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RECORDANDO A MINHA AVÓ IGNORANTE MAS NÃO ANALFABETA

Por admin

Eu, Sabedoria, habito com prudência e disponho de conhecimentos e de conselhos” Provérbios. 8:12

Segundo o censo de 1970, e portanto muito antes da nossaIndependência Nacional acontecido há quarenta anos, e, de acordo com dados oficiais de diferentes instituições nacionais, ficamos a saber que,a população de Moçambique era constituída por cerca de 9 Milhões de habitantes, (8 168 933 para ser mais exacto, dos quais apenas 200.000 eram portugueses). E, aTaxa de analfabetismo rondava os93%, e não incluía os 200.000 Portugueses.Comparando o conceito sobre oanalfabetismo na óptica dos Portugueses da era Colonial e o da UNESCO hoje, parece coincidirem, pois para ela, (UNESCO),uma pessoa analfabeta, é: “aquela que funcionalmente  não pode participar de todas as actividades nas quais a alfabetização é requerida para uma actuação eficaz no seu grupo e comunidade, e que lhe permitem, também, continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo a serviço do seu próprio desenvolvimento e do desenvolvimento da sua comunidade”. Donde se pode inferir que seráanalfabeta, aquela pessoa que não domina a técnica e a ciência, (que não fala inglês, não domina a linguagem informática, portantopessoaignorante em certas matérias ainda que fale ou escreva várias outras línguas nacionais, Xitswa, Ci Nyanja, Ci Chopi, Ci Makonde, por aí adiante). Só por ”funcionalmente  não poder participar de todas as actividades nas quais a alfabetização é requerida, (língua Inglesa ou Portuguesa, acrescentamos nós),”. Esta é, na óptica (Unesca), uma pessoa Analfabeta. Uma pessoa Burra para usar a terminologia portuguesa colonial. O conceito de pessoa analfabeta do tempo colonial, era toda aquela que não soubesse falar e escrever a língua portuguesa e ponto final! A minha avó por exemplo, que já em 1926 dirigia com mérito a “Va Rabeka”, uma espécie de TUNA orfeónica que existiadesde a fundação da Missão Metodista Livre de Inhamachafo em 1885, (tendo como instrumentos, Swi Khitsi, Massala e Cabaças, além das vozes femininas), sempre repleta de espírito e responsabilidade,e já agora da qual (avó) eu aprendi a ler a Bíblia e a escrever em Xitswa, não obstante, porque não falava português, era considerada Analfabeta. Portanto, todos os “Va Fundisa”, que evangelizavam e convertiam dezenas de pessoas a Cristo, porque não dominavam a Língua Portuguesa, engrossavam a estatística dos 93% de analfabetos em Moçambique colonial!Eis o mote da nossa “lucubração” de hoje: o conceito de pessoa analfabeta. Será quenão dominar certo ramo do saber, implica necessariamente ser uma pessoa analfabeta! Ou analfabetismo inclui pessoas ignorantes!? É verdade que aignorância segundo Ruy Barbosa de Oliveira polímata brasileiro eum dos maiores jurisconsultos do mundo, é: “ A chave misteriosa das desgraças que nos afligem; é a mãe da servilidade e da miséria”, mas daí a incluir uma pessoa ignorante na lista dos analfabetos, parece não ficar bem na fotografia como sói dizer-se!Na Caderneta Indígena, que era o documento de identificação dos autóctones, os “Pretos”, com 24 páginas, a páginas 7 estava reservada às ”Habilitações Literárias”. Para quem não se expressasse na língua portuguesa, ainda que escrevesse outras, constava que: “só sabe ler, escrever e contar (2º.grupo) ”. Para os habilitados com a 4ª.Classe, vinha: “possui o Exame da 4ª.Classe do Ensino Primário Complementar (4º.grupo) ”. Hoje, diz-se: “Moçambique reduziu a taxa de analfabetismo de 53 para 48.1 por cento,”. A nossa curiosidade é de saber se pessoas do grupo da minha avó, que as há aos montes por esse Pais adentro, continua ou não a ser considerada analfabeta!? Eis a questão…

Kandiyane Wa Matuva Kandiya
nyangatane@gmail.com

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