadas a estas práticas nefandas. Esperemos que não se enterrem processos!

Lembram-se do INFLOMA, criado por Machungo e por mim em Manica e, na época a empresa mais avançada de toda a África Austral? Lá se aproveitava até a casca e as raízes da árvore. Os nossos bandidos armados, a mando do apartheid, queimaram as florestas que alimentavam a fábrica.

Facilitar as licenças simples não resolve os problemas, não impõe que se gerem valores acrescentados sobre a madeira, não cria empregos, não instala tecnologia de ponta no país, beneficia apenas uns poucos. Há que interditar a exportação dos troncos e das matérias-primas, devemos defender o interesse nacional, hoje e para amanhã. Um país não morre porque A ou B possuem boas contas bancárias, dentro ou fora do país. Morre quando esgota os seus recursos.

Para dar conteúdo às palavras e políticas, arregacemos as mangas:

1.   Sancionemos as autoridades administrativas e comunitárias que nada fazem para prevenir as queimadas, deter os prevaricadores. Puna-se o comandante e não o soldado raso.

2.   Fixem-se e controlem as metas locais para a reflorestação.

3.   Providenciem-se as espécies para reprodução e verifique-se com regularidade o que se faz na escola, na povoação, na família. Afinal até existem presidentes de localidade e extensionistas rurais!

4.   Obrigue-se a quem corta que plante o dobro da área explorada, com as mesmas espécies e verifique-se o cumprimento.

5.   Proibir a saída de troncos em cada província, só autorizar a saída de madeira serrada.

6.   Interditar a exportação de trocos e madeira serrada, impondo que aqui se prepare o pré-fabricado para mobílias, caixilharia, portas, janelas, parquês.

Proteger a flora, defender as florestas, criar emprego na indústria madeireira, introduzir tecnologias de ponta para o processamento dessa matéria-prima deve-se tornar norma e exigência permanente.

Delicada a questão do carvão para a cozinha das famílias.

No final dos anos 70 e inícios de 80 o Ministério da Agricultura na cintura de Maputo criou algumas reservas florestais com acácias e outras plantas destinadas à produção de carvão vegetal para consumo.

Fizemos. Hoje não se mostra possível retomar e melhorar essa iniciativa, da capital do país até a todas povoações? Não se pode utilizar o expansionista para executar a tarefa? Não se pode abrir este campo para uma iniciativa privada em parceria com as comunidades?

Não arregaçarmos as mangas e fazer conduz-nos a lamentarmo-nos tarde mais. Os nossos netos e o país merecem melhor. Não aceitemos registarem-nos como predadores dos recursos florestais de Moçambique.

Para isso o meu abraço,

Sérgio Vieira

P.S. O país especializado em dar ao mundo lições de democracia e direitos humanos faz parte do top da lista dos campeões das mortandades, dentro e fora do seu território.

Fora da sua terra semeia democracia e direitos humanos com mísseis e aviões não tripulados, carnificinas de gente inocente e que, quando mortos velhos, crianças, mulheres, homens desarmados alcandoram-se à categoria duvidosa de danos colaterais. Lá, pelo paraíso, cada ano sucedem-se vários massacres, um dos mais recentes em Newtown, onde dezenas de crianças se viram chacinadas por um miúdo louco.

Qual a solução democrática e respeitadora de direitos? Seguranças armada nas escolas, acompanhada pela resposta da iniciativa privada. Mochila para-balas para as crianças. Quantos quilos pesarão as blindagens das mochilas de uma criança de 7 anos?

Por favor, menos lições, menos violência, mais sensatez, para isso o meu abraço,

SV

Re. P.S. Em Angola, contra uma dessas múltiplas seitas pretensamente religiosas o Governo, em virtude de uma mortandade ocorrida num serviço dito religioso, decidiu suspender a seita, abrir um processo-crime por negligência e publicidade enganosa.

Aqui? Houve mortos na inauguração dum templo, com ATM na porta.Vários dignatários do negócio, governação, juristas e outros acorrem aos serviços, a ver se lhes sai uma garantia de posições e benesses.

Pela honradez, o meu abraço,

SV

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