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SOBRE BÊNÇÃOS OU MALDIÇÃO RECURSOS HUMANOS

Por admin

Falando de recursos, o primeiro de entre eles está no trabalho, no saber fazer. Estamos brutalmente carentes de recursos humanos qualificados.

 

A Suíça, o Japão, a Holanda dispõem de muito poucos recursos naturais, mas fazem parte do lote avançado de países desenvolvidos e prósperos graças ao saber fazer. A China e a Índia progridem graças ao saber fazer.  

O nosso sistema de educação nasceu das nossas experiências nas zonas libertadas.

Depois e pressionados e bem de fora, tudo se abandonou e copiou-se e mal o que estávamos a importar, descontextualizando-se as situações. Lembram-se que quando os nossos estudantes saíam do país e lá fora todos elogiavam a sua qualidade na matemática, os nossos livros estavam bem avançados. Tirou-se a nossa produção literária do ensino, substituindo-a pela portuguesa, ignorando a brasileira, angolana, cabo-verdiana, são-tomense. Eliminou-se a literatura de combate porque politicamente incorrecta!

Até conseguimos chegar a Bolonha correndo para o que o estrangeiro nos diz, deitando fora o que sabíamos! Verdadeiras lavagens de cérebro e promoção da ignorância. 

Produzir para aprender e aprender para produzir melhorfazia parte da essência do nosso ensino.

Falamos de Manyanga, Gruveta, que fizeram e dirigiram Tunduro, pois Tunduro não vivia de donativos mas do que produzia a escola com muitas centenas de alunos, tal como Bagamoyo. Compreenda-se o que fizeram Nachingweia, Tunduro, Bagamoyo, as escolas e as bases nas zonas libertadas.

Ninguém vivia de donativos. Produzíamos e até exportávamos para os países vizinhos.

Termina-se hoje a sétima classe desconhecendo a tabuada e ignorantes da gramática. Vai-se à faculdade em busca de um diploma para se ganhar algum. Universitários que não escrevem dois parágrafos sem 3 erros de ortografia. Pagamos em função de um diploma e não do saber fazer. Ganha menos um técnico de laboratório experimentado do que um biólogo que nunca tocou num microscópio mas apresenta uma licenciatura. Os laboratórios e bibliotecas desapareceram das nossas escolas, conhecem-se os microscópios por fotos e não se lê um livro, porque os preços tornaram-se proibitivos. Um estudante universitário raramente compra ou sabe usar um dicionário.

Fazem-se agrónomos que nunca estiveram por cima de um tractor, porque não havia dinheiro para combustível, jamais plantaram um grão de milho ou uma planta de algodão, veterinários que jamais mugiram uma vaca ou criaram uma galinha. Queremos o quê?

Geólogos, engenheiros de minas, engenheiros mecânicos, eletrotécnicos tornaram-se fauna quase inexistente, tal como os quadros médios de construção, mecânica, electricidade.

Conseguimos a barbaridade de se criarem mais universidades do que escolas básicas e médias técnico-profissionais. Absurdo haver mais estudantes no ensino superior do que no técnico profissional. Depois e apenas depois de entregarmos concessões mineiras lembramo-nos de formar os nossos quadros.

Quem ganhou? As estatísticas.Os de fora. Quem perdeu? O país.

Qualquer empresa trata como custo no seu orçamento os salários e viagens e pagamentos para reforma dos quadros estrangeiros que para cá trazem, por inexistência dos nossos.

Os custos dessas gentes imputam-se aos gastos da empresa, deduzem-se dos impostos que nos deveriam pagar.

Dizem o CIP e o IESE que os moçambicanos a trabalharem numa conhecida transnacional pagam mais impostos com base nos seus salários, do que essa empresa que bem amortizou os seus investimentos, graças às isenções fiscais. Algo de mirabolante!

Creio que se inverteu a pirâmide do conhecimento, das necessidades do mercado, dos requisitos para um desenvolvimento sustentável.

Enchemos o país de desempregados com 12.ª classe e importamos o torneiro. Pululam diplomados nas ciências sociais e vemo-nos forçados a buscar fora do país o geólogo, o engenheiro de minas, o electricista. Moçambique paga esses valores transferidos para o estrangeiro e ainda desconta nos impostos das empresas.  

Sabemos pois o que nos prejudica, o que maltrata o interesse do país, dos jovens buscando emprego e que com 12.ª classe se contentam em trabalhar como servente de café. Os próprios professores que nunca tocaram num reagente, num microscópio, num tractor, que não compraram um livro, não possuem um dicionário, o que pode transmitir e ensinar?

Abraço o esforço para um ensino verdadeiro, uma força de trabalho real,

  

P.S. Já não existe Império Britânico e o actual governo não prendeu, torturou e assassinou quenianos. Isso aconteceu nos anos cinquenta, durante o Governo de Sir Harold Macmillan. Todavia e, após dez anos de litígio, o Tribunal Supremo em Londres ordenou que o Governo pagasse indemnizações a 5.228 vítimas da repressão. Igualmente o actual Primeiro-Ministro britânico, em público pediu perdão pelos massacres de sikhs em 1919 em Amritsar na Índia. A Alemanha de hoje pagou à Namíbia compensações pelos massacres de Hereros antes da I Guerra Mundial. O Tribunal Internacional de Haia em 2011 ordenou a Holanda pagar compensações pelas vítimas da repressão colonial.

Quando veremos a África do Sul e Portugal de hoje assumirem que cometeram crimes nos nossos países e pagarem indemnizações às vítimas? Ainda existem sobreviventes de Mueda, Wiriyamu, Mkumbura, Inhaminga etc. Ainda vivem sobreviventes em Moçambique dos crimes cometidos pelo apartheid. Estes crimes classificados como crimes contra a Humanidade não prescrevem e chegou o tempo do TPI pensar neles.

Um abraço à reposição da Justiça,

R.P.S.Todos os dias lemos e ouvimos mortandades com chapas envolvidos ou embarcações sem condições.Não chegou o momento da autoridade despertar? Quantos mais mortos se mostram necessários?

Um abraço para o termo das chacinas,

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