Opinião

Olá paz

A Comissão Permanente da Diocese dos Libombos reunida a 27 de Novembro, primeira sessão após o dia 4 de Outubro em que a Diocese participou com muito empenho nas celebrações 

do 20º aniversário da restauração da paz, e reconhecendo a urgência de publicamente dizer-se que estamos decididos a deliberadamente nos esforçarmos a consolidar a paz, divulga a seguinte exortação:

Juntamos a nossa humilde voz à voz de outros intervenientes para dizer que a paz é para hoje, amanhã e para sempre, e nenhum de nós se pode considerar irrelevante para se pronunciar sobre quão bela e preciosa a paz é.

A nossa reflexão é uma forma de dizer que a Diocese dos Libombos da Igreja Anglicana continua cada vez mais disponível para garantir que os que são pela paz têm em nós parceiros da paz manifestando-se disponível para garantir que quem é pela paz terá nossos aplausos e cooperação.

Historiando

Passados que foram 20 anos depois do Acordo Geral da Paz, esse acontecimento que marca o fim do tempo de temor e ódio que os anos de guerra semearam no seio da população moçambicana, período durante o qual muitos moçambicanos perderam seus pais, filhos e outros entes queridos, para não falar de bens materiais, é momento para reflectir sobre o real significado da paz e ensaiarmos mecanismos que os possam conduzir à sua manutenção e consolidação.

Esse momento em que o ecoar dos canos das armas e o seu poder destruidor fizeram com que as crianças deixassem de ir à escola, os seus rostos trocaram o sorriso pelas lágrimas, para não falar da destruição de escolas, hospitais e de outras infra-estruturas quer sociais quer privadas. Só para dar um exemplo ligado a nós, a Igreja Anglicana perdeu um terço das suas congregações durante a guerra.

As vidas humanas inocentes que foram ceifadas, as actividades que deixaram de ser desenvolvidas e os bens que foram destruídos são outros dos exemplos que podem ser trazidos para nos alertar sobre os benefícios da paz.

Significado da paz

A paz não significa apenas a ausência de guerra, tem um significado mais profundo.

Para o indivíduo, a paz significa tranquilidade de espírito, liberdade de poder fazer o que lhe parece melhor para si, dentro dos limites que Deus, a lei e a sociedade lhe impõem.

Paz significa poder estabelecer a sua machamba para o sustento da família, significa poder estabelecer a sua própria empresa ou estabelecer sociedades comerciais, poder construir a sua própria casa de habitação, entre muitas outras coisas.

 Para os pais, paz significa ver seus filhos saudáveis e felizes, ver seus filhos a poderem brincar e ir à escola sem medo nem receios de poderem ser violentados durante o percurso de ida ou regresso da escola, sem incertezas quanto ao que lhes vai acontecer ao saírem de casa, e, quando crescidos, poderem realizar-se na vida.

Para a sociedade, paz significa ver cada cidadão a edificar-se, quer através do acesso à educação, à saúde, quer através do desenvolvimento dos serviços básicos necessários para uma vida condigna de cada cidadão.

Paz significa desenvolvimento social a todos os níveis.

Acreditamos na paz cruciforme, isto é, paz consigo mesmo, paz com o próximo conhecido ou desconhecido, paz com Deus, e paz com a natureza. A paz tem dimensões pesoais, sociais, espirituais e económicas ou culturais.

Apelo ao diálogo

Tal como o velho ditado o diz a falar é que a gente se entende, devemos privilegiar o diálogo, como concidadãos. Devemos saber conviver com as diferenças. A TOLERÂNCIA, PACIÊNCIA e o PERDÃO devem orientar a nossa maneira de ser e estar como moçambicanos que somos. Aceitação e respeito mútuos seriam a outra maneira dizer diálogo.

Na família, os pais devem dialogar com os filhos, mostrando-lhes os benefícios da paz e exortando-os a não se deixar usar como instrumentos de violência, mas sim da paz.

Na sociedade, nas escolas, hospitais e nos locais de trabalho, de culto e recreio a cultura da paz com um bem social deve ser cultivada e incentivada e incentivada.

Desarmemos as nossas mãos e as mentes. Aqueles que detêm armas sem a necessária autorização de porte e uso, devem libertar-se delas, e transformarem-se portadores de mensagem de paz.

Os que têm mentes armadas com espírito de violência, incitando e recrutando jovens para actos criminosos, utilizando discursos carregados de mensagens de violência, acusações de feitiçaria devem abandonar esse espírito e tornarem-se mensageiros da paz.

Não devemos permitir que as mãos e mentes armadas periguem a paz.

Devemos responder às incitações da violência com Olá paz.

Escolhamos a vida, respeitando a santidade da vida humana toda ela.

Choca-nos, sobremaneira, que se estejam a registar casos de assaltos de residências, viaturas e instituições, frustrando as iniciativas daqueles que se esforçam por adquirir património para suavizar as demandas da vida e assim repousar, viajar ou trabalhar em paz. Estes assaltos têm que parar para sempre! Ninguém deve aceitar receber ou comprar objectos de origem duvidosa, venham eles de familiares ou vendedores.

A manutenção e valorização da paz

Como moçambicanos, devemo-nos comprometer em eternizar a paz para todas as gerações que virão depois de nós.

Por isso, devemo-nos comprometer a fazer de todos os dias, dias de consolidação deliberada paz.

Não deve haver um dia vazio ou de incerteza muito menos de ameaça sobre a paz em todo o calendário do ano.

A paz é bela e barata para se manter, e é sempre construtiva. A violência, pelo contrário, não só é feia e cara de se manter, mas também é sempre destruidora.

Hoje temos crianças que, na busca da felicidade e de uma vida mais digna no futuro, frequentam o ensino primário ou secundário em condições deploráveis, estudando sentadas no chão, outras ainda ao sol, ao frio e à chuva, algumas das quais de tronco nu, devido à destruição das suas escolas e do respectivo mobiliário, ou devido à negligencia de quem devia cuidar destes bens que afinal são símbolo de tranquilidade quando bem usados e conservados.

Temos jovens que ingressaram para o ensino superior; outros ainda que constituem a maior força de trabalho em várias empresas.

É nossa responsabilidade como indivíduos, como famílias, como igreja, como sociedade, garantir que o sonho destas crianças e jovens se torne uma realidade no futuro e isso só ó possível se a paz for preservada e valorizada.

Movimento Olá Paz

Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus. Mt 5,9.

Cada um de nós, Moçambicanos, deve ser a paz em si mesmo, mantendo o espírito de pacificadores, seguindo a cultura e os passos da paz dizendo Olá Paz, quando nos encontrarmos uns com os outros ou quando iniciamos os nossos trabalhos de tal modo que o espírito da paz vivi sempre em nós.

Aliás, esse é um dos legados que Jesus deixou com os seus discípulos quando disse: Paz seja convosco. (Lucas 24:36;João:19,21 e 26).

Aquando da criação, Deus olhou para tudo o que havia criado e concluiu que era tudo muito bom, o que significa que tudo estava recheado e revestido da paz.

 Assim somos todos exortados a garantir que como era no princípio, é agora e será sempre: Paz, Paz, Paz, porque afinal, a alternativa da paz é a própria paz.

Façamos de todos os dias DIA DA PAZ e abandonemos a tentação de abraçarmos actos e atitudes de violência.

Que a PAZ inunde e revista a cada um.Bênção em Nome do Príncipe da Paz, Jesus Cristo.

*Diocese dos Libombos

Comunhão Anglicana em Moçambique

 

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