Texto de Carlos Uqueio
Vivemos um tempo em que a segurança deixou de ser apenas portas trancadas e muros erguidos. Hoje, ela traduz-se em olhos electrónicos que nunca dormem, câmaras que vigiam cada passo dentro e fora de casa. Essas máquinas prometem tranquilidade, protecção contra assaltos e sensação de paz. Mas o mesmo olhar que deveria proteger pode também aprisionar.
Foi o que aconteceu com um casal que viu a sua intimidade transformada em espectáculo secreto. Confiaram num técnico para instalar câmaras em toda a residência, até no quarto, espaço que deveria permanecer inviolável. O profissional fez o trabalho, entregou as chaves digitais, mas guardou para si a senha de acesso. Daí em diante, passou a assistir à vida do casal como quem espreita por uma janela proibida, roubando-lhes a liberdade nos momentos mais íntimos. A verdade só veio à tona após um furto, quando a investigação policial lhe arrancou a confissão.
O episódio é perturbador não apenas pelo crime em si, mas pelo que revela sobre a fragilidade da confiança. A tecnologia, que deveria ser escudo, converteu-se em arma. Em vez de garantir protecção, abriu espaço para o abuso e a violação da dignidade humana. O que se perdeu não foi apenas privacidade, mas também a paz de ser seguro dentro do próprio lar. Leia mais…